Um clássico é sempre um clássico e a história está repleta de exemplos de duelos em que o favorito acaba surpreendido por um rival aparentemente fragilizado. Porém, até Jorge Sousa apitar para o início do primeiro confronto entre candidatos ao título na I Liga 2019-20, só os mais pessimistas benfiquistas ou os mais optimistas portistas apostariam que o FC Porto iria chegar ao Estádio da Luz e, com muita personalidade, assumiria o papel de caçador, colocando o Benfica amedrontado e a praticar um futebol medíocre. Num jogo em que Marchesín se limitou a um par de defesas fáceis durante os 90 minutos, Zé Luís (22’) e Marega (86’) marcaram os golos de um triunfo (0-2) inequívoco do FC Porto.
Após um início de época perfeito para o Benfica (três jogos oficiais e três vitórias) e com duas idas ao tapete do FC Porto (Gil Vicente e Krasnodar), o normal seria esperar uma equipa benfiquista confiante e autoritária, em contraponto com uma formação portista enfraquecida e atemorizada. O que se viu na Luz foi o contrário.
Tal como tinha acontecido contra o Sporting na Supertaça, a “águia” entrou com as garras recolhidas e exposta às armas do rival. A diferença é que, enquanto no Algarve todas as investidas do “leão” nos primeiros 45 minutos foram infrutíferas, mérito de Vlachodimos e demérito dos sportinguistas, em Lisboa o “dragão” entrou de orgulho ferido e precisou apenas de um par de investidas para desferir um golpe letal.
Se, do lado benfiquista, a aposta de Bruno Lage no mesmo “onze” das partidas anteriores não surpreendeu, as escolhas de Sérgio Conceição eram menos óbvias e o técnico portista deu o primeiro sinal de ambição ao colocar contra o Benfica exactamente os mesmos 11 jogadores que tinham começado na jornada anterior contra o V. Setúbal. Na prática, apesar da entrada de três caras novas (Uribe, Díaz e Zé Luís), Conceição replicava a estratégia que tinha resultado em Krasnodar, com Romário Baró a ser um falso extremo — o internacional sub-20 português fechava quase sempre no meio, permitindo que Corona fizesse todo o flanco direito.
A audácia e ambição portista foi visível do primeiro ao último minuto. Com pressão constante sob o portador da bola e as linhas bem subidas, o FC Porto conseguia impedir que o Benfica fizesse três passes certos seguidos e, aos 7’, Marega e Baró construíram o primeiro lance de perigo. Com a boa entrada em jogo, os portistas ganharam confiança, o desacerto benfiquista foi-se acentuando e os “dragões” continuaram a ameaçar. Aos 17’, Rúben Dias neutralizou uma jogada de perigo de Díaz; aos 21’, foi Vlachodimos que travou um bom remate de Zé Luís. O FC Porto estava claramente melhor e, com justiça, marcou: na sequência do primeiro canto portista, Ferro cabeceou contra as costas de Rúben Dias e a bola sobrou para Zé Luís na pequena área. Com calma, o cabo-verdiano fez o quinto golo nos últimos três jogos.
A ganhar, o FC Porto baixou a pressão e deixou o Benfica assumir o jogo, mas o festival de chutos e pontapés dos “encarnados” estava apenas a começar. Sem construir uma jogada com princípio, meio e fim, o melhor que as “águias” conseguiram na primeira parte foi um cabeceamento de Seferovic por cima da baliza do tranquilo Marchesín.
Depois de uma das piores primeiras partes de que há memória do Benfica na Luz nos últimos anos, Lage trocou Samaris, que tinha ido para o intervalo com queixas físicas, por Taarabt. Com o marroquino, os “encarnados” ganharam (um pouquinho de) qualidade na construção, mas o futebol benfiquista não saía da mediocridade e, para não variar, era Vlachodimos o guarda-redes que tinha trabalho: aos 48’, o internacional grego voltou a salvar o Benfica com uma grande defesa a remate de Luis Díaz.