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6   CRÓNICAS                        LA VOIX DU PORTUGAL LE 21 SEPTEMBRE, 2023 | THE VOICE OF PORTUGAL, 21  OF SEPTEMBER OF 2023
                                                                                                                     ST
        DE VILÃO A HERÓI
        As Mil e uma Metamorfoses com que se Vende Prigozhin



                      HÉLIO BERNARDO LOPES               para mim estranhas – eram objetivamente desnecessá-  o resto, passado na América Latina, ou os crimes mais
                      Jornalista em Portugal             rias – as posições que vêm sendo assumidas pelo nosso  diversos praticados, ou silenciados, pela Igreja Cató-
                                                         Embaixador Francisco Seixas da Costa, que não tem,  lica Romana, ou os praticados, às pazadas, por Israel,
                             grande batalha da Ucrânia  de facto, razão quando aponta, até reiteradamente, que  a Estratégia de Tensão, operada na década de 60 pela
                             veio trazer ao dia-a-dia dos  aquela estação é, no panorama do tipo, das mais plu-  OTAN na Europa, etc.. Nem um minuto de tempo de
                      A rtugueses o conhecimen-          rais.                                            antena! Em todo o caso, e agora, um herói: Prigozhin
                             po
                      to do que é uma ação política de pro-  Este canal televisivo tem um lugar privilegiado no  é já um herói.
                      paganda internacional, veiculada,  domínio da apresentação  de  documentários sobre  a   No meio de tudo isto, a piada – e o descaramento,
        no seio da sociedade portuguesa, sobretudo, pelos  Federação Russa, ou sobre Vladimir Putin, indo mui-  claro está – de continuar a designar o Ocidente como
        Estados Unidos e seus Estados dependentes da Eu-  to mais longe nesta sua ação que a SIC Notícias com  um espaço de liberdade, onde está presente a designa-
        ropa.                                            alguns dos seus programas 60 MINUTOS. Uma rea-   da comunicação social livre. Para já não referir a de-
         Uma propaganda que chegou ao ponto de instituir  lidade que se vê acompanhada da completa ausência  mocracia e o Estado de Direito, temas já hoje deveras
        uma censura sobre a informação de origem russa,  de trabalhos sobre realidades histórico-políticas en-  gastos e de mui baixa credibilidade junto dos cidadãos.
        como se deu com a Sputnik e com a RT.            volvendo gravíssimos  casos  de  violação de Direitos  E em vagas crescentes. Um dado é certo: temos a de-
         Mas também, e até um pouco por todo o Mundo,  Humanos no Ocidente, como Guantánamo, Os Seis  mocracia...
        nas pressões destinadas a apagar do mapa informativo  de Birmingham, Abugrahib, Os Quatro de Guilford,
        quanto possa ligar-se à Rússia, incluindo os seus aspe-  Os Sete Maguire, os argelinos assassinados em Paris   Deixem
        tos culturais, também com os desportivos.        pela Gendarmerie, em plena sede, com os corpos lan-
         No panorama televisivo nacional o grande centro de  çados ao Sena de seguida, ou os mil e um crimes da
                                                                                                          Eça Em Paz
        ação desta medida tem sido a CNN Portugal, sendo  Junta Militar do Chile, ao tempo de Pinochet, ou tudo



                                                                                                          HUMBERTO PINHO DA SILVA

                                                                                                                arece ser afronta aos descendentes do escri-
                                                                                                                tor. - As autoridades, com apoio da Fundação
                                                                                                          PEça de Queiroz, querem transladar os ossos
                                                                                                          do autor dos: " Maias", para o Panteão, alegando ser
                                                                                                          figura nacional.
                                                                                                           Todavia a família não concorda, declarando – que o
                                                                                                          antepassado deve permanecer onde se encontra desde
                                                                                                          1989 – após três transladações, – no cemitério de Santa
                                                                                                          Cruz – Baião, em jazigo de família, ao lado da querida
                                                                                                          filha Maria e do neto Manuel, estando dispostos a re-
                                                                                                          correrem à Justiça, caso seja necessário.
                                                                                                           Para já enviaram ao Presidente da Assembleia da Re-
                                                                                                          pública, carta assinada pelos bisnetos, invocando que
                                                                                                          era vontade do bisavô ficar em Baião. Argumentando,

















                                                                                                          ainda, que os restos mortais pertencem, legalmente, á
                                                                                                          família e não ao Estado.
                                                                                                           Entretanto as autoridades parecem querer trasladá-
                                                                                                          -lo, a 27 de setembro, para Lisboa.
                                                                                                           Que Eça é merecedor de permanecer no Panteão,
                                                                                                          onde repousam ilustres escritores e figuras notáveis da
                                                                                                          nação, ninguém dúvida, mas parece-me que a home-
                                                                                                          nagem póstuma deve ter o acordo da família.
                                                                                                           Desconheço porque, mesmo contra a vontade dos
                                                                                                          descendentes, querem prestarem-lhe essa honra, e
                                                                                                          deixando, há décadas, esquecido, quase abandonado,
                                                                                                          o maior prosador da língua portuguesa, Camilo Caste-
                                                                                                          lo Branco, de quem Castilho escreveu: " Sim senhor! é
                                                                                                          mestre e cem vezes mestre, e de todos os nossos clássi-
                                                                                                          cos nenhum há que eu leia com tanto gosto e aprovei-
                                                                                                          te." - in: " Carta a Camilo, Lisboa, 02/01/1866.
                                                                                                           E o grande Unamuno, referindo-se ao:” Amor de Per-
                                                                                                          dição", afirma: " Es uno de los libros fundamentales da
                                                                                                          literatura ibérica." - " Por Terras de Portugal Y Espana".
                                                                                                           Não entendo certas atitudes, a não ser que haja razões
                                                                                                          que desconheço.
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