O que futebol dá, o futebol tira

O que o futebol dá, o futebol tira. É cruel, implacável.
A Seleção fez frente à França, vice-campeã mundial, encheu-se de coragem e esteve perto de ganhar – deu sempre essa ideia, de resto. No entanto, não é dos justos que raza a história do futebol, mas dos implacáveis. E nos penáltis, os gauleses estiveram irrepreensíveis ao contrário de Portugal, que se despede do Campeonato da Europa (3-5).
É o fim de um sonho e de figuras de uma geração que tinha qualidade para chegar mais longe. As lágrimas de Pepe, agarrado a Ronaldo após os penáltis, significam o fim de uma era – e que viagem foi!
Portugal ousou tentar ser do tamanho do seu sonho contra uma das seleções favoritas. Encheu-se de coragem, de fé e deu imagem real do seu valor. Deixou-nos com um pequeno brilho de entusiasmo nos olhos. A Seleção teve qualidade, critério com bola e acima de tudo, um plano que não mostrava medo do poderio gualês.
Martínez manteve o 4x3x3,
mas deu a bola aos criadores
Percebeu-se a ideia: entregar a batuta a Vitinha (que bem joga!), a Bruno Fernandes e a Bernardo Silva. O jogador do Manchester City foi o «jóquer» e apareceu na versão criador (como é exigido), jogando bem mais por dentro do que nos jogos anteriores. E Leão foi a aposta para desmontar a França – nem sequer baixava para acompanhar Koundé para a Seleção ter sempre a hipótese de sair rápido em transição.
No fundo, Portugal jogou o jogo em que é bom e que se exige a este grupo. Com bola, a ditar os tempos de jogos, a fazer o adversário correr, enfim, a ser Portugal. Faltou, ainda assim, maior poder de fogo. Duas ou três arrancadas de Leão e dois remates fora do alvo de Bruno Fernandes foram insuficientes para a equipa nacional marcar na primeira parte.
«Le Bleus» aguentaram o golpe e ripostaram duas vezes à passagem dos 20 minutos com duas ameaças. Primeiro foi Theo e depois, Mbappé, mas esbarraram num Diogo Costa ainda em versão do jogo anterior.
A segunda parte foi distinta embora a Seleção tenha começa melhor. As primeiras ocasiões foram, de resto, portuguesas, mas nem Vitinha nem Bruno Fernandes tiveram arte para bater Maignan. Deschamps sentiu o perigo e alterou, lançando Dembélé para o lugar de Griezmann.
A França cresceu à boleia da velocidade do extremo do PSG e assustou como nunca tinha feito antes. Rúben Dias fez o que parecia impossível e travou o remate de Kolo Muani na cara de Diogo Costa. Sem nenhum herói para impedir o golo, valeu a Portugal a perdida de Camavinga na pequena área.
Roberto Martínez sentiu o jogo fugir à «equipa das Quinas» e trocou João Cancelo e Bruno Fernandes por Nélson Semedo e Francisco Conceição. Portugal recuperou o controlo, mas sem ameaçar verdadeiramente. Nem os portugueses nem os franceses estavam dispostos a arriscar, de resto – gritava-se prolongamento. A França raramente incomodou Portugal com exceção a um lance de Thuram que Pepe anulou com a classe que lhe é reconhecida e um remate de Barcola à malha lateral – tinha substituído Dembélé. Por sua vez, a Seleção nacional teve duas boas ocasiões para fechar a eliminatória e reservar um lugar nas meias-finais. A melhor de todas foi no último suspiro do prolongamento com Bernardo a entregar a Nuno Mendes a possibilidade de ser herói, mas o remate acabou nas mãos de Maignan.
Por ora, já Félix e Matheus Nunes estavam em campo, quiçá a pensar nas grandes penalidades. O médio do Manchester City não chegou a ter oportunidade de bater um penálti, uma vez que a França não desperdiçou nenhum dos cinco que tentou e aproveitou o único falhado por Portugal, da autoria de Félix, para marcar duelo com a Espanha nas meias-finais. Por um centímetro se perde, por um centímetro se ganha.