A Casa dos Açores do Quebeque, na província canadiana mais atingida pela Covid-19, vê-se a braços com a falta de liquidez, tal como muitas instituições sem fins lucrativos, mas tem tido uma resposta positiva por parte dos associados a quem pediu um donativo para ultrapassar a situação depois de três meses encerrada. Fundada em 1978 com o objectivo de difundir e manter a cultura açoriana, continua a ser esse o principal desígnio das suas actividades recreativas, sócio-culturais e gastronómicas. Contudo, refere o Presidente Alfredo Ponte, a principal dificuldade como instituição é atrair a juventude pensado no futuro. A propósito da constituição do Conselho da Diáspora Açoriana, Alfredo Ponte considera o projecto uma mais-valia por considerar que “ter um Conselheiro dedicado à Comunidade açoriana fará com que os açorianos sintam que a sua voz conta”.
A Casa dos Açores do Quebeque é uma das mais antigas. Como surgiu?
A Casa dos Açores do Quebeque foi fundada em 18 de Julho de 1978 em Montreal por cinco açorianos de alma e coração e cujo principal objectivo foi o de difundir e manter a cultura do povo do Arquipélago dos Açores nas comunidades portuguesas de Montreal, da Província do Quebeque e do Canadá. Os responsáveis de então foram os seguintes: Tadeu Rocha, Carlos Saldanha, Joviano Vaz, Manuel Contente e Maria Elvira Saldanha Teixeira. Infelizmente, os senhores já faleceram.
Os motivos que levaram ao surgimento da Casa no Quebeque ainda se mantêm? Cada vez mais? Ou não?
A missão, em geral, continua a mesma. Entretanto adaptações têm surgido através dos anos com um foco importante presentemente na proximidade dos açor-descendentes e os Açores, assim como a nossa abertura aos seniores da nossa comunidade.
Ainda tem membros que se lembrem da constituição da Casa dos Açores? Ainda fazem parte da Casa dos Açores?
Sim, temos membros pioneiros que anteriormente presidentes, continuem a participar nos eventos da Casa dos Açores do Quebeque (CAQ). Por exemplo, Guilherme Alves Cabral, António Tavares, Manuel António Pereira, Emanuel Martins, Dora Barão, Gil Couto, João Damião Sousa e Benjamim Moniz. Para além deste grupo, a CAQ continua a ser frequentada por vários membros dos conselhos de administração anteriores assim como membros em data da fundação da Casa.
Quem é associado actualmente da Casa dos Açores? Tem apenas gente com raízes açorianas ou também os canadianos fazem parte?
A maior parte são açorianos ou descendentes. Temos alguns membros do continente português assim como da Madeira. Por enquanto não temos membros canadianos a não ser a presença de alguém convidado pelos nossos membros. Entretanto a CAQ está aberta para os canadianos. A notar que todas as nossas actividades são em português usando o francês e o inglês quando necessário.
Que dificuldades sentem actualmente enquanto instituição?
A maior dificuldade é a de atrair a juventude e encontrar maneiras motivadoras para manter e atrair novos membros. A transição entre a CAQ de hoje e a CAQ do futuro também apresenta certos desafios: com que rapidez e receptividade podemos prosseguir, sem perder o interesse dos membros; a transição entre os seniores e os mais novos nem sempre possível por falta dos jovens.
Que actividades costumam desenvolver? Quem as frequenta mais? Apenas açorianos ou descendentes ou a comunidade do Quebeque já se une em torno das vossas actividades?
Entre outras actividades, tais como recreativas, sócio-culturais, gastronómicas, etc, destacam-se o Rancho Folclórico “Ilhas de Encanto” que tem actuado na nossa comunidade desde 1997, e o grupo de membros da terceira idade “Reviver” que já tem 15 anos de vida. As nossas actividades, em geral, são frequentadas pelos nossos membros e amigos que podem incluir algumas pessoas da comunidade quebequense mas são poucas.
O Rancho Folclórico “Ilhas de Encanto” – encontra-se semanalmente, na sede da Casa, ensaiando as danças tradicionais Açorianas, aperfeiçoando assim actuações futuras.
O Grupo “Reviver” encontra-se bimestral e a Casa proporciona uma perspectiva de abertura e um espaço onde se possam encontrar e conviver por algumas horas promovendo o bem-estar numa convivência sã e num ambiente saudável, com actividades físicas e exercícios mentais à medida das suas capacidades. Almoço com ementa tradicional Açoriana é servido. Temos também jantares típicos – todas as sextas-feiras.
Actividades pontuais: Matança do Porco; Dia Internacional da Mulher (homenagem a uma mulher da comunidade pela sua essência de mulher); Dias das amigas/amigos; Excursão à Cabane à sucre (tradição Quebequense); Festival Portugal Internacional Montreal – participação incluindo quiosque promovendo produtos açorianos (queijos, atum, Queijadas da Vila, chá, etc.); Festas em Honra do Divino Espírito Santo; Piqueniques no parque local durante o Verão, promovendo a gastronomia açoriana; Semana Cultural – destacando a cultura açoriana com participação local e do exterior; Noite de Fado; Serões promovendo artistas locais ou do exterior; Serões informando os membros sobre assuntos de interesse ou da actualidade, por exemplo, planificação de protecção e transmissão do património, fiscalização, opções de investimento, emigração, penúria de mão d’obra, etc.; Artes plásticas (aulas de pintura a óleo, acrílica, incluindo exposições); Aulas de Zumba.
A CAQ também colabora com associações dentro e fora da nossa comunidade. Exemplo, oferecemos sopa típica durante a Journée santé et entraide em colaboração com o Centre Chiropratique Fleury Ouest, oferecemos o nosso espaço gratuitamente para assembleias de vários grupos comunitários, etc.
Tiveram de cancelar alguns eventos devido à pandemia? Em que medida isso afectou (ou vai afectar) a liquidez da Casa dos Açores?
A CAQ encontra-se encerrada desde o dia 14 de Março. A liquidez foi gravemente afectada e recentemente informamos os nossos membros da situação pedindo um donativo e a resposta, ainda fresca, está sendo positiva.
Sendo um organismo sem fins lucrativos, a CAQ depende das receitas das várias actividades, quotas e donativos. Enquanto o edifício está pago, as despesas fixas continuam.
Que ligação mantém a Casa aos Açores?
A CAQ é membro do Conselho Mundial das Casas do Açores e como tal tem o Governo Regional como um parceiro e disponível a nos apoiar em várias circunstâncias.
Relativamente ao projecto do Governo Regional da constituição do Conselho da Diáspora Açoriana. Em que medida será importante para aproximar os açor-descendentes e açorianos espalhados pelo mundo em redor dos Açores e da sua cultura?
Consideramos o projecto uma mais-valia.
Achamos que quanto mais os açor-descendentes estiverem a par do que se passa nos Açores, o que os Açores pode oferecer como produtos, possibilidades de investimento, etc., tanto os Açores como os outros países onde residem as nossas comunidades, beneficiarão. Ter um Conselheiro dedicado à Comunidade açoriana fará com que os açorianos sintam que a sua voz conta.
Que projectos têm para o médio prazo? Ou para quando a pandemia terminar?
A médio prazo continuaremos com a nossa missão, constantemente explorando maneiras diferentes de promover a cultura açoriana numa nova normalidade. O regresso será feito prudentemente porque a maior parte dos nossos membros são seniores na casa dos 70 anos de idade ou mais, e vulneráveis. A sede da CAQ sendo relativamente pequena terá que reduzir a ocupação mantendo o distanciamento necessário e pondo em prática todas as medidas que protegerão os nossos membros. A província de Quebec foi a mais atingida pela Covid-19 no Canadá com 54,054 das 99,147 pessoas infectadas e 5,242 das 8,145 mortes. Isto até ao dia 16 de Junho.
Como está a viver a comunidade açoriana esta pandemia aí no Quebeque?
A nossa comunidade é uma comunidade cautelosa. Em geral, estamos ao corrente que alguns seniores falecerem devido à COVID-19 e, infelizmente, viviam em residências para seniores. Um dos nossos antigos administradores foi um destes exemplos. Quanto aos nossos membros, em geral, seguiram/seguem as medidas de precaução prescritas pelo nosso director geral de saúde pública, o Dr. Horácio Arruda (açor-descendente – os pais, já falecidos, eram naturais da Relva em São Miguel).
O nosso Conselho de Administração entra em contacto com os membros e enquanto seguem as medidas, estão prontos a ter mais liberdade e têm muitas saudades dos convívios na Casa dos Açores.
Quem é o Presidente Alfredo Ponte? É açoriano? Com começou a sua ligação com a Casa dos Açores? Qual a sua profissão? Como consegue conciliar a Presidência da Casa dos Açores com a sua profissão/vida profissional e vida pessoal? Costuma vir aos Açores? Encontra diferenças entre os Açores que deixou ou que já conheceu e a visita mais recente?
Alfredo Ponte é natural da Maia em São Miguel e a sua ligação com a Cada dos Açores do Quebeque é desde o início da sua fundação. Tem ocupado o lugar de administrador e Presidente do Conselho Fiscal e de Deontologia através dos anos. É Presidente desde 2019. Alfredo Ponte é reformado, estando disponível para gerir a CAQ. Visita os Açores frequentemente pois tem família na Ilha de São Miguel. As diferenças entre os Açores que deixou e os Açores de hoje são enormes. Por um lado todos os espaços que recorda ainda existem e por outro lado os Açores evoluíram como todos os países no mundo.
Nada falta e a linda natureza permanece.
O povo açoriano também está completamente ligado para o resto do mundo. Coisa que não existia no seu tempo. A tecnologia informática tornou o mundo muito mais pequeno e as populações próximas umas das outras de maneira constante.
texto por: Carla Dias
Atlântico expresso