Hoje dia 4 de Julho de 2022, exactamente um mês antes de perfazer os 93 anos de idade, faleceu às 16 horas, de morte medicalmente assistida, Bitália Mónica Munhá Barqueiro.
Nascera numa casinha da Estrada Principal, no Chão da Parada. O pai, nativo das Gaeiras e de apelido Munhá, foi para Moçambique à procura duma vida melhor e por lá ficou. A Ti Joaquina Mónica, teve de sustentar e educar 2 rapazes e uma rapariga, a Bitália. Todos foram à escola, e a Bitália, repetia-me com justificado orgulho que chegou mesmo a servir na aldeia como regente escolar, naqueles anos cinzentos e escuros que eram a realidade lusitana do início da década de 40 do Séc. XX.
Cedo abandonou a aldeia, foi trabalhar para as Caldas. Mulher linda, a mais linda da aldeia, como me dizia a minha mãe, começou a aprender a arte da costura. Encontra um rapaz, nativo de Porto de Mós e com familiares na Nazaré, exactamente da mesma idade que ela. O Armando Barqueiro, jovem trabalhador e ambicioso, ia trabalhando e estudando de noite. Acabou o curso secundário em Alcobaça, e chegou mesmo a frequentar o Instituto Comercial de Lisboa, antecessor do ISCAL. Sempre a trabalhar e a estudar à noite. No início da década de 60 é-lhe proposto ir gerir uma Roça de Cacau em São Tomé. Visionário e antevendo o que viria a acontecer, recusa a oferta e tenta a aventura da emigração no Canadá.
De vez em quando vinham ao Chão da Parada visitar a mãe da Bitália, a Ti Joaquina Mónica, irmã da minha avó, Margarida Mónica que estava casada com o José Reboleira. Numa dessas visitas, em 1970 ou 1971, andava o meu pai em pequenos trabalhos nos restaurantes da nossa zona. O Vera Cruz, seu ganha pão durante longos anos, já tinha deixado de viajar para as Colónias. Eu ainda andava a estudar em Lisboa e os custos eram incomportáveis para os parcos ganhos que meu pai obtinha na terra. A prima da minha mãe, propõe então ao meu pai, tentar a sua sorte em Montreal. Mas o meu pai já tinha na altura 52 anos, idade em que muitos já pensam na reforma. Até à sua morte, disse-me sempre que foi a melhor decisão que tomou em toda a vida. Em 1972 parte ilegal, para o Canadá. A minha mãe foi logo a seguir e eu em 1975 fui lá visitá-los, depois de regressar da tropa em Angola e dumas curtas férias em Paris, onde fui visitar a minha companheira duma vida. O resto é tema para outras crónicas.
Voltando à Bitália e ao Armando, foram a nossa âncora nos primeiros tempos de vivência neste maravilhoso país. Foram os nossos padrinhos de casamento no dia 24 de Novembro de 1979, e estiveram sempre ao nosso lado, nos bons como nos maus momentos. O Armando já partiu há mais de 17 anos, vítima de doença que não perdoa.
A Bitália depois duma vida bem vivida em Montreal, e dividida por passagens em Macau, no Rio de Janeiro, na Nazaré, nas Caraíbas, um pouco por todo o lado, mas muito, muito tempo, na bela praia de Deerfield Beach na Flórida, onde ainda guarda o apartamento à beira-mar, onde eu e a Mariazinha também passámos bons momentos, passou os seus últimos dias no quarto 1709, dos serviços paliativos do ultra moderno e recentemente inaugurado Centro Hospitalar da Universidade de Montreal (CHUM).
Descanse em paz, madrinha e prima.