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A VOZ DE PORTUGAL | 4 DE JANEIRO DE 2024 CRÓNICA 3
Presidente quer “todos atentos” porque em 2024

começa a construir-se os próximos 50 anos

SOFIA RODRIGUES por um cenário pós-eleitoral mais confuso como tinha ta por “erros de orgânica”, ou por “descoordenação”, ou
sugerido o primeiro-ministro demissionário. por “inacção” ou por “falta de transparência, ou por
arcelo Rebelo de Sousa destacou a impor- JUSTIÇA SOCIAL PRECISA-SE descolagem da realidade”, concluindo que o ano de
tância do voto popular no ano em que há Nesta mensagem de Ano Novo, apesar de reconhe- 2023 seria “decisivo”. Agora, considerou que 2024 será
Meleições nos Açores, legislativas e euro- cer que “o voto não é tudo”, mas realçando que sem ainda mais decisivo.
peias. Na mensagem de Ano Novo, considerou que ele não há “nem liberdade nem democracia”, o Presi-
crescimento económico sem justiça social “não é dente aproveitou para falar das imperfeições das de-
sustentável”. mocracias, incluindo a portuguesa. “São inacabadas,
No rescaldo do auge da crise política e com três elei- imperfeitas, desiguais, deveriam ser menos pobreza,
ções no horizonte, o Presidente da República fez um menos injustiça, menos corrupção, menos desilusão
forte apelo ao voto consciente por considerar que as dos menos jovens, mais lugar para trabalhar e viver
decisões a tomar agora são o “começo” dos próximos dos mais jovens.” Em jeito de balanço, Marcelo defi-
50 anos de democracia. Na mensagem de Ano Novo, niu o que considerou ter ficado “claro” no ano de 2023,
transmitida ontem em directo a partir do Palácio de destacando alguns resultados considerados bons, mas
Belém, Marcelo deixou recados ao Governo demissio- apontando o dedo aos registos menos bons da gover-
nário, pedindo um “efectivo acesso” à saúde, educação nação socialista. “Em Portugal, ficou claro que contas
e habitação, e defendeu que a democracia deveria ser certas, maior crescimento e emprego, qualificação das
sinónimo de “menos pobreza, menos injustiça, menos pessoas, investimento e exportações são essenciais.
corrupção, menos desilusão dos menos jovens, mais Mas ficou também claro que crescimento sem justiça
um lugar para trabalhar e viver dos mais jovens”. social, isto é, sem redução da pobreza e das desigual-
Depois de ter considerado, há um ano, que 2023 se- dades entre pessoas e territórios não é sustentável”,
ria um ano “decisivo”, o Presidente reconhece que o disse. Falou ainda em questões como a saúde numa
ano acabou com “mais desafios e mais difíceis do que altura em que são visíveis os constrangimentos nas ur-
aqueles com que havia começado”. gências e na disponibilidade de médicos no SNS.
A demissão do primeiro-ministro António Costa, “Ficou claro que efectivo acesso à saúde, à educação,
que o Presidente lembrou ser uma “legítima decisão à habitação, à solidariedade social é uma peça-chave
pessoal” do “segundo mais longo chefe de governo em para que haja justiça social e crescimento. Ficou claro
democracia” e o “mais longo neste século”, devolve a que a administração pública e a justiça podem fazer
palavra ao povo. “Deveríamos estar todos atentos e a diferença, nestes anos em que dispomos de fundos
motivados para as eleições de Março para perceber- europeus irrepetíveis e de uso urgente”, sublinhou,
mos como vai ser o tempo imediato em Portugal na acentuando de novo a importância de executar o “ir-
avaliação e na escolha”, disse. E enfatizou a importân- repetível” Plano de Recuperação e Resiliência.
cia do voto popular: “2024 irá ser, largamente, aquilo Além das eleições em Portugal, o chefe de Estado
que os votantes, em democracia, quiserem.” Não são também se referiu à importância de dar atenção às
apenas as legislativas de 10 de Março, são as eleições eleições norte-americanas para perceber “como vai ser
antecipadas nos Açores, já a 4 de Fevereiro, e as euro- o tempo imediato no mundo”. E, na Europa, Marcelo
peias a 9 de Junho, que o chefe de Estado põe igual- elogiou a maioria que “entende que negar alargamen-
mente nos pratos da balança com o peso de ser o ar- tos e parcerias é pior do que fazê-las com preparação,
ranque da construção do futuro, depois dos últimos 50 bom senso e equilíbrio”.
anos em democracia. “E o começo desses mais 50 anos Há um ano, na mensagem de Ano Novo para 2023,
é hoje, é agora, é já na vossa decisão sobre o rumo que Marcelo tinha deixado um aviso ao Governo para não
quereis para os Açores, para Portugal, para a Europa”, “desbaratar” a estabilidade política da maioria absolu-
disse no remate da mensagem, utilizando uma frase da
emblemática canção Grândola Vila Morena, uma das
senhas para a revolução do 25 de Abril: “Desde 1974,
entre nós, é o povo — e só o povo — quem mais orde-
na, quem mais decide, a pensar no seu futuro, a pen-
sar no futuro de Portugal.” A importância do voto na
democracia já tinha sido salientada pelo Presidente há
algumas semanas como forma de responder a Antó-
nio Costa, que o tinha criticado por decidir convocar
eleições antecipadas em vez de manter o Governo com
outro primeiro- ministro. “Quem decide é o povo”,
afirmou então Marcelo, afastando responsabilidades

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