Recentemente, fui entronizado na Confraria do Vinho do Porto como Cavaleiro em reconhecimento pela minha dedicação e serviço ao Vinho do Porto e por ser editor do jornal mais antigo do Canadá. Compreensivelmente, fiquei incrivelmente honrado no dia 3 de maio de 2019, mas o meu convite também veio com várias perguntas sobre o que é exatamente a Confraria do Vinho do Porto. Por esta razão, gostaria de compartilhar uma breve explicação sobre o que é a Irmandade do Vinho do Porto e o que a entronização significa para mim.
O grande movimento para criar a Confraria do vinho do Porto iniciou-se em 1945, mas só em 1964 surgiram condições para se pensar numa Confraria de Vinhos, entre os comerciantes do Vinho do Porto. No entanto, apesar do processo estar todo organizado, existiam nesse tempo, muitas dificuldades para se criar uma Confraria independente. Finalmente em Novembro de 1982, o sonho foi realizado, com a constituição da Confraria do Vinho do Porto e sua instalação no Palácio da Bolsa, na cidade do Porto.
Como personagem tutelar foi escolhido o Infante D. Henrique, terceiro filho de D. João I, nascido no Porto. O seu carácter indomável que inspirou as mais extraordinárias viagens marítimas, coincide com o espírito universal do Vinho do Porto. Estabelecida com o propósito fundamental de “difundir, promover e consolidar o nome do Vinho do Porto em todo o Mundo”, a Confraria acolhe no seu seio, pessoas e entidades que pela sua atividade na produção e exportação de Vinho do Porto, bem como pela sua ação, reputação e serviços em favor do Vinho do Porto, contribuem para o seu conhecimento e prestígio da sua imagem. Lembre-se, irmandades não são exclusivas para o vinho em Portugal. Há irmandades para muitas coisas, incluindo: doces tradicionais, queijos, carnes, arroz e vários outros produtos gastronómicos – tudo com a intenção de trazer uma maior consciência para o produto Português em todo o mundo. Enquanto algumas irmandades são bastante antigas, nascidas de guildas e outras associações, outras são novas e ajudam regiões / produtos a preservar a sua identidade num mundo onde a tradição é frequentemente deixada de lado em troca de facilidade, preço e conveniência.
Então, como funciona a irmandade? Destaca aqueles que trabalham em empresas de Vinho do Porto e reconhece aqueles que promovem o Vinho do Porto, como jornalistas, retalhistas e defensores. Com base na sua classificação, a confraria confere um título específico. Para ser claro, a fraternidade é apenas o título oficial, há definitivamente algumas irmãs na confraria. Para ser nomeado para a irmandade, seu nome precisa ser apresentado por um membro da irmandade. Somente pessoas com o posto de Mestre podem nomear um novo membro e cada nova indicação precisa ser aprovada pelos outros Mestres, ou mais corretamente, não objetar. O meu “padrinho” foi o Cônsul-Geral de Portugal em Montreal, António José De Carvalho Barroso, uma pessoa exemplar e sinto-me muito honrado em ser nomeado.
Grau dos CONFRADES
Quando os Confrades se reunem, oficialmente, convocados pelo Chanceler, tem lugar um Capítulo, onde são tomadas todas as decisões relevantes para a Confraria, sendo anualmente efetuada a admissão de novos Confrades.
Sejam Chefes de Estado, personalidades de destaque ou institucionais, comerciantes individuais, administradores ou directores de empresas, todos eles recebem o nome de Confrades e é-lhes atribuído um título e grau.
OS CONFRADES HONORÁRIOS
Os Confrades Honorários – personalidades ou entidades que não estando ligadas diretamente às empresas, se distinguem pelo seu prestígio, status ou serviços prestados ao Vinho do Porto – são distinguidos pelos graus de Cancelário, Infanção e Cavaleiro.
CANCELÁRIOS
São todos os Chefes de Estado ou representantes das Casas Reais que pela sua projeção emprestam notoriedade à Confraria e ao Vinho do Porto. A Confraria do Vinho do Porto possui 46 Cancelários entre os quais Mário Soares, Jorge Sampaio, D. Duarte Duque de Bragança, o Rei Juan Carlos de Espanha, o seu filho, Príncipe Filipe, o Rei e o Príncipe Belgas, o Príncipe Henrik da Dinamarca, entre outros.
INFANÇÕES
São todas as individualidades ou instituições de relevo que de forma significativa tenham contribuído para a divulgação, prestígio e dignificação do Vinho do Porto ou que pelo seu prestígio pessoal, ou pelas elevadas funções que desempenham, mereçam ser distinguidos com este grau – O Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, a Câmara Municipal do Porto e a Associação das Empresas de Vinho do Porto, são alguns exemplos.
CAVALEIROS
São todos, os que não estando abrangidos pelos graus anteriores, mereçam ser distinguidos pela sua dedicação e serviço ao Vinho do Porto.
OS CONFRADES EFETIVOS
Confrades Efetivos são pessoas que exercem a sua atividade profissional no comércio e exportação do Vinho do Porto, como comerciantes em nome individual, como administradores ou gerentes de sociedades. Aos Confrades Efetivos é atribuído grau de Mestre, caso sejam administradores ou gerentes das sociedades ou, o grau de Experto, caso sejam funcionários superiores das empresas comerciais de Vinho do Porto.
Os Mestres e os Expertos são os Confrades Efetivos que escolhem entre si a Chancelaria que é o Orgão dirigente que administra e representa a Confraria do Vinho do Porto.
Para além dos seus Estatutos, a Confraria possui, como regulamento interno as Usanças, que constitui a regulamentação pormenorizada de todas as ações e atividades da Confraria do Vinho do Porto. Estas Usanças definem o traje de cerimónia dos Confrades, inspirados no vestuário do seu patrono, o Infante D. Henrique, constituído por: Chapéu preto de grandes abas, de cuja copa sai uma fita larga de cor preta que pousa sobre os ombros. Os Confrades que integram a Chancelaria usam fita creme enquanto ocupam o cargo, passando a fita bicolor – creme e preta – quando deixam de exercer funções; Capa grenat debruada a fita preta; Distintivo com o emblema da Confraria, colocado à altura do peito, sobre a capa do lado esquerdo; – Fita colocada ao pescoço, verde rubra da qual pende tambuladeira de formato tradicional para Vinho do Porto, do século XVII.
Este traje é usado obrigatoriamente pelos Confrades Efetivos. Os Confrades Honorários com o Grau de Cavaleiro usam fita com as cores verde rubra da qual pende uma tambuladeira.
A todos os Confrades é distribuído um diploma único, no qual é indicado o grau que lhe cabe e assinado pelo Chanceler e Almoxarife.
O vinho do Porto é uma bebida especial. Algo que é verdadeiramente difícil de descrever até visitar o Porto e, mais importante, o Vale do Douro. Em qualquer evento um Porto de Honra é primordial e importante para dignificar o evento. No 58º aniversário do jornal A Voz de Portugal honrámos esta tradição e que todos gostam. São nestes momentos que podemos falar, comer e beber com amigos, simpatizantes e homens de negócios.
A Cerimónia de Entronização da Confraria do Vinho do Porto é o evento mais importante e teve lugar no Hotel Ritz em Montreal no dia 3 de maio. Os novos Confrades que foram propostos por um Mestre ou pela Chancelaria (máxima honra) e aceites em reunião de Capítulo, são convidados para esta cerimónia para serem entronizados, onde é lido o seu CV pelo Fiel das Usanças e recebem as insígnias das mãos do seu Mestre proponente. Assinam de seguida o Livro de Honra da Confraria e recebem o seu Diploma, entregue pelo Chanceler.
Não esquecendo todos os novos membros que entraram na confraria que são todos grandes homens e mulheres que fazem muito em nome do vinho de Porto. Tal como o embaixador João Da Câmara; Guenael Revel, personalidade bastante conhecido no mundo dos vinhos e especialista em champanhe; a muita simpática e conhecida Helena Loureiro, importadora de vinhos e que tem dois grandes restaurantes de alta qualidade (Portus 360 e Helena); Roch Bissonnette; o antigo ministro das finanças do Quebeque Carlos Leitão; o Cônsul-geral de Portugal em Montreal António José De Carvalho Barroso; Armando Arruda; Carmine Caravaggio; Caroline Chagnon; o empresário Emanuel Linhares do JOEM e também presidente da Caixa Portuguesa Desjardins; Hermínio Alves, proprietário do restaurante Lisboa Porto; Michelle Boufard, sommelière, professora e colunista de vinhos na RDI, CBC, Global TV, ICI Radio-Canada e CTV; Patrick Désy, colunista de vinhos para o jornal de Montreal; Pier-Alexis Soulière, um verdadeiro mestre em vinhos (maître sommelier); Sylvio Martins do jornal A Voz de Portugal; Darcy Laranjeiro, do restaurante Casa Minhota; Dora Silva da companhia importadora Alivin; Denny Nunes Lopes; José Francisco Valeriano; Micael Soares do restaurante muito conhecido na margem sul de Montreal Cervejaria; Paulo António Gaspar Santinhos; Alexandre St-Pierre, proprietário da companhia Vinicolor.
De seguida todos fazem um juramento solene de lealdade, com um cálice de Vinho do Porto nas mãos – “Juro solenemente dar o meu apoio à Confraria e continuar a lutar pela dignificação do Vinho do Porto”. Dado que o Vinho do Porto é envolvido por todo este espírito, a Cerimónia e o discurso do Chanceler terminam sempre com o mesmo brinde – “Pelo Vinho do Porto – Pela Confraria – Pelos Confrades”. Finda a Cerimónia, todos os Confrades e convidados formam um cortejo, até à sala de Gala.
Bebendo, comendo e conversando, todos os presentes finalizaram esta linda noite com um último brinde. É evidente que a cerimónia de entronização foi memorável e encontrar o Sr. George Thomas David Sandeman foi realmente um momento marcante na minha vida.
Texto: Sylvio Martins