Roberto Mancini e a sua squadra exemplificaram o hino que carregam nos corações. A Itália despertou.
53 anos depois, a seleção italiana voltou a conquistar o Europeu de futebol, ao vencer a Inglaterra, nos penáltis.
Mancini pegou em 2018 numa seleção que tinha falhado um Mundial pela primeira vez na sua história. Uniu-a, criou-lhe um ADN e guiou-a à glória.
Se no sábado tivemos a reedição de uma espécie de Maracanazo, com o triunfo da Argentina na Copa América, esta noite podemos dizer que houve um Wembleyazo.
Há quatro semanas que os ingleses andavam a cantar que o futebol estava a regressar a casa. Mas tal como para os franceses em 2016, a festa antecipada dos ingleses correu mal, no final de contas. Mesmo que a história desta noite tenha começado da melhor maneira.
Inglaterra surpreendeu,
mas só por meia-hora
Aos 116 segundos de jogo, já a formação inglesa vencia.
Gareth Southgate surpreendeu ao optar por uma defesa de três, dando a ala direita a Trippier, apoiado por Walker, o central do seu lado. E a estratégia, diga-se, funcionou na perfeição no início da partida.
E o golo madrugador de Luke Shaw foi ouro sobre azul. A Inglaterra pôs-se confortável no jogo, bem ao estilo de Southgate: expectante, sem forçar muito no momento ofensivo, e sempre a impedir o adversário de mostrar o seu ADN.
Só que isso apenas durou meia-hora. Depois disso, a Bella Italia voltou. Quase até ao fim dos 120 minutos.
Jorginho e Verratti pegaram no jogo, Insigne, apesar de nem sempre muito inspirado, ligou-se muito ao jogo interior e do outro lado, um furacão Chiesa foi empurrando o conjunto inglês para a sua baliza.
Ofensiva como sempre, romântica como sempre, Bella como sempre, a Itália lá chegou ao golo, num lance de insistência de Bonucci.
Tinham-se passado 67 minutos desde o apito inicial, dos quais praticamente metade a Inglaterra tinha abdicado de jogar. Curto, muito curto, principalmente para quem tinha Grealish, Rashford e Sancho no banco.
67 minutos em que, diga-se, a Itália experimentou a sensação de pela primeira vez estar a perder neste Euro, e que em nada abalou a convicção dos ragazzi de Roberto Mancini. Noutros tempos, a Itália muito possivelmente teria-se apoiado no célebre catenaccio, mas não esta Itália.
Esta Itália, repetimos, é Bella. Tentou ser feliz sem precisar da sorte ou do que quer que seja, e esteve perto. Berardi falhou o 2-1 na cara de Pickford a 15 minutos dos 90.
Depois disso, a viagem até aos penáltis foi curta.
Southgate, réu em 96, réu em 2021
Southgate lá decidiu lançar Grealish, e o futebol inglês ganhou alguma alegria. Mas era curto, ainda. Principalmente para quem, repetimos, tinha outros nomes no banco, como Sancho e Rashford.
Pouco astuto, o selecionador inglês, réu em 1996, ao falhar o penálti decisivo nas meias-finais do Euro desse ano frente à Alemanha, também em Wembley, voltou a sê-lo neste 11 de julho, desta vez de forma indireta.
A poucos segundos do final dos 120 minutos, lançou finalmente Rashford e Sancho, com um único propósito: o desempate por penáltis.
Ironia das ironias, os dois jovens falharam os respetivos remates. Jorginho ainda desperdiçou o match point de que dispôs, mas depois Donnarumma agigantou-se perante Saka para escrever a história em italiano.
Depois de uma batalha dura e emocionante, onze metros deram justiça a este Euro. A Itália sucede a Portugal no trono do futebol europeu, e foi Eder, o herói de 2016, a passar o testemunho. Curiosamente, a última derrota da Squadra Azzurra data de setembro de 2018, frente à Seleção Nacional. Coincidência? Talvez não. Os onze metros também não foram.