Exposição de Artes e Letras

Nos dias 15 e 16 de Junho no Salão da Missão de Santa Cruz a comissão organizadora composta por Gracinda Rocha, Maria João Sousa, José Dias e Manuel Carvalho apresentaram uma exposição cultural que marcou a nossa cultura e a nossa história com trabalhos que tem tudo que é relacionado com arte atuais e antigos frequentadores da UTL (Universidade dos Tempos Livres), uma exposição de livros de autores portugueses da província do Quebeque, foi verdadeiramente um tesouro a descobrir na nossa comunidade e atividades como esta merecem divulgadas com tantos artistas que a comunidade não conhece os lindos trabalhos dos expositores.
Os expositores foram: Isabel Faia, Olga Loureiro, Lídia Ribeiro, Bertina Bulhões, José Roda, Lurdes Abreu, Maria João Sousa, Conceição Rosário, Artur Araújo, Gracinda Rocha, Graça Cruz, Homero da Cruz, Helena Bento, Glória Teixeira, Anália Lopes, Helena Bento, Raúl Mesquita, Domigos Oliveira, Bernadino Caetano, Cândida Martins.
O jornal A Voz de Portugal oferece os parabens à comissão organizadora desta atividade.

Isabel Faia, umas mãos de fada da nossa comunidade
Catherine Jalbert, escritora interessada em tudo o que diz respeito à evolução humana, diz que cada ser humano tem dentro de si um criador bem escondido no fundo do seu subconsciente, esperando pacientemente o momento de ser posto em liberdade. Ora a história da nossa fada confirma esta citação.

Isabel Faia nasceu em Lisboa na freguesia de São Sebastião da Pedreira onde deu os seus primeiros passos. Depois, ainda criança, viveu em Campolide e finalmente mudou-se para Queluz a fim de frequentar o colégio Almeida Garrett onde permaneceu até completar o 7º ano.
No liceu, embora tímida, desde logo demonstrou uma verdadeira aptidão para o desenho e tudo o que se relacionava com a Arte. Terminado o curso de liceu, a porta da Universidade (Belas Artes) estava aberta para ela sem grandes esforços, mas a vida nem sempre é como se imagina e a Isabel em vez de frequentar essa instituição optou pelo trabalho, aliás um bom posto que viera a concurso na Maternidade Alfredo da Costa.

O futuro adivinhava-se risonho, pois a sua ascensão na função pública era fulgurante. Ainda muito jovem, ela obteve um diploma de ensino particular que lhe abriu as portas para um posto de professora e diretora duma escola privada, na região de Lisboa.

Mas a Isabel não se contentou com as promoções sucessivas na função publica. Estudava continuamente para aumentar os seus conhecimentos na organização Ministerial e a vida sorria-lhe. A sua ascensão era fulgurante; logo que um posto superior vinha a concurso, ela concorria e obtinha-o. Ainda muito nova chegou a ser chefe de secção, dum departamento do Instituto da Família e Ação Social, já no topo da carreira da função pública embora sem estudos universitários. A Isabel auferia então um vencimento superior ao de qualquer colega do sexo masculino, o que era raro naquela época.

Entretanto aconteceu a revolução do 25 de Abril e começou o corte nos postos de chefia do seu departamento. As vagas existentes em toda a função pública eram reservadas para os funcionários retornados dos novos países africanos, Angola, Guiné, Cabo Verde e Moçambique. As portas fecharam-se para Isabel em Portugal.

Em 1975, apenas com 38 anos, imigrou para o Canadá trazendo consigo a família e os seus conhecimentos intrínsecos bem como a força de singrar na vida. Lecionou na Escola de Santa Cruz durante 15 a 16 anos e mais tarde no PELO (Programa de estudo de língua de origem) nas escolas de Montreal. Foi através deste programa que surgiu o convite para a visita aos Açores, com o patrocínio do Governo Açoriano.

A vida continuava o seu percurso normal até que um dia surgiu um problema de saúde que a fez procurar no seu subconsciente o amor latente pelas Artes que adormecido pelo tempo esperava só um instante para a salvar, servir-lhe de terapia. No seu interior fermentava o desejo de fazer algo com as suas mãos e ocupar o seu espírito. Foi então que a Isabel se lembrou do que lhe havia dito a sua professora do Liceu: tens mãos de artista, deverias ir para as Belas Artes.
A Isabel respondeu ao chamado do seu subconsciente sem mesmo se aperceber. Quando procurava objetos antigos e revistas para se entreter, encontrou por acaso um anúncio sobre o ensino da Arte Sacra. A partir desse instante a sua vida tomou outro rumo; um novo amor a preenchia, a Arte Sacra, as rendas e os bordados começaram a preencher-lhe o tempo e a saúde voltou.

Na UTL (Universidade dos Tempos Livres) do Centro comunitário de Santa Cruz fez cursos de pintura de azulejos e outros e em Portugal, continuava com os de Arte Sacra. Executou trabalhos com cascas de cebola, escamas de peixe, conchas, pérolas, sedas bordadas a fio de prata e de ouro, rendas, bordado de castelo branco, etc. A sua paixão é ainda tão grande que não lhe resta tempo para se alimentar ou dormir, como diz o esposo.

Hoje a Isabel preenche todos os seus tempos livres ensinando na UTL, tudo o que queiramos saber sobre Artes e Lavores. Ela é a referência no ensino dessa matéria na comunidade.

Não tenho dúvidas que, tal como disse a escritora, a criação que por muitos anos ficara esquecida no subconsciente da Isabel, ressurgiu no momento em que ela mais precisava tornando-se uma verdadeira terapia, fazendo dela a Fada das Artes da nossa comunidade. (Maria-Adelaide Oliveira).

TEXTO: FRANCISCA REIS
FOTOS: MANUEL NEVES