Os “leões” bateram o Boavista por 1-0 e conquistam a liga portuguesa a duas jornadas do fim. A equipa comandada por Ruben Amorim quebra um jejum que durava desde 2001/02 e de forma (para já) invicta.
11 de maio de 2021: o Sporting volta a sagrar-se campeão nacional, 19 anos depois da última conquista (2001/02). Os “leões” bateram o Boavista por 1-0, com golo de Paulinho aos 36 minutos e sucedem ao FC Porto no trono de campeão, a duas jornadas do fim da liga. O Sporting conquistou o 19º título de campeão nacional. No arranque deste campeonato, as casas de apostas davam 3% de probabilidade do Sporting ser campeão nacional…
Jejum de 19 anos
Na viragem do século e do milénio, o Sporting entrou a todo o gás e parecia que iria inverter a escassez de títulos nos anos 80 e 90. O Sporting impediu o “hexa” do FC Porto em 2000 e conquistou o título também em 2002 (Boavista foi campeão em 2001). No entanto, passaram-se 19 anos…
Desde essa conquista de 2002, o Sporting teve sete presidências diferentes: Dias da Cunha (2000-2005), Soares Franco (2005-2009), Eduardo Bettencourt (2009-2011), Godinho Lopes (2011-2013), Bruno de Carvalho (2013-2018), Torres Pereira (Comissão de Gestão, 2018) e Frederico Varandas. Pelo balneário passaram 21 treinadores, como Paulo Bento, Leonardo Jardim, Marco Silva e Jorge Jesus e jogadores como Liedson, Rui Patrício, João Moutinho, Nani, William Carvalho, Adrien Silva, Bruno Fernandes e tantos outros que não conseguiram ser campeões pelo Sporting.
Bater no fundo
Em 2018, rebentou uma crise sem precedentes no Sporting. O presidente era Bruno de Carvalho, o treinador era Jorge Jesus e a 15 de maio desse ano, um grupo de alegados adeptos do Sporting decidiram invadir a Academia do clube, em Alcochete e deixaram a marca em staff técnico e nos jogadores que estavam no balneário.
Um verdadeiro atentado que deixou o futebol português de boca aberta e que correu o mundo inteiro. No verão desse ano, inúmeros jogadores decidiram deixar o Sporting assim que fosse possível. O Sporting tinha acabado de bater no fundo. Bruno de Carvalho terminou o mandato, foi expulso de sócio e proibido de se recandidatar. Nas eleições, a 8 de setembro de 2018, levou a melhor um homem que já estava no Sporting desde 2011, como médico do clube. Frederico Varandas, já madrugada a dentro, ganhou e abraçou o projeto como “o desafio mais importante” da sua vida.
Reconstrução
A primeira época não correu muito bem, nem muito mal. Em 2018/19, o Sporting venceu a Taça de Portugal e revalidou a conquista da Taça da Liga. Na liga, ficou-se pelo 3º lugar e falhou o acesso à Liga dos Campeões. O primeiro treinador contratado por Varandas foi Marcel Keizer, que ainda chegou a comandar a equipa na primeira metade da época 2019/20. Entretanto, saiu no último dia do mercado de verão e entrou Silas para o comando técnico do Sporting. A experiência também não correu bem e Lionel Pontes orientou (de forma interina) a equipa leonina.
O Sporting não vivia num mar de dinheiro, nem lá perto. Vendeu Bruno Fernandes para o Manchester United por 55 milhões de euros (+25 milhões por objetivos) e ficou com cerca de 40 milhões nos cofres (o restante foi gasto em comissões). Mas Frederico Varandas queria fazer um “all-in” num treinador, numa altura em que já era contestado nos jogos em casa do Sporting. Em março de 2020, poucos dias antes da paragem do campeonato devido à pandemia da Covid-19, Varandas foi ao Braga “roubar” Ruben Amorim. Pagou (não de imediato) a clausula de rescisão e trouxe o antigo jogador do Benfica – e adepto assumido do clube encarnado – pela quantia recorde de 10 milhões de euros! Os adeptos cairam “em cima” do Presidente, depois de um investimento histórico num treinador que ainda hoje não concluiu todos os níveis necessários para treinar uma equipa de futebol sénior de primeira divisão.
Instalou-se a pandemia e o futebol ficou em “stand-by”. A primeira liga regressou no início de junho e o Sporting terminou o campeonato em 4º lugar. Esta época, arranque em falso, com a eliminação precoce na qualificação para a Liga Europa, com uma goleada em casa sofrida perante o LASK Linz, da Áustria. Nas taças internas, o Sporting foi eliminado da Taça de Portugal, pelo Marítimo, nos oitavos de final. No entanto, conquistou a Taça da Liga, na final frente ao Sporting Clube de Braga, antigo clube de Ruben Amorim.
Entretanto, na liga portuguesa, passaram-se seis jornadas e o Sporting subiu ao 1º lugar, de onde nunca mais viria a sair. Em 32 jornadas, o Sporting somou 25 vitórias e sete empates, e conquistou o título de forma invícta, feito histórico no clube de Alvalade. A espera terminou…
Futebol pragmático
Tantas foram as épocas que o Sporting era “acusado” de jogar futebol ofensivo e de não ganhar nada. Ora este ano, Ruben Amorim não complicou. Pediu os jogadores que pretendia – dentro do possível para os cofres leoninos – e manteve-se fiel ao sistema tático 3x4x3. Compreendeu as limitações individuais e reforçou as qualidades com um grande entruzamento, esforço e comprometimento tático coletivo. Adán protegeu a baliza, Coates comandou a defesa, Palhinha controlou o meio-campo, Nuno Mendes e Porro deram asas à equipa e Pedro Gonçalves foi um goleador de equipa grande. Mesmo um “pote” de surpresas…
Em 32 jornadas disputadas, o Sporting venceu pela margem mínima 12 jogos. Sorte, estrelinha? Competência. No duelo direto com os dois rivais, empatou dois jogos com o FC Porto e venceu em casa o Sport Lisboa e Benfica. O Sporting tem a melhor defesa do campeonato, com 15 golos sofridos e o 3º melhor ataque da prova, com 57 golos marcados.
“Pote” cheio de golos
Pedro Gonçalves, apelidado de “pote” no futebol português, é o melhor marcador da equipa leonina. O avançado de 22 anos brilhou no Famalicão na época anterior e o Sporting desembolsou 6.5€ milhões de euros para contratar o jogador. Em 34 jogos oficiais, Pedro Gonçalvez fez 18 golos e cinco assistências.
Capitão Coates
Ao fim de cinco épocas ao serviço do Sporting, Coates “saiu da toca” e afirmou-se como o patrão da equipa, um líder de balneário e um goleador nos minutos finais. Nas épocas anteriores, Coates chegou a ser alvo de chacota dos adeptos, devido a autogolos e penáltis cometidos. Mas este ano, o defesa-central uruguaio veio de cabeça limpa, beneficou do esquema tático de Ruben Amorim (3-4-3) e transformou o seu futebol. Na liga, marcou cinco golos que valeram muitos pontos ao Sporting. Quando o Sporting se encontrava em desvantagem ou empatado, lá ia Coates para a grande área, na missão de salvação.
Uma última palavra para Frederico Varandas. Afinal, foi um médico militar, com a ajuda de um treinador ainda na “escolinha”, que ressuscitou e voltou a dar vida a um leão que estava moribundo, ferido e que não mais era o rei da “selva”…