Depois da polémica e do desvario; depois do condicionamento e do insulto; depois da vozearia e dos murros na mesa. Depois disso tudo, dizíamos, o futebol.
Ah, o futebol…
Quase nos esquecíamos todos de que havia uma final. Uma grande final para Taça da Liga, entre FC Porto e Sporting. Com VAR, com decisões difíceis e com o troféu atribuído pelo desempate por penáltis.
Se na roleta do casino a bola pode cair no vermelho ou preto, a «lotaria dos penáltis», essa, dá sempre verde.
Comecemos, porém, pelos 90 minutos que antecederam a grande decisão dos 11 metros. Na Pedreira, o clássico foi um bloco de pedra por burilar. Rude, sem graça, bruto durante boa parte do tempo. Tal como o duelo de Alvalade de há duas semanas, para a Liga, FC Porto e Sporting não protagonizaram um jogo aberto.
FC Porto-Sporting: filme e ficha do jogo
Limitado pelo regulamento, que obriga cada equipa a ter dois jogadores formados localmente, Sérgio Conceição repetiu o onze da meia-final contra o Benfica, com André Pereira no onze – Soares, indisposto, foi substituído no banco por Danilo em cima da hora de jogo.
Keizer, por sua vez, fez duas alterações: o recuperado Bas Dost no lugar de Luiz Phellype, por opção, e André Pinto no do lesionado Mathieu, por contingência.
Desde cedo, a equipa leonina não ficou na expetativa do bloco baixo e pressionava lá na frente a defensiva portista. E ganhou com isso.
Com a primeira fase de construção em alerta permanente, o FC Porto errou de sobra: Vaná, Pepe, Felipe falharam passes em zona proibida, que ainda assim os leões não souberam aproveitar.
Não raras vezes, os dragões (num esquema inicial de 4-4-2 contra o 4-3-3 leonino) optavam pelo jogo vertical e pela bola longa.
Na zona intermédia, Bruno Fernandes desenhava o jogo leonino com régua e esquadro, mas, na frente, faltava eficácia. Óliver do lado contrário fazia o mesmo, aliando a qualidade de passe a um renovado espírito de sacrifício e maturidade tática.
Com o jogo congestionado na zona central, ambas as equipas criavam perigo sobretudo pelos flancos.
Raphinha sobretudo de um lado, Corona e Brahimi do outro. Velozes, habilidosos e sempre em jogo. Ainda assim, as oportunidades rareavam. Só no final da primeira parte surgiram com alguma evidência: André Pereira desperdiçou de cabeça uma jogada primorosa de Corona sobre a direita (39’) e Bruno Fernandes atirou rente ao poste de livre no derradeiro lance da primeira parte.
FC Porto-Sporting: destaques dos dragões
Havia de ser diferente o segundo tempo. Com menos um dia de descanso (e André Pinto a sair lesionado), o Sporting estourou fisicamente… E o FC Porto dominou como quis.
O dragão teve pressa, tomou as rédeas do jogo e entrou em modo predador. A partir daí, iniciativa passou a ser toda portista, oportunidades de golo é que nem por isso.
Até que Fernando Andrade, que na meia-final havia entrado para sentenciar o clássico contra o Benfica, entrou desta vez de para marcar e quase encaminhar esta final contra o Sporting.
Herrera chutou, Renan não segurou e passou de herói nos penáltis das meias-finais a vilão leonino naquele instante.
Sem pernas para correrem atrás do empate, os leões apelaram à alma para chegar lá à frente. Até que numa imprudência de Óliver tiveram caída do céu a desejada oportunidade: ao tentar aliviar, o espanhol derrubou Diaby na área, em cima do minuto 90. Com dois vídeo-árbitros a passarem o lance a pente fino – coisa inédita em Portugal – João Pinheiro foi ver as imagens e decidiu-se (bem) pelo penálti, com Bas Dost a empatar já nos descontos.
O leão foi salvo pelo penálti. E depois pelos penáltis – tal como contra o Sp. Braga nas meias-finais.
FC Porto-Sporting: destaques dos leões
Em Braga, o FC Porto, que já tinha estado em vantagem clara de público na passada terça-feira, frente ao Benfica, voltou a estar em maioria e a esgotar o seu setor, com mais de 14 mil adeptos. Porém, a partir daquele instante em que a ponta da bota de Óliver toca na coxa de Diaby, o mar azul emudeceu, como que a adivinhar a tormenta que aí vinha.
Voltando às coincidências e aos penáltis: tal como na época passada, tanto nas meias-finais da Taça da Liga como na mesma fase da Taça de Portugal, o FC Porto caiu diante dos leões na marca dos onze metros.
Para os dragões, fica o trauma não só com esta competição, mas também com os penáltis.
Para os leões, fica o troféu – a segunda Taça da Liga da sua história.
No final, o relvado da Pedreira tornou-se ainda mais verde com o colorido da festa leonina. Nesse exato momento, nem que por breves instantes, voltámos todos a reconciliar-mo-nos um pouco mais de futebol.
Ah, o futebol…