Recentemente o primeiro ministro António Costa brindou as audiências com uma entrevista à revista Visão onde aparece em magnífica pose fotográfica digna de um Marquês de Pombal dos tempos modernos. Talvez pela (pouca) semelhança entre o fenómeno natural e inesperado que ambos enfrentaram, um com o terramoto, o outro com uma pandemia, mas acima de tudo pela diferença de habilidades, choca a referência comparativa.
O recente caso da secretária de estado do tesouro Alexandra Reis, que sai da TAP com uma boa indeminização, entra logo a seguir para outra empresa do estado (NAV) por apenas seis meses e salta logo para secretária de estado, foi a gota de água que abalou a imagem “nobre” de um governo desgovernado que desde há muito existe por existir sem qualquer ideia, visão ou rumo para Portugal. Esta caso ainda carece de muitas explicações: por exemplo, na nota da TAP à CMVM aquando da saída da administradora Alexandra Reis no início de 2022 dava conta que a administradora saía por vontade própria, enquanto que recentemente a TAP vem afirmar que afinal a saída foi iniciativa da TAP… em que ficamos?
Os múltiplos “desconhecimentos” do caso e do valor da indeminização por parte dos ministérios das infraestruturas e das finanças, ambos com a tutela da TAP, levaram para já à queda de um dos ministros mais fortes do aparelho do PS e ao enfraquecimento do ministro das finanças. Mas as coisas não ficam por aqui: a dança de cadeiras entre secretarias de estado atribuídas a familiares, familiares que pertencem a partes interventivas de determinados processos e a dança de cadeiras entre empresas do estado e governo, mesmo entre ministérios, é por demais chocante! Só não percebo como o povo português não se mobiliza contra esta… anormalidade, para não referir uma palavra mais agressiva. Afinal o povo português aprova isto?
Voltando ao governo, que tem maioria absoluta e que nos primeiros meses tem tido escândalos ao ritmo de pelo menos um por mês, evidencia apenas aquilo que se sabe desde o início: é um governo que existe por existir!
O talento de António Costa reside apenas nisto: um instinto de sobrevivência aplicado à política na gestão de redes de interesses que proporciona o seu prolongamento no lugar decisório.
Mas mesmo ele já se apercebeu que não existe futuro pois ele pensa apenas no presente, apanágio de todos os oportunistas que mais cedo ou mais tarde são apanhados pela bola de neve das suas incongruências.
A saída para a Europa, que seria ótima pois não exigiria a maçada de eleições e portanto o libertaria deste novelo de rede de interesses, permitira governar sem aquilo que já o farta em Portugal.
O problema é o rasto que deixa atrás de si. A incompetência é evidente apesar do talento que acima referimos.
A mostra disso é os dados cada vez mais preocupantes para Portugal apesar dos seus sete anos de governação e de, pelo menos até antes da pandemia, ter sido bafejado por um dos períodos mais favoráveis internamente como externamente.
Os sucessivos casos, que António Costa bem tenta minimizar, refletem isso mesmo: o oportunismo no seu máximo assim como incompetência, secundados por um apego irrefletido a certas ideologias. É interessante notar que talento não equivale a competência executiva, o que neste governo é um exemplo notório.
E o presidente da república, como “supervisor” do bom andamento das instituições governativas entre outras? Recentemente Marcelo Rebelo de Sousa foi interpelado por dois cidadãos portugueses que de forma intensa e apaixonada ainda que com a honestidade rude popular disseram algumas verdades que Marcelo precisava de ouvir.
O presidente Marcelo tem se entretido a criar uma miragem junto da sociedade em torno da governação desastrosa que teve o mais recente alto com o caso de Alexandra Reis, o que coloca o presidente numa situação complicada pois é também arrastado por se poder dizer que será coparticipante no estado das coisas por não ter sido mais assertivo anteriormente. A excessiva preocupação em criar um ilusório ambiente de “tudo está bem” impede que se resolvam os problemas e assim todos os problemas do governo de António Costa têm persistido ao longo destes últimos sete anos.
Na sua mensagem de fim de ano o presidente foi certeiro quando enviou mensagens ao governo: erros de orgânica, descoordenação, falta de transparência, etc., mas é preciso mais e no tempo certo.
Com isto Portugal paga um preço alto.
A estagnação, acomodação e o “deixa andar” estão bastante presentes.
Ninguém se incomoda com nada desde que não mexam no seu quinhão particular. A sociedade contenta-se com a mediocridade. Daí compartilhar com aquele cidadão em Murça que enfrentou o presidente: sinto-me triste, aliás, sinto vergonha que uma sociedade se deixe acomodar à mediocridade pois revela uma pobreza de espírito profunda. Acho que os portugueses são melhores que isso.
Tenho a certeza!
Mas algo vai ser preciso para vencer a inércia a que a sociedade portuguesa se votou para mudar positivamente.
A sociedade portuguesa é a chave: se por um lado é a origem dos seus próprios males, por outro lado encerra as soluções necessárias à melhoria que se impõe, melhoria esta que deveria ambicionar, pois eu como outros portugueses não nos queremos habituar à mediocridade e ao oportunismo!
Artigo escrito por Jorge Correia