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A VOZ DE PORTUGAL | 26 DE OUTUBRO DE 2023                                          COMUNIDADE         13
        Carminho – a Portuguesa



                      RAÚL MESQUITA                      residente no estrangeiro, aonde se fala uma Língua di-  os instrumentos musicais
                                                         ferente da inglesa europeia, mas que a grande Amália  dos guitarristas portugue-
                             inha eu   preparado sobre o  não menosprezava. Ora, o ditado diz, “Com uma caja-  ses, brincando — o termo
                             joelho um pequeno questio-  dada matam ou mataram-se, dois coelhos”          — com as suas guitarras
                      Tnário destinado à Carminho.         Comecemos então os relatos mais importantes duma  de  12  cordas.  Tocaram
                       Eram 8 ou 9 ingénuas questões que  vida artística que começou logo à nascença, pela sua  em solo para gáudio dos
                      poderiam  servir  —  a  mim  que  não  mãe também fadista. Porque muita gente estaria habi-  clássicos e dos lusos pre-
        gosto de entrevistas nem de me imiscuir na vida de  tuada a ouvir a Carminho — diminutivo de Maria do  sentes.
        cada um — a melhor conhecer a alma fadista da artista  Carmo — nome próprio dado à nascença, e por isso   Passamos a seguir para
        que nos visita pela segunda vez. Creio que felizmente  várias pessoas insistiram com a sua mãe para que le-  a interpretação face ao
        a Carminho — possuidora da Comenda do Infante  vasse a cachopa até o programa novos fadistas no Co-  Papa,  aquando  da  visi-
        D. Henrique — comenda dedicada às entidades que  liseu. E uma bela tarde ela lá foi cantar o “embuçado  ta papal às Jornadas da
        mais tenham valorizado Portugal no exterior, decidiu  “. Com gente do Governo e Presidente da Républica.  Juventude aonde esteve
        transformar o pequeno texto de perguntas, em relatos  Êxito, grande êxito desde logo aplaudido pela impren-  muito bem, como profissional praticante, como crente,
        de episódios vividos na sua vida artística. O que está  sa. E a jovem fadista de palmo e meio, bem assente  cantando a canção escolhida face a um milhão e meio
        certo. E, como diz o ditado bem português, que a se-  nos seus 12 anos, creio, encontrava-se bem vestida na  de assistentes e ao Senhor Santo Cristo, dando ocasião
        nhora comendadora me desculpe este português dum  sua blusa branca e saia azul-escura como uma aluna  à expulsão da sua emotividade. Ela cantou uma Prece
                                                         de qualquer secundário privado. Tremendamente  em Honra ao Senhor. Simplesmente fantástico.
                                                         nervosa e contente de ver a mãe entre a assistência da   Maria do Carmo, Carminho, considerou depois o
                                                         plateia. Cantou e encantou, diremos nós.         concerto no Outremont como um acontecimento de-
                                                          Mais tarde, já mulher, encontrou-se casualmente  pendendo dela, certo, mas também, dos espectadores
                                                         com uma jovem acabada de chegar a Lisboa atraída  porque, segundo a artista, ela vem cheia de boa vonta-
                                                         pelo movimento da capital e absurda pelas semelhan-  de e dará o melhor de si mesma esperando que o nu-
                                                         ças do convívio facilitado por amigo advogado que  meroso público colabore e entenda que o Francês não
                                                         entusiasmou Carminho a tocar guitarra — o que nun-  será uma prioridade para uma fadista. Ela vai cantar
                                                         ca tinha feito — e a cantar um fado, antigo, com letra  o Fado. E Fado é Português. Só que, se dissesse umas
                                                         nova que ela escreveu. Fala deste encontro como sen-  palavrinhas em Francês, teria sempre o público (es-
                                                         do algo muito intenso, com recordações semelhantes  trangeiro) com ela.  É só.
                                                         e com a transversalidade de andar à volta de um fado   Fazendo um resumo de todos estes concertos, reali-
                                                         bastante antigo com letra nova.                  zados um pouco por todo o mundo, a artista pensa
                                                          Lembra depois, alguns dos espectáculos em que par-  que todos eles — enumerou uns quantos — servem
                                                         ticipou, não só no Coliseu, para além do já mencio-  sempre para cativar e encorajar outras promoções, le-
                                                         nado que teve a assistência da mãe, num concerto em  vando o bom e o belo através do mundo, esse mundo
                                                         Hamburgo, creio, em que os músicos clássicos a acom-  não só Português mas onde a Língua é falada com or-
                                                         panharam durante largo tempo, olhando com atenção  gulho e clarividência.
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