Actualmente, a comunida-de portuguesa de Montreal precisa de sonhadores como do pão para a boca, como se costuma dizer. Em tempos passados, foram sonhadores que sonharam e ajudaram a erguer as obras de que tanto nos orgulhamos e que são o rosto visível da comunidade.
O Parc du Portugal, a Caixa Portuguesa, as nossas Associações, as Missões Santa Cruz e Nossas Senhora de Fátima de Laval, e muitos outros organismos e empreendimentos públicos e privados não teriam visto a luz do dia se as sementes da criação não tivessem germinado e colorido os sonhos de tantos homens e mulheres que não se limitaram às lutas mais rotineiras do dia a dia e tiveram a capacidade, a ambição e a ousadia de olhar para além do horizonte em busca de novas formas de transformar o mundo que os rodeava.
Mesmo que por vezes se diga o contrário, por desconhecimento, falta de auto-estima, ou mesmo maledicência, somos, indiscutivelmente, umas das comunidades mais solidamente implantadas no tecido social da cidade de Montreal. Quantos grupos étnicos há por aí que não gostariam de possuir um património tão estruturado e diversificado como o nosso?
O que nos falta, por vezes, é a capacidade de realçar e projectar para as luzes da ribalta os nossos valores, de afirmar um empreendedorismo sociocomunitário e de desenvolver uma mais visível acção cívica e política.
Será que presentemente já não temos líderes como em tempos idos, capazes de galvanizar a comunidade para a realização de novos empreendimentos que nos prestigiem? Ou não será somente a falta daquilo a que, agora, é moda chamar branding, isto é, a capacidade de encontrar maneira de os outros reconhecerem o nosso valor e capacidades?
Mas tudo leva a crer que nos últimos tempos temos dado bons passos na consolidação do referido e tão indispensável branding . A recente instalação do mural da Amália Rodrigues embora, aparentemente, possa parecer de somenos importância, trouxe uma preciosa visibilidade à comunidade.
Para reforço desta linha de pensamento, transcrevo parte dum artigo que publiquei há alguns anos e que se ajusta perfeitamente ao que venho afirmando no delinear desta crónica:
Em recente voo doméstico, deparei num avião da Air Canada com a revista de bordo En Route que dava honras de capa ao belo e expressivo rosto da luso-canadiana Nelly Furtado, a nova star pop das Américas.
Em longa entrevista, nas páginas centrais, entre outras coisas, a Nelly revelava o seu orgulho nas raízes portuguesas e, embora nascida no Canadá, confessava a admiração que sentia pelo fado e o seu desejo, quase secreto, de um dia ser capaz de cantá-lo, feito a que ainda não se afoitava por o considerar de muito difícil interpretação. Era caso para dizer que com aquela entrevista, insignificante ponta de um enorme iceberg de marketing à escala mundial, a Nelly fizera mais pela comunidade luso-canadiana e dera mais visibilidade à cultura lusófona do que toda uma geração de artigos e discussões caseiros para “português ler e ouvir”.
Calculo que é a urgência de desenvolver este branding que levou Herman Alves a envolver-se na criação do mural da Amália Rodrigues, em Montreal, localizado ao lado do Parc du Portugal, e a querer repetir a feliz experiência noutras comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. A próxima será já em Toronto, no Little Portugal, no edifício da FPTV, obra que quando sair esta crónica já deverá estar concluída.
Mais quem é este homem sonhador? Aqui vos deixo uma breve resenha:
Herman Alves nasceu na Barreira Junqueira, São Bento, Porto de Mós.
Depois de uma curta estadia na Alemanha, chegou, ainda adolescente a Montreal, em 1969.
A família foi viver para o Plateau onde Herman frequentou as escolas locais, enquanto trabalhava part-time nos mais diversos empregos.
Mais tarde, homem de acção, aventureiro, envolveu-se em múltiplas actividades profissionais, sociais, políticas e filantrópicas. É um bem-sucedido empresário nos ramos da restauração e do imobiliário, em Montreal.
Em 2011, publicou o livro autobiográfico “Breaking Stones” – A rollercoaster ride from the stone age to the internet age.
Tem em preparação as obras “Uma história portuguesa saborosa” e “Um burrito ao socorro do mundo.
Presentemente, fervilham-lhe na mente muitos outros projetos no campo musical e literário. Ficaremos a aguardar o desenrolar dos acontecimentos pois este homem é um poço de surpresas cada qual a mais criativa.