Permitam-me os leitores despedir-me de um ser humano de quem gostei muito durante toda a sua vida, um familiar, um meu sobrinho, o Miguel Gago da Câmara Decq Mota.
O Miguel foi, nos Açores, uma conhecida figura pública, enquanto locutor brilhante e coordenador de programas da TSF Açores; foi um comercial cheio de garra; foi um enorme desportista; foi a alegria de duas famílias, os Gago da Câmara e os Decq Mota. Para nossa tristeza, faleceu, precocemente, com 44 anos de idade, no passado dia 30 de Março. A Região perde um dos seus melhores.
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Não é bem o silêncio. É mais a tua mudez. E imaginar-te já etéreo.
Da janela da cozinha, observo os montes, cujo verde calcorreaste, e o mar, onde tanto mergulhaste, a espumar contra a rocha. O rasto das tuas pegadas ainda lá estarão; as tuas braçadas fortes ainda lá nadarão.
Roubo palavras ao léxico que me façam escrever sincero, porque foste sinceridade.
Não te vejo do outro lado, pá. És daqui!
Sei que me visitaste, já apenas energia, quando fui tentar dormir, porque era impossível lembrar-me dos nossos copos, há muitos anos, na discoteca da Povoação; também da noite de 12 para 13, em Fátima, onde dormimos ao relento e à chuva pelas soleiras das portas, após integrarmos a procissão das velas; dos banhos na piscina do avô João e da avó Guidinha; do churrasco a seguir, acompanhado das cervejolas frescas, de que tanto gostávamos; das tuas piadas e das gargalhadas que dobravas com tanta graça; dos golos que gritaste no estádio e na antena. Quiseste ir para a RDP, onde trabalhei 34 anos. Nunca te aceitaram! A ti! Um prodígio na comunicação! Guardo comigo esta mágoa.
Não chorava tanto desde a morte do avô. E choro-te agora. E chorar-te-ei sempre. Libertaste-te; pacificaste-te; és alma. Mas fazes-nos tanta falta, caraças!
Adeus, sangue nosso.
Texto escrito por: João Gago da Câmara