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CRÓNICA                      14 |  LA VOIX DU PORTUGAL LE 18 MAI, 2023 | THE VOICE OF PORTUGAL, 18TH OF MAY OF 2023
        SUICÍDIO
        A DIREITA DO PS E A SUCESSÃO DE ANTÓNIO COSTA




                      HÉLIO B. LOPES                     caminho  de  um  acréscimo  de  pobreza  e  de  ins-  nas protestando e cavalgando a onda (natural e
                      Jornalista em Portugal             tabilidade social em nome da defesa de um futu-  sempre existente) de descontentamento, fariam
                                                         ro melhor para as futuras gerações...                       ainda pior que o que se tem vindo a
                                                         Simplesmente, com ou sem maioria                            ver. Do mesmo modo, uma enorme
                              isse um dia Salazar que  absoluta, lá continua válida a tal cha-                       parte  dos  desagradados  com a  atual
                              governar é, acima de  mada de atenção de Salazar: governar                             governação também não vislumbra
                      Dtudo, descontentar. Ti-           é, acima de tudo, descontentar. Claro                       estas duas realidades: está-se a cavar
        nha, como se sabe há muito, a mais cabal razão,  está que uma boa imensidão de por-                          o caminho da destruição total do Es-
        apesar de uma imensidão de concidadãos nos-      tugueses nem sequer se determina a                          tado Social, por muitos defeitos que
        sos continuarem a imaginar que a prática da de-  olhar uma tal realidade evidente, ape-                      apresente, e decorre já uma luta sur-
        mocracia – a nossa ou qualquer outra – confere  nas pensando em si mesma, e crendo,                          da pelo poder no seio do PS, pensan-
        algum tipo de poder da população, deste modo  até, que existirá, afinal, um caminho                          do no tempo posterior a uma saída
        condicionando a governação a seguir o melhor  que se poderá materializar na solução ótima (so-    de António Costa da governação. Uma luta logo
        para si mesma e para o País, se as duas situações  nhada). De modo coerente, em maior ou menor  apoiada, no mínimo, pelos convites a militantes
        realmente coincidissem.                          grau, sucedem-se os protestos e as greves, sem  do PS para executarem comentário político nos
         Fruto de uma enorme dose de bom senso, os  que os que assim atuam consigam perceber que a  canais televisivos.
        portugueses lá se determinaram a escolher a  Direita, tal como a Extrema-Direita – no fundo,       E, como teria de dar-se com uma comunicação
        atual maioria absoluta do PS, situação que, não  a oposição, hoje liderada pelo Presidente Marce-  social fortemente alinhada à Direita, os escolhi-
        concedendo, de imediato, o êxito com que muitos  lo Rebelo de Sousa, como muito bem referiu Ana  dos são concidadãos que, para lá de algum saber,
        terão sonhado, evitou lançar os portugueses no  Gomes –, para lá de não dizerem ao que vêm, ape-  naturalmente variável, não possuem grande bri-
                                                                                                          lho oratório, ou criticam sempre o próprio PS, e
                                                                                                          sempre sem dizerem ao que vêm, tal como com a
                                                                                                          Direita. Ora, no passado fim-de-semana surgiu a
                                                                                                          notícia em certo semanário de que Sérgio Sousa
                                                                                                          Pinto, Francisco Assis, Seguro e Álvaro Beleza e
                                                                                                          Paulo Pedroso, certamente com outros militantes
                                                                                                          do PS, estarão a organizar uma potencial alter-
                                                                                                          nativa à liderança de António Costa, mas obvia-
                                                                                                          mente bem mais à direita. Simplesmente, se Se-
                                                                                                          guro desapareceu depois de perder, Álvaro Beleza
                                                                                                          vê-se completamente esmagado por Miguel Rel-
                                                                                                          vas, com Sérgio a dissertar intelectualidades pro-
                                                                                                          fundas, mas completamente inoperantes, e Assis
                                                                                                          a discorrer como desde sempre se lhe pôde ver,
                                                                                                          invariavelmente bem próximo das históricas po-
                                                                                                          sições de Passos e Portas, e onde pontificou aque-
                                                                                                          la fantástica previsão de que, com a Geringonça,
                                                                                                          o PS esfumar-se-ia...
                                                                                                           Custa-me entender que alguém, militante do PS,
                                                                                                          possa imaginar que uma tal alternativa não con-
                                                                                                          duza a um suicídio político para o PS.
                                                                                                           De modo naturalmente concomitante, os nossos
                                                                                                          jornalistas nunca questionam estes militantes do
                                                                                                          PS sobre como seriam as suas reformas estrutu-
                                                                                                          rais, mormente nos essencialíssimos domínios da
                                                                                                          Saúde, Segurança Social, Educação, Habitação,
                                                                                                          etc..
                                                                                                           No fundo, é como há muito tenho explicado: te-
                                                                                                          mos democracia, mas não temos futuro, faltando
                                                                                                          a quase toda a classe política a essencial clareza e
                                                                                                          o cumprimento de medidas fundamentais para as
                                                                                                          pessoas e o País.
                                                                                                           Termino, pois, com esta pergunta simples: será
                                                                                                          que haverá por aí, no meio de tanto descontenta-
                                                                                                          mento, quem se deixe embarrilar por conversas
                                                                                                          fáceis, mas completamente despidas de conteú-
                                                                                                          do? E já agora: cuidado com as sondagens, sen-
                                                                                                          do conveniente recordar o tal empate técnico que
                                                                                                          mil e um garantiam como acontecimento quase-
                                                                                                          -certo nas anteriores eleições...
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