Tinha tudo para correr mal. E, durante algum tempo, pareceu mesmo que tudo estava perdido. O caminho escolhido não era o ideal, e o Sporting enfrentou momentos de incerteza, erros próprios e um certo infortúnio. Ainda assim, conseguiu recuperar a tempo de erguer mais um troféu de campeão nacional — o 21.º da sua história e o terceiro nos últimos cinco anos. Um feito ainda mais marcante por representar um bicampeonato que o clube não alcançava há mais de sete décadas.
Apesar das dificuldades, houve uma constante que impediu a queda do universo leonino: Viktor Gyökeres. Com mais de 50 golos na temporada, o avançado sueco foi absolutamente determinante. A sua contratação figura entre as decisões mais acertadas da direção do Sporting nas últimas quatro décadas, comparável à aposta em Rúben Amorim como treinador principal. A ideia de substituir Gyökeres, quando esse momento chegar, será um enorme desafio — tanto quanto foi pensar que outro técnico sem experiência poderia repetir o sucesso de Amorim. João Pereira, apontado como possível sucessor, falhou em corresponder a essas expectativas. Já Rui Borges assumiu o comando e soube adaptar-se, conduzindo a equipa ao título.
Depois do título de 2023/24, o Sporting parecia bem preparado para manter o nível competitivo. A estratégia de mercado revelou-se eficaz: vendas que geraram receitas sem comprometer o núcleo duro do plantel. Paulinho, agora figura de destaque no futebol mexicano, e o capitão Sebastián Coates talvez tenham feito alguma falta, mas os reforços foram bem escolhidos: o central Zeno Debast, o guarda-redes Vanja Milinković-Savić, o ala Maxi Araújo e o avançado Conrad Harder responderam às necessidades da equipa. A formação também prometia: Quenda era a grande aposta da academia. Além disso, Rúben Amorim renovava o seu compromisso com o clube, prometendo lutar pelo bicampeonato, enquanto Gyökeres mantinha-se como referência ofensiva.
A Reviravolta de Amorim
Depois da saída inesperada de Rúben Amorim, o Sporting avançou para a solução que inicialmente estava pensada apenas para o final da época: João Pereira, treinador da equipa B. A aposta em Amorim tinha corrido bem anos antes, e Frederico Varandas acreditava que o sucesso podia repetir-se. João Pereira usava o mesmo sistema com três centrais, conhecia a casa e representava uma transição “natural”. No entanto, o plano falhou. Sob o seu comando, a equipa perdeu gás no campeonato: derrotas com Santa Clara e Marítimo, empate com o Gil Vicente e uma vitória suada frente ao Boavista. Na Liga dos Campeões, os leões caíram frente ao Arsenal e ao Club Brugge. Só na Taça de Portugal o antigo treinador da B teve sucesso inicial, com vitórias sobre Amarante e Gondomar, antes de ser afastado.
Sem dar o braço a torcer, mas percebendo a urgência, Varandas ativou o plano C: Rui Borges, então a destacar-se no Vitória SC. Quando Amorim saiu, o Sporting liderava com 13 pontos. À saída de João Pereira, já estava em segundo, com 7 — um ponto atrás do Benfica. Rui Borges chegou e, com apenas poucos treinos, devolveu a liderança ao Sporting com uma vitória em Alvalade. Fechou a primeira volta no topo, e nas primeiras jornadas da segunda metade abriu uma vantagem de seis pontos.
O Terceiro Título em Cinco Anos
Este título — o 21.º da história leonina (ou o 44.º, segundo algumas contagens que incluem títulos da era pré-profissional) — foi um título da continuidade. Rúben Amorim assumiu a “paternidade” da estrutura, e Rui Borges, um técnico de 44 anos, soube adaptar-se ao 3-4-3 herdado, embora com menos ousadia ofensiva.
O Fenómeno Gyökeres
Mas nenhum destes nomes teria bastado sem Viktor Gyökeres. Se os 43 golos e 14 assistências da temporada anterior já pareciam extraordinários, em 2024/25 o sueco superou tudo. À data da final da Taça, já somava 53 golos e 13 assistências — liderando a corrida para a Bota de Ouro, à frente de nomes dos principais campeonatos europeus. Só no campeonato, marcou 39 golos — fez pelo menos um golo em 22 jogos, bisou em cinco, fez três “hat-tricks” e marcou quatro golos em duas partidas distintas. Quando esteve lesionado, o Sporting ressentiu-se visivelmente.
Um Título de Planeamento e Resistência
Com o bicampeonato garantido e entrada direta na Liga dos Campeões, o Sporting pode olhar para esta época com orgulho. Houve momentos de desorganização, dúvidas e caos. Mas resistiu. Três campeonatos em cinco anos, após um longo jejum, provam que algo foi bem feito. Sim, o clube beneficiou da quebra do FC Porto e do Benfica — este último apostando tudo em reforços caros e pouca estrutura. O Sporting não foi o menos mau. Foi o mais preparado. Mas este modelo não dura para sempre.