Prémio das Quinas ainda no auge da gratidão

Como muitos sabem, a autora destas linhas esteve hospitalizada durante sete meses. Consequentemente, a sorte parece ter-se afastado de mim, pois na primeira cirurgia apanhei uma bactéria no pé, dentro do bloco operatório, e duas outras (perigosíssimas) no abdómen, fui contaminada no andar onde fui convalescer.
Chegou o mês de março e já a esperança nascia, lá longe, na luz da janela do décimo sexto andar. Ali dormia tranquila mas as dores e a preocupação eram tremendas, e pensava: irei morrer ou viver? Para mudar de ideias, fui informada por uma amiga de que o meu nome aparecia no Jornal A Voz de Portugal, e que iria participar no concurso que dá por nome de Prémio das Quinas. Por outro lado, eu teria de ir a votos como todos os outros cujos nomes foram mencionados no semanário acima marcado.
Pouco tempo depois o Sylvio Martins telefonou-me e endereçou-me um convite para eu ir à festa, acreditando talvez que eu estivesse de volta a casa. Como gosto de participar neste tipo de eventos confirmei a reserva, os médicos dar-me-iam alta (por umas quantas horas) pois, segundo eles até me faria bem sair por uns momentos desde que fosse acompanhada. Infelizmente o meu estado de saúde alterou-se e não consegui sair do hospital. Ora, no enlace desta história, o meu marido foi à festa e levou a nossa neta Nayla, que fala muito bem a língua de Camões. Neste caso, a menina fez-se acompanhar pela querida Filomena Costa, e ambas receberam o prémio que me foi atribuído. Acreditem que eu não sabia de nada, por isso fiquei deveras surpreendida. Primeiramente, ninguém me pediu licença para que o meu nome fosse incluído nas listas de votos, tão pouco obtive informação em relação ao referido evento. Segundo, não solicitei pareceres a ninguém, o que é ainda mais surpreendente saber dos muitos votos que surgiram em meu nome. Mas o povo é soberano, inteligente e decidido, e cedo ou tarde se dá conta da paixão que me enlaça quando organizo quaisquer atividades, no que respeita a língua e a cultura portuguesas fora de portas, digamos na diáspora lusa ou por esse mundo por onde embarco com a bandeira portuguesa de braço dado e as malas cheias de livros. De bom modo, essas obras servem para preencher, a longo prazo, bibliotecas, universidades e outros lugares emblemáticos ou de grande relevância para a continuação de Portugal no mundo. Por conseguinte, acompanhei a história da festa do Jornal, e foi-me dado saber que tudo aconteceu numa coletividade – que conta com longos anos de vida e de experiência, no Clube Oriental – o sexagésimo terceiro aniversário do Jornal A Voz de Portugal. Pela mesma ocasião, outro momento social e cultural foi anunciado com alegria e grandeza, deu-se luz e surgiu O Prémio das Quinas. Foi assim que o editor do Jornal A Voz de Portugal rendeu tributo a algumas pessoas da comunidade Portuguesa de Montreal, que de algum modo se tenham destacado, cimentando no peito o amor a Portugal. Parabéns a todos quantos subiram ao palco para receberem com honra o glorioso Prémio das Quinas.
Segundo Sylvio Martins o dia 25 de abril – este célebre dia da revolução dos cravos – é suficientemente importante para que naquele momento o Jornal tivesse assinalado as bodas de ouro da democracia e da liberdade portuguesas cantadas com desvelo e acervo por Zeca Afonso, Sérgio Godinho, José Mário Branco, entre outros artistas. Que a língua portuguesa seja falada e escrita com carinho, fidelidade e respeito, para que quem lê ou quem escute seja capaz de se identificar com aqueles que se dizem representantes de Portugal e da lusofonia, aqui por estas paragens.
Falta dizer ao editor do Jornal A Voz de Portugal, Sylvio Martins, que sinto grande satisfação ao expor, no meu local de trabalho, o prémio que me foi outorgado. Reparo que há menos concorrência e mais partilha entre os órgãos da imprensa, e como tal estamos no bom caminho vivenciando a união que enaltece o nome de Portugal em terras norte-americanas.
E como nota de conclusão falta dizer à comunidade portuguesa de Montreal que me sinto satisfeita pela confiança, moldada na arte de acreditar. Ao votarem por mim sinto que o Prémio das Quinas é igualmente vosso.
Os meus sinceros parabéns Sylvio Martins, ainda no auge da gratidão.