O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai discursar pela quinta vez no 25 de Abril, com Portugal em estado de emergência, depois de há um ano, na mesma ocasião, ter pedido mais ambição.
A sessão solene comemorativa do 46.º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da República está marcada para as 10:00 de sábado, com um número de presenças reduzido devido à pandemia de covid-19, cabendo ao chefe de Estado, como é habitual, a última intervenção da cerimónia.
Na semana passada, Marcelo Rebelo de Sousa renovou pela segunda vez o estado de emergência em Portugal, até 02 de maio, e disse esperar que fosse a última no atual contexto de crise de saúde pública, que já qualificou como porventura o “maior desafio dos últimos 45 anos” que o país enfrenta.
Numa alusão à Revolução dos Cravos, o Presidente da República defendeu que no atual contexto também é preciso “em abril ganhar a liberdade que é objetivo de todos os portugueses: numa democracia o máximo de liberdade na sua atuação no dia a dia”.
O chefe de Estado tem elogiado o comportamento dos portugueses e dos responsáveis políticos no combate à propagação da covid-19, considerando que tem havido “espírito de coesão e de unidade”, e relativizou os votos contra a segunda prorrogação do estado de emergência de PCP, Iniciativa Liberal e da deputada não inscrita Joacine Katar Moreira.
“Mesmo os que hoje divergem, no primeiro e decisivo momento não se opuseram. É isso que ficará para a História”, sustentou.
Na sessão solene do 25 de Abril de há um ano, Marcelo Rebelo de Sousa avisou que as novas gerações recusam “clientelismos e adiamentos crónicos”, assumindo-se como porta-voz dos jovens de 2019, e pediu “mais ambição na democracia, mais ambição na demografia, mais ambição na coesão, mais ambição na era digital e na antecipação do futuro o emprego e do trabalho, mais ambição na luta por um mundo sustentável”.
Quando se estreou nas cerimónias do 25 de Abril como Presidente da República, em 2016, também invocou as novas gerações, na abertura da sua intervenção, a propósito do cravo vermelho que levava na mão, e não ao peito – num gesto que repetiria nos anos seguintes.
Marcelo Rebelo de Sousa declarou que esse cravo lhe tinha oferecido por jovens e simbolizava o “muito que está por fazer”.
Numa altura em que o anterior Governo minoritário do PS suportado pela esquerda parlamentar também estava ainda em início de funções, o chefe de Estado apelou a “consensos setoriais de regime” em áreas como a saúde, o sistema financeiro, a justiça, a segurança social e o sistema político.
Em 2017, elogiou as “vitórias” nas finanças e economia, mas apelou a “maior criação de riqueza e melhor distribuição”, assim como a mais transparência, rapidez e eficácia por parte de “todas as estruturas do poder político”, para prevenir os “chamados populismos anti-institucionais”.
Em 2018, o Presidente da República insistiu na renovação do sistema político e voltou a alertar que “os vazios que venham a ser deixados pelos protagonistas institucionais alimentarão tentações perigosas de apelos populistas e até de ilusões sebastianistas messiânicas ou providencialistas”.
As suas referências a “messianismos de um ou de alguns” e ao “endeusamento ou vocação salvífica” levaram o primeiro-ministro, António Costa, a observar: “É muito difícil interpretar a arte moderna e nem sempre é possível interpretar os discursos modernos”.
No dia seguinte, Marcelo Rebelo de Sousa explicaria que nesse 25 de Abril fez um discurso de prevenção de “populismos, messianismos e sebastianismos” tendo em conta o quadro internacional, acrescentando que essa mensagem foi bem compreendida, aliás, por um jovem de 20 e poucos anos que encontrou quando foi nadar.