Portugal tem uma paródia de super-heróis fascista chamado Capitão Falcão que tem ao seu lado um parceiro mirim chamado Puto Perdiz. A ideia de sua criação era uma sátira aos duros períodos da ditadura que o país viveu durante o governo de Salazar.
Apesar do filme ter sido lançado em 2011 com distribuição nos cinemas em Portugal sua temática continua cada vez mais forte, com o surgimento de partidos extremistas em diversos países ao redor do mundo. No atual momento que vivemos, nunca foi tão importante aos países democráticos fortalecerem os pilares de liberdade e igualdade que tanto acreditamos. Conceitos que antes eram vistos com ironia ou sátira podem perigosamente ter suas origens deturpadas e serem transformados em ícones enviesados para a grande massa.
A brincadeira na criação de Falcão e Puto Perdiz era desenvolver um herói super-patriota, um idiota total que começa todas suas conversas dando socos “antes de dizer olá” e que precisa resgatar Salazar das mãos dos comunistas vestidos de vermelho. A inspiração se deu na antiga série do Batman de 1966, sendo um super-herói “ao contrário”.
Para o lançamento do filme foram criadas várias capas de bandas desenhadas imaginando como seriam se tivessem sido lançadas nos anos 60 e também foram produzidas algumas camisetas com a emblemática gravata do personagem.
Apesar do tom irônico da mensagem é importante pereceber que os filmes foram muito bem realizados e os atores são excelentes em seus papéis. Numa analise mais profunda, vale a pena conferir a proposta de direção e o extremo cuidado da produção que resgatam o espírito das séries televisivas dos anos sessenta. Músicas divertidas, acrobacias, linguagem corporal exageradas, personagens coadjuvantes interessantes e muitas cores fazem deste filme um verdadeiro marco da cultura pop moderna em Portugal.
Segundo disse ao portal P3, o diretor e criador João Leitão “Tenho sempre medo quando alguém leva aquilo a sério. É uma paródia. E há pessoas que levaram aquilo a sério. Estou a falar de partidos ultra-mega-hiper-conservadores a roçar o fascista.”
O primeiro curta foi apresentado no festival de terror MOTELx em 2011 e uma minissérie com três episódios foi lançada em 2015. Na ocasião também foi lançado um DVD comemorativo com todas as obras do Capitão Falcão, hoje item de colecionador.
A arrecadação no modelo antigo de distribuição nos cinemas tradicionais, apesar de expressiva, não garantiu a continuidade do projeto. Atualmente com o surgimento da Netflix e de outras distribuidoras de streaming em Portugal fortalecendo o aquecimento audiovisual no país, teremos esperanças de uma nova série envolvendo o “pior super-herói” português de todos os tempos? Com todas as situações extremas que o planeta está vivendo, continuaria o personagem com seus mesmos valores ou ele mudaria de opinião? Vamos torcer para que possamos ver novas aventuras irônicas do Capitão Falcão e do Puto Perdiz, em breve.