Qual será a melhor forma de começar esta crónica?
Talvez falando do livro que só está à espera que a epidemia que nos atormenta nos deixe em paz para ser apresentado à comunidade e deslumbrar, não tenho dúvidas, os seus leitores?
Ou será melhor, desde já, apresentar as suas autoras?
Duas mulheres corajosas a quem o correr dos anos e da vida não impede de continuarem a sonhar e que persistem em acreditar que a arte é uma das mais belas formas de observar e exprimir a beleza do mundo.
Deolinda Xavier Cabo é natural da Fonte, concelho da Palmela. Passou a adolescência em Silves, no Algarve, e depois foi residir para o Barreiro. Nesta cidade, completou o curso de “Formação Geral de Comércio”, tendo-se empregado no ramo do comércio automóvel. Em 1986, emigrou para Montreal, no Canadá.
Escreve desde muito nova e em 2017 reuniu no livro “Versejando” uma parte das suas poesias e tem outros livros em preparação.
Está incluída na Antologia Literária (Autores de origem portuguesa – Québec) e Antologia Literária Satúrnia (Autores Luso-Canadianos).
Colaborou (Poesias) no livro Mãos de Mulher, publicado em 2020.
Foi premiada num concurso literário (quadras) promovido pela Biblioteca José d’Almansor, em Montreal e vem publicando poesia em jornais, nomeadamente no semanário A Voz de Portugal.
Colabora no Núcleo de Leitura da Biblioteca José d’Almansor.
Poeta de grande sensibilidade, mantém vivo o gosto de viver e de se deslumbrar perante a beleza e o encanto do mundo que a rodeia. A sua poesia é espontânea, surge em rompantes, ao jeito dos poetas populares, como água cristalina a jorrar das nascentes.
Maria João Sousa (Majao) nasceu em Faro, na bela província do Algarve e chegou muito nova a Montreal. Quando observamos as suas telas, a água está omnipresente. A água e o céu. Amplos espaços azuis por onde vogam os seus sonhos, numa busca incessante da felicidade e da harmonia. Silhuetas de mulheres esbeltas debruçam-se às janelas da vida, perscrutam mundos oníricos que se adivinham para além da linha do horizonte. As cores são intensas, calorosas, contrastantes, há murmúrios escaldantes, vozes que sussurram promessas, gritos que se soltam e esvoaçam ao encontro da luz como borboletas sedentas de liberdade. Mas também encontramos nas suas telas, num banho de luz e sombras, preciosos detalhes que nos fazem mergulhar no fecundo imaginário da pintora repartido entre dois mundos que se conciliam admiravelmente: janelas mouriscas; ruas calcetadas debruadas por casas brancas e ensolaradas; barcos abandonados nas areias das praias, ansiosos por se lançarem nos braços do mar; a apoteose das amendoeiras em flor; caminhos sinuosos que rasgam bosques flamejantes; lagos tranquilos debruados por árvores que se erguem, aprumadas, para o infinito e se reflectem nas águas profundas; cumes nevados a tocar o céu; a policromia esplendorosa das flores que inundam as paisagens em metamorfoses inebriantes. Já expôs os seus trabalhos em vários locais e nos últimos anos fez a concepção de um bom número de capas de livros que ilustrou com reproduções de telas da sua autoria.
Organizou e colaborou no livro “Mãos de Mulher”, publicado em 2020.
Desde a chegada ao Canadá esteve implicada no ensino nas escolas de língua portuguesa. É uma das coordenadoras da Biblioteca José d’Almansor onde tem colaborado na realização de actividades culturais, concursos literários e edição de livros.
Familiarizados com as autoras, podemos agora voltar à descrição do livro que tem o sugestivo título “Pintar Poemas”. Com capa e uma apresentação gráfica deslumbrantes é composto por cerca de 50 pinturas da autoria da Majao, ilustradas com outros tantos poemas da Deolinda Cabo. É importante realçar que os poemas foram talhados à medida de cada pintura de tal forma que a arquitectura final da obra resulta num conjunto coeso e homogéneo, de grande originalidade, que está bem definido no primeiro poema de apresentação:
A pintura e a poesia
São dois belos passatempos,
Assim, elas se aliaram
P’ra passar uns bons momentos.
Foi com muito entusiasmo
Que começaram a trabalhar,
A pintura, ia pincelando
E a poesia… sempre a divagar.
A pintura, com alma e arte
Foi retratando a natureza,
Enquanto a poesia, mui simplesmente
A descrevia com delicadeza.
Assim, nasceu o nosso livro,
Obedecendo aos dois temas,
O qual recebeu como título
A arte de ’’PINTAR POEMAS’’.
Artigo escrito por Manuel Carvalho