A equipa do FC Porto chegou cedo à festa e dançou sempre ao tom dela.
Trocadilhos de gosto duvidoso à parte, é preciso sublinhar que sim, o FC Porto fez tudo sozinho. Na final da Taça de Portugal mais desequilibrada dos últimos anos, o Tondela entrou em campo nitidamente intimidado, com receio de não saber estar e limitou-se quase apenas a bater o pé.
O FC Porto, esse, escolhia música e dançava ao ritmo que lhe apetecia.
Por vezes acelerava o andamento, outras vezes fazia um compasso. Por vezes escolhia uma cadência mais romântica, outra vez apetecia-lhe um movimento mais enérgico. Era uma equipa de humores, que ia dando o que o jogo lhe exigia: e o jogo exigiu-lhe quase sempre muito pouco.
Verdadeiramente, no fundo, só fez uma exigência. Já na segunda parte, a um quarto de hora do fim, Neto Borges marcou um grande golo no primeiro remate do Tondela à baliza e silenciou as bancadas portistas. Foi a única vez que os adeptos do FC Porto ficaram mudos. Por instantes.
Nessa altura, claro, o Tondela acreditou. Afinal de contas era possível. O que exigiu uma resposta do FC Porto, não fosse o jogo fugir-lhe do controlo: e no minuto a seguir Taremi voltou a marcar.
No fundo, lá está, foi só nesse momento, entre um golo e o outro, que o jogo exigiu alguma coisa ao campeão. O resto do tempo foi uma liberdade total para ser e criar: ser o que lhe apetecesse e criar o que quisesse. Na primeira parte, por exemplo, o FC Porto quis criar pouco.
Foi mandão, é verdade, jogou sempre no meio campo adversário, mas criou pouco perigo. Sobretudo quando se olha para a distância entre as duas equipas, para as enormes diferenças que se colocam, fica claro que a formação de Sérgio Conceição podia ter feito muito mais. Provavelmente não quis.
Por isso, quando o árbitro apitou para o intervalo, tinha feito um golo de penálti e um remate muito perigoso a seguir a isso. O primeiro foi obra de Taremi, o segundo por intermédio de Evanílson.
O penálti de Taremi vai dar, aliás, muito que falar nos próximos dias, mas a leitura de Rui Costa foi boa: Taremi está em fora de jogo, mas não interveio no jogo nem influenciou a ação de um adversário. Por isso, e como diz a lei, não tomou parte ativa no jogo.
Voltando ao futebol jogado, importa dizer que o remate de Evanílson já mencionado aconteceu na melhor jogada do encontro: Taremi saiu em velocidade e tocou para Pepê, que de calcanhar isolou Evanílson para um remate que saiu a beijar o poste.
Na verdade, só na segunda parte, aos 52 minutos, o FC Porto conseguiu fabricar algo com o mesmo nível de requinte: numa excelente jogada individual, Vitinha passou por toda a gente e tocou para Pepê, que lhe devolveu a bola para o sítio certo, para um remate fácil para golo.
Duas excelentes jogadas, duas pedaços de talento, duas amostras do que o campeão podia fazer.
Só foi pena nem sempre lhe apetecer. Porque este foi claramente um FC Porto de humores, numa tarde em que dançou quase sempre sozinho e em que só se sentiu obrigado a criar o que quis.
Curiosamente, criou mais quando Pepê entrou no processo. O brasileiro pode não ter sido o homem do jogo, porque Taremi marcou dois golos, mas foi seguramente o mais inspirado, mais interventivo, que mais vezes teve criatividade para encontrar soluções no bloco adversário. É certo que taticamente a exibição portista foi excelente: um ótimo posicionamento, uma reação à perda asfixiante, uma enorme capacidade de ganhar todas as segundas bolas, enfim. Nem deixou o Tondela respirar. Faltou-lhe depois acrescentar aquele bocadinho de talento, aquela criatividade, aquela arte de saber que sim, foi tudo dela, mas podia ter sido mais no tom dela.
Trocadilhos de gosto duvidoso à parte, resta dizer que Sérgio Conceição quebrou o enguiço e ganhou finalmente no Jamor como treinador. Pelo caminho voltou a fazer a dobradinha, tal como há dois anos. Foi uma época de uma superioridade gigante, totalmente pintada de azul.
E ninguém pode dizer que não foi o tom certo.