Em condições normais, Xangai seria neste fim-de-semana o destino do “circo” da Fórmula 1. Ironicamente, os pilotos chegariam já em Maio à Europa, para cumprirem os Grandes Prémios dos Países Baixos, Espanha e Mónaco — entretanto cancelados ou adiados devido à pandemia de covid-19. Um cenário radicalmente alterado pelo vírus que silenciou monolugares e bateu com a porta na cara do hexacampeão mundial Lewis Hamilton, no ano em que se preparava para atacar o recorde de Michael Schumacher.
Esta imagem de porta fechada pode, contudo, tornar-se a escapatória de uma época ingrata, quando se sabe que mais de um terço das provas do calendário terá de encontrar novas datas ou simplesmente esperar por melhores temporadas. Depois das corridas virtuais e até da “reconversão” de algumas marcas, nomeadamente as britânicas, que decidiram colocar-se ao serviço da medicina fabricando ventiladores, é chegada a hora de redefinir a época, nem que seja sem público nas pistas.
Contrariando a sugestão do antigo patrão Bernie Ecclestone, cujo conselho é de “esquecer a temporada de 2020” para evitar “acordos tolos”, numa altura em que a pressão financeira ameaça esvaziar uma forte percentagem de escuderias, a Fórmula 1 estuda alternativas que passam por uma época — que nem sequer arrancou — em que as próprias equipas teriam de encontrar formas de operar com um contingente restrito.
A perspectiva de poder acelerar a fundo no Verão, deixando para trás Austrália, Bahrein, Vietname, China, Países Baixos, Espanha, Mónaco, Azerbaijão e Canadá, parece ser exequível do ponto de vista logístico, mesmo que em matéria de staff não haja muito por onde cortar o número
de participantes.
Seja como for, a tentativa de tirar a Fórmula 1 de um confinamento sem precedentes está em marcha, estudando-se formas sanitariamente aceitáveis de ultrapassar o momento.
“Temos estado a analisar toda a logística de uma corrida, independentemente de termos ou não público.
Mas mesmo uma corrida fechada implica um determinado número de intervenientes. Como tal, temos de encontrar uma forma segura de gerir este contingente”, referiu recentemente Ross Brawn, director desportivo da Fórmula 1, admitindo todos os cenários desde que haja garantias de protecção de todos os participantes.