Tal como sempre acreditei, os militantes laranjas escolheram para seu líder, na eleição de ontem, Rui Rio. Foi uma manifestação de bom senso, dado que este nosso concidadão possuía uma enorme vantagem no domínio da capacidade de comando e controlo da vida política ativa. Ao contrário, o seu adversário era um intelectual, apenas com a experiência da vida política no Parlamento Europeu. Uma eleição que permite agora retirar lições diversas.
Em primeiro lugar, esta eleição mostrou o modo distante como os dirigentes do PSD, e a quase todos os níveis da vida interna do PSD, vivem da enorme maioria dos militantes laranjas do partido, designados como bases do PSD. Uma realidade já muito antiga, que se pôde agora observar à saciedade.
Em segundo lugar, este acontecimento também mostrou a presença, maciça, dos passistas e neopassistas ao lado de Paulo Rangel, numa atitude culminar do que foram fazendo desde que Rui Rio chegou à liderança do PSD. É pena que José Pacheco Pereira não tenha materializado aquela sua saída na CIRCULATURA DO QUADRADO, há umas semanas atrás, segundo a qual são bem conhecidos os interesses que se situavam por detrás da candidatura do PSD.
Em terceiro lugar, também não duvido, e por um segundo, da garantia dada por Rui Rio, segundo a qual os que o puseram em causa, estando a anos-luz do sentimento das bases, apenas tinham em mente os seus interesses mais imediatos, mormente a possibilidade de surgirem em lugares elegíveis nas listas das eleições de 30 de janeiro próximo.
E, em quarto lugar, o desafio em que esta vitória de Rui Rio se constitui em face do PS de António Costa, dado que as reformas pretendidas, desde sempre, pelo PSD são, em última análise, a destruição da Constituição da República, secundarizando as pessoas em favor do lucro das empresas, mormente dos grandes grupos financeiros do País.
Os portugueses devem estar especialmente atentos às alterações a operar no domínio, absolutamente essencial, do Estado Social, mas também das possíveis mudanças a operar no Sistema Eleitoral, que terão como finalidade principal minimizar a representatividade dos pequenos partidos. A verdade é que a democracia não é para todas as culturas, sendo tolerada em Portugal, mas muito pouco sentida ou vivida. O estado a que, após seis anos de governação de António Costa, o Serviço Nacional de Saúde chegou mostra bem como o Estado Social, tal como a Revolução de 25 de Abril permitiu e a Constituição da República assegurou, correm reais riscos, agora com a recente viragem para o lado da Direita operada pelo PS de António Costa.
Para já, Portugal também ganhou, porque uma vitória de um neopassista radical como Paulo Rangel seria mais um passo a caminho do estiolar do espírito da Revolução de Abril e do conteúdo da Constituição da República. Veremos o que nos irá trazer o PS de António Costa, agora que se determinou a olhar, principalmente, para o PSD.