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LA VOIX DU PORTUGAL | MARDI LE 28 SEPTEMBRE, 2021 | 3 CRÓNICA
Afinal o eleitor não está a dormir
JORGE CORREIA próprio Rui Rio pensarem que foi vitória do PSD. nal para evitar a participação de Santana à corri-
Cronista do jornal Aqui a pessoa de Carlos Moedas, assim como em da eleitora na Figueira, é uma nódoa resultante de
geral nas autárquicas, é chave do sucesso ou in- despeito arrogante que nos deve levar a franzir o
om a recente maratona de sucesso. Outro exemplo foi Coimbra, que mesmo sobrolho, e como fica provado por estes exemplos,
eleições que julgo impor- com a promessa descabida, ridícula e desproposi- o eleitorado não é cego a estes comportamentos.
Ctantes para todos os por- tada de uma maternidade por parte do primeiro
tugueses, incluindo aqueles que ministro António Costa, foi perdida para o PSD. Espero que os novos responsáveis autárquicos, de
vivem aqui no Canadá, onde se in- Aliás, o desdobrar de António Costa pelo país em presidentes de câmara a presidentes de freguesia
clui também as eleições na Alema- promessas, incluindo a de que os dinheiros do passando pelos membros de assembleia locais não
nha, julgo que uma das lições é que o eleitorado PRR (Plano de resiliência e recuperação) vindos se esqueçam da sua função: servir os cidadãos lo-
em geral não está a dormir, ou seja, tem mantido da União Europeia seriam mais bem aproveitados cais dentro das competências autárquicas e deixa-
atenção ao que se passa o que por si mesmo já é se as câmaras fossem socialistas, quase numa alu- rem de lado a doença da “partidarite” e obsessões
animador. são que ou vocês votam em nós ou dinheiro não ideológicas que muitas vezes cegam até os melho-
vos fará proveito, é uma ação que classificaria de res elementos no cumprimento dos seus deveres.
Começando pelo Canadá, podemos resumir que obscena. Mas a arrogância ferida não se ficou pelo Do eleitorado vem uma nota de esperança, onde
se baralhou para voltar a dar o mesmo. Não sou PS. No Porto, Rui Moreira voltou a ganhar mas apesar de ainda haver muita clarificação e tomada
daqueles que se agarra ao custo das eleições, pois sem maioria. Talvez deva refletir no modo arro- de consciência por fazer, há um vislumbre que nos
se não se gastasse agora gastaríamos daqui a dois gante que por vezes usa na abordagem a diversos permite estar esperançosos para o futuro. Contudo
anos se a legislatura fosse até ao fim, ainda que o temas, e se a confiança do eleitorado se mantém há que não baixar a guarda; há que estarmos aten-
custo das eleições possa chocar, pelo que era um nele, há certamente uma nota que este deve levar tos e sermos exigentes, da mesma forma que um
custo que cedo ou tarde teríamos. A questão aqui em conta. Rui Rio, que se safa do descalabro prin- acionista é exigente com a equipa de gestão da sua
é o oportunismo de despoletar as eleições. Estou cipalmente pela associação com a vitória de Carlos empresa, devemos ser exigentes com a equipa de
de acordo que vivemos um momento chave, que Moedas em Lisboa, poderia ser mais magnânimo gestão da res publica.
decisões de agora irão marcar o futuro. Mas o elei- e evitar a arrogância de discursos como se tivesse
torado respondeu: trabalhem com o mandato que tido uma vitória estrondosa, de sua exclusiva res-
vos dei! Melhor e mais clara resposta para todos os ponsabilidade. O comportamento agora no res-
partidos, e repito todos, não poderia existir. caldo das eleições, ou em situações como na Fi-
gueira da Foz onde a verdadeira perseguição feita
Na Alemanha, na era pós Angela Merkel que se a Santana Lopes, quer gostemos deste ou não, mas
afasta do poder, vamos entrar no jogo de coliga- que foi levada ao extremo de processo em tribu-
ções pois os dois partidos principais estão longe
de maioria e têm um resultado tão próximo, com
vantagem inferior a dois pontos percentuais para
os sociais-democratas do SPD, que várias opções
de coligação são possíveis para obter a maioria no
parlamento alemão. Uma coisa parece-me certa,
não vejo grande alteração do posicionamento da
Alemanha dentro da União Europeia, ainda que os
candidatos ainda tenham muito que provar para se
alçarem à presença e influência que Merkel capi-
talizou ao longo dos últimos anos com as diver-
sas crises que enfrentou. No interior da Alemanha
continua a manifestar-se uma fratura do eleitorado
reveladora da necessidade de se chegar a consen-
sos que possibilitem uma condução dos destinos
do país de forma harmoniosa, com o cuidado de
evitar deslizes para radicalismos desnecessários
que poderiam colocar a Europa em crise.
Agora em Portugal... penso que a lição aqui é que
a arrogância no imediato pode dar satisfação ao
ego e até alguns pequenos dividendos, mas não re-
sulta a médio e longo prazo. Isso revelou-se com
a perda de câmaras importantes por parte do PS
com destaque para Lisboa, onde um dos delfins de
Costa, proto candidato à sua sucessão, perdeu de
forma surpreendente para Carlos Moedas. Muito
mérito para este que, ao contrário de muitos e do