CRÓNICA AO SABOR DA VIDA

Escrever sobre a importância da UTL-Universidade dos Tempos Livres em Montreal é repisar o que já foi dito e redito vezes sem conta. Contudo, nunca é de mais relembrar certas mensagens de grande relevância que focam aspectos essenciais que não devem cair no esquecimento pois são o argumento fundamental da existência desta grande obra.
Num artigo – da minha autoria – publicado no suplemento, comemorativo do 25º aniversário da igreja Santa Cruz, que foi integrado no jornal A Voz de Portugal (16 de Novembro de 2011), estão bem explícitas e fundamentadas as razões que levaram à criação do Centro Comunitário Santa Cruz e mais tarde, da UTL – Universidade dos Tempos Livres.
(…)
“Em vez de começarmos o nosso trabalho pela construção de uma igreja – lugar de culto de encontro de cristãos – começámos por um Centro – lugar de encontro de todos.
A Missão de Santa Cruz impõe-se como um organismo vivo, capaz de responder a muitas interpelações da nossa comunidade e não será mais um gueto de tipo religioso. Esta Missão é determinante na fisionomia da Comunidade Portuguesa de Montreal.
O primeiro passo dentro do nosso projecto que abrange o cultural, o religioso e o social, está dado.
Esta inauguração simples do maior edifício comunitário português em Montreal ficará marcando os anais da nossa história.
Gostaríamos que fosse um ninho de arte e cultura este Centro.
Quanto mais os portugueses assumirem a sua cultura mais possibilidades têm de se integrar nesta sociedade.”
(Nota do Boletim da Missão, datado de 21 de Outubro de 1984 por altura da inauguração do Centro Comunitário, certamente da autoria do padre José Manuel)
(…) Mais à frente, friso no mencionado artigo:
«Estas são palavras que não caíram no esquecimento, felizmente. Foi este “espírito primário” de ser um agente interveniente nas actividades sociais e culturais da Comunidade que sempre se manteve vivo e que, desde o primeiro instante, norteou a vida do Centro ao longo dos anos.
Passados vinte anos, depois de muita luta, dedicação e perseverança, em 2004, após a renovação do Centro, o padre José Maria Cardoso compreendeu ter chegado a hora de dar mais um passo em frente. Um passo de gigante, pode-se afirmá-lo.
Foi assim, naturalmente, com a simplicidade das grandes obras, que nasceu a UTL – Universidade dos Tempos Livres, um projecto que veio colmatar carências prementes da Comunidade e que rapidamente evoluiu e se transformou num pólo aglutinador das mais variadas actividades sociais e culturais.
Em entrevista (2011) a um jornal comunitário, explicou o padre JMC: “Sentimos a necessidade de alargar a área de intervenção da Missão Santa Cruz para podermos abranger mais pessoas que, apesar de não participarem nas celebrações, gravitavam à volta do centro comunitário”. E mais à frente: “A UTL ultrapassa o objectivo primeiro – a dinamização de actividades culturais, para satisfazer o objectivo primário: estar em comunidade, proporcionar o encontro das pessoas.” »
São estas sábias palavras, para não lhes chamar directivas, de abertura e inclusão, que íam ao encontro dos anseios mais profundos da comunidade, que a comunidade não pode esquecer, e que devem continuar a orientar os passos dos voluntariosos continuadores deste belo projecto que, com naturais altos e baixos e alguns sobressaltos de percurso, continua vivo e interveniente, a suscitar o respeito e a admiração da comunidade portuguesa de Montreal.
A boa notícia é que, ultrapassados os grandes obstáculos originados pela pandemia que nos atingiu, tudo indica que as actividades recomeçarão já em Outubro, com uma variada panóplia de actividades para todos os gostos e apetências:
Termino este artigo com uma frase lapidar e de bela talha de Victor Hugo, um antigo frequentador das actividades da UTL, que regressou a Portugal: “…Quando eu plantava uma laranjeira no meu quintal, um vizinho que se aproximou disse-me que eu não estava bom da cabeça, andar a plantar árvores com esta idade. Ora o que ele não sabe é que este ano já comi laranjas da árvore que plantei. Não importa se temos 20,40,70 ou 80 anos, o mais importante na vida é plantar para se poder colher, mesmo se não formos nós os beneficiados.”

Escrito por Manuel Carvalho