Há um ano tudo isto pareceu quase um proforma: 2020 foi o ano em que uma só pessoa, uma rapariga com 18 anos acabados de fazer — de seu nome Billie Eilish — fez dos prémios Grammy a sua festa pessoal, juntando ao gramofone de melhor “novo artista”, ou artista revelação, vitórias nas três categorias generalistas mais desejadas daqueles que são também conhecidos como os Óscares da indústria musical: “Canção do Ano”, “Álbum do Ano” e “Gravação do Ano”.
Em 2021 tudo era diferente, tudo estava mais imprevisível. E não só porque entretanto o mundo e a indústria musical depararam-se com uma pandemia mundial — que levou a que estes Grammys acontecessem de forma diferente, decorrendo como habitual na arena Staples Center, em Los Angeles, este ano apresentados pela primeira vez pelo humorista Trevor Noah, mas com nomeados a receberem os seus prémios num palco exterior e ao ar livre (com mesas distanciadas na assistência) e com as atuações ora gravadas ora a decorrerem ao vivo sem os espectadores habituais, sendo transmitidas pela televisão.
Na lista de nomeados quem se destacava era Beyoncé Knowles, com um total de nove nomeações, mas era já certo que não aconteceria com Beyoncé o que aconteceu no ano anterior — um só artista vencer as três categorias principais — dado que a mais experiente das irmãs Knowles (Solange, a outra artista do clã familiar, tem já um gramofone em casa) não estava nomeada para “Melhor Álbum do Ano”.
Para encontrar um nome que pudesse repetir o feito alcançado por Billie Eilish no ano anterior, vencendo as três grandes categorias generalistas, só um nome surgia como minimamente plausível: Dua Lipa, que concorria com o disco Future Nostalgia na categoria “Álbum do Ano” e com o tema “Don’t Start Now” nas categorias de “Canção do Ano” e “Gravação do Ano”. Era a única nomeada para as três categorias principais. Mas a concorrência era forte, nomeadamente:
de Taylor Swift (com o mesmo número de nomeações de Lipa para estes Grammys, 6), que concorria para “Álbum do Ano” com Folklore
da mesma Taylor Swift (“Cardigan”), de Beyoncé (“Black Parade”) e de Billie Eilish (“Everything I Wanted”) na categoria “Canção do Ano”
e de Beyoncé (em dose dupla: com “Black Parade” e com “Savage”, esta última em parceria com Megan Thee Stallion), Billie Eilish (“Everything I Wanted”) e talvez até dos Black Pumas (“Colors”) na categoria “Gravação do Ano”
Uma coisa ficara clara antes mesmo da cerimónia: a predominância de mulheres entre os principais nomeados e entre os favoritos a vencer as grandes categorias da edição deste ano dos Grammys, somada às vitórias de Billie Eilish no ano anterior, mostrava que os tempos em que os homens dominavam a indústria musical já pertencem ao passado. Pelo menos até prova em contrário.
Uma noite de recordes para Taylor Swift e Beyoncé
A noite confirmou que os grandes prémios tinham mesmo como destino compositoras e intérpretes femininas. O Grammy de “Álbum do Ano” foi para Taylor Swift e o seu Folklore, um disco em que a estrela da pop e da country-pop apresenta canções mais íntimas e melancólicas, menos efusivas e menos dançantes, mais “clássicas” e elegantes no seu cruzamento entre a pop, a indie-folk e o indie-country — com a ajuda de Jack Antonoff (produtor que já trabalhara com Swift e que também colaborou muito na composição destas canções) e de Aaron Dessner, produtor e músico da banda de indie-rock The National.
A vitória de Taylor Swift na categoria “Melhor Álbum do Ano” dificilmente será alvo de grande contestação — nenhum outro disco nomeado conciliou tanto uma popularidade estrondosa, algo habitualmente tido em grande conta nestes prémios, com elogios de críticos de música e publicações de media, embora Future Nostalgia de Dua Lipa fosse um concorrente sério. Nem o popular After Hours do canadiano The Weeknd, que se indignou por não ter tido nomeações (o que surpreendeu quase todos os analistas), teve mais aclamação crítica no campeonato pop.