É um desafio com muitas peças, mas a primeira que tem de encaixar, talvez a mais difícil de todas, é encontrar 17 dias livres no cada vez mais sobrelotado calendário desportivo do próximo ano.
Para já, continua tudo em aberto na janela que o COI definiu para a realização dos Jogos: só em 2021 e nunca depois do Verão. O problema é que o próximo ano já está carregado com outros eventos de 2020 que foram adiados e com os que já estavam originalmente planeados para 2021.
“O que está combinado é que nós queremos organizar estes Jogos, o mais tardar, no Verão de 2021. Não estamos restringidos aos meses de Verão. Todas as opções estão na mesa, antes e durante o Verão de 2021”, admitiu Bach um dia após os Jogos de Tóquio terem sido desmarcados das suas datas originais (24 de Julho a 9 de Agosto) devido à expansão global do novo coronavírus.
O programa olímpico é composto por 33 modalidades, cada uma delas com o seu próprio calendário definido pela respectiva federação internacional, algumas com mais peso que outras. Duas das mais importantes (e que nunca acontecem ao mesmo tempo nos Jogos), atletismo e natação, têm agendados campeonatos mundiais em 2021 — os Mundiais de atletismo em Oregon, nos EUA, são entre 6 e 15 de Agosto; os de natação, em Fukuoka, são entre 16 de Julho e 1 de Agosto. Ou seja, se a primeira intenção é manter os Jogos Olímpicos no Verão, os mundiais de atletismo e de natação (que acontecem de dois em dois anos e em anos ímpares) terão de mudar.
Da parte do atletismo, mudar não será um problema, garante Sebastian Coe, presidente da World Athletics.
“Temos discutido o assunto com a organização no Oregon sobre novas datas e mesmo mudar os Mundiais para 2022. Temos de ser flexíveis”, frisou o antigo fundista em entrevista à Sky Sports. Menos flexível parece ser a FINA, que gere os desportos aquáticos (natação, natação sincronizada, saltos para a água e pólo aquático). Mundiais em 2022? “Não, não, não, não, não, não”, é a resposta de Cornel Marculescu, director técnico da FINA, citado pela Associated Press. “Se os Jogos forem no Verão, teremos de mudar datas.
Se forem no início do ano, se calhar nem mexemos nas datas”, explicou o romeno.
O futebol, mesmo não sendo uma modalidade olímpica por excelência, também pode ser um problema para os Jogos Olímpicos. Todas as grandes competições (de clubes e selecções) anteciparam-se ao COI e já têm o seu calendário definido para 2021. O Euro 2021 já reservou as datas entre 11 de Junho e 11 de Julho, as mesmas da Copa América, e, por isto, a FIFA já vai ter de mudar as datas do seu novo Mundial de clubes — iria disputar-se entre 17 de Junho e 4 de Julho. Isto para não falar de todos os campeonatos nacionais e competições continentais de clubes que estão em stand-by e que ainda não têm data para voltar à actividade. E quem fala de futebol fala de outras modalidades, colectivas e individuais, em que os atletas têm muito a perder em termos financeiros, se abdicarem das provas que lhes dão o sustento pelos Jogos Olímpicos. O calendário do ténis, por exemplo, está em suspenso e é uma incógnita como vai ser em 2021, e o mesmo acontece com o basquetebol.
A Liga Norte-Americana de Basquetebol (NBA) é um campeonato multimilionário no qual alinham os melhores do mundo (norte-americanos e não só) e que também ainda não tem data para regressar. Como o seu sustento depende muito das transmissões televisivas, dificilmente a NBA irá abdicar dos seus jogadores se a competição coincidir com os Jogos Olímpicos, e pode bem seguir o exemplo da Liga Norte-Americana de Hóquei no Gelo (NHL), que proibiu os seus jogadores de participarem nos Jogos de Inverno de 2018, em Pyeongchang.
A outra grande dificuldade é articular a prova olímpica com todos os processos de qualificação que ainda estão em aberto para os Jogos de Tóquio. Cada modalidade tem as suas especificidades de apuramento, seja por provas de qualificação, seja por rankings ou por marcas obtidas em ano olímpico. 57% dos atletas previstos em Tóquio têm já a qualificação garantida, faltando apurar 43%. E há países que, por terem uma poule de talento muito alargada em algumas modalidades, fazem os seus próprios campeonatos para definirem quem vai aos Jogos — como os norte-americanos, que fazem trials olímpicos no atletismo e na natação.