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4 | Jornal A Voz de Portugal
        4 | Jornal A Voz de Portugal  Quarta-feira, 2 de setembro de 2020
         HUAWEI PODE CONSIDERAR SAÍDA DO MERCADO DE SMARTPHONES, DIZ ANALISTA: Será no dia 15 de setembro que a Huawei terá de lidar com
         novas sanções impostas pela administração Trump e que impedirão a empresa de ter acesso a tecnologias desenvolvidas. Pois bem, diz o analista Ming-Chi Kuo
         que estas novas limitações poderão, no pior dos cenários, ditar a saída da Huawei do mercado de smartphones. A previsão de Kuo não é abonatória para a em-
         presa chinesa e indica que, na melhor das hipóteses, a Huawei terá de lidar com uma queda da sua quota de mercado. A acompanhar esta tendência estará um
         potencial crescimento para rivais como a Apple e até para as conterrâneas Xiaomi, Oppo e Vivo. Como recorda o cnTechPost, a Huawei já se está a preparar para
         CRÓNICA               estas novas sanções com a encomenda à MediaTek de 120 milhões de chips. Parece garantido que os dispositivos da série Mate 40
                               não serão afetados mas o mesmo não é garantido em relação aos topos de gama do próximo ano.
        OS PAÇOS DE D. LEONOR

                                                         que  as  famílias  tivessem  conhecimento  do  que  liar, obrigou o filho a recolher ao  Mosteiro das
                          JOSÉ DA                        se passava. Pela tarde, dirigiam-se a um abismo  Berlengas. Achou, contudo, que o castigo não era
                          CONCEIÇÃO                      rochoso, frente ao mar, por um pequeno carreiro  suficiente, e fê-lo entrar no noviciado da ordem.
                              ada país tem os seus  aberto pelos seus passos. Sentavam-se no alto do  Inconsolável  ele,  inconsolável  ela!  Que  fazer,
                              Romeu e Julieta. Entre  penhasco olhando o mar. Lá em baixo, as gaivotas  porém? E mais uma vez trataram de esperar pelo
                       Cnós, conta a lenda que o  ora planavam sobre a água prateada, ora picavam  tempo, que abrandaria as iras.
                       Romeu se chamava Rodrigo, e  sobre as ondas, donde emergiam com um peixe            Rodrigo decidiu que, entretanto, não deixaria de
                       a Julieta, Leonor. Diz-se que há  no bico. O sol ia caindo sem melancolia, porque  ver  a  sua  Leonor---precisava  vê-la  e  falar-lhe--
        muitos, muitos anos, ali na região de Peniche,  aquele ainda não era o tempo da melancolia. Ro-   --todos os dias. Para isso iludiu os seus superiores
        existiam duas famílias riquíssimas que mutua-    drigo e Leonor estavam ali , a temporais, sendo  do mosteiro e, em noites de antemão combinadas,
        mente se odiavam. A causa desse ódio talvez  eles mesmos o barulho das vagas contra a rocha, e  saía do convento e dirigia-se a uma pequeníssi-
        já não a lembrassem, mas o facto é que ele ia  o piar quase aflitivo das gaivotas, o grito silencio-  ma  enseada  onde  o  esperava  um  velho  amigo
        passando de geração em geração, como legado  so do sol morrendo no mar. Eles estavam e espe-      pescador, com um bote. Embarcava e o pescador
        familiar.                                        ravam. Esperavam que o tempo viesse e apagasse  remava silenciosamente até à costa, em direcção
         Dizem que ódio velho não cansa, mas, a certa  dos seus microcosmos familiares o ódio velho e já  ao cabo Carvoeiro, desembarcando num porti-
        altura, este ódio sem razões entre as duas famí- sem história. Enganaram-se, porém. Um dia, o pai  nho a que chamam Carreiro de Joana, ou Joane.
        lias cansou. Rodrigo, filho de uns, e Leonor, fi-  de Rodrigo descobriu o que se passava. Furioso,  Quando Rodrigo chegava, já Leonor o esperava.
        lha dos outros, apaixonaram-se. Durante alguns  mais por tudo se passar sem o seu consentimen-    Recolhida numa gruta onde só se conseguia che-
        meses viveram o seu amor, plenamente, sem  to e conhecimento do que pelo velho ódio fami-         gar na maré baixa, virada de frente para o lado
                                                                                                          de onde viria Rodrigo, Leonor aguardava a passa-
                                                                                                          gem do batel para acender uma luz assinalando a
                                                                                                          sua presença. Durante noites e noites, tiveram os
                                                                                                          dois amantes o seu encontro, até que, uma noite,
                                                                                                          a luz não se acendeu. Mas acendeu-se o grito no
                                                                                                          corpo de Rodrigo e estilhaçou-se contra as rochas
                                                                                                          vazias que lhe devolveram apenas farrapos do que
                                                                                                          fora, do que tinham sido, do que jamais seriam.
                                                                                                          Semienlouquecido pela suspeita, sondou o mar
                                                                                                          negro e viscoso. Junto ao barco passava qualquer
                                                                                                          coisa clara flutuando na escuridão. Rodrigo lan-
                                                                                                          çou o braço e, ao reconhecer a capa de Leonor,
                                                                                                          saltou-lhe  o  coração  do  peito,  saltou  o  homem
                                                                                                          do barco, tentando abarcar no mar o corpo que
                                                                                                          não iria encontrar. Contou o velho pescador que
                                                                                                          Rodrigo, depois de ter por resposta ao seu grito
                                                                                                          o silêncio, quando viu a capa a flutuar na água
                                                                                                          atirou-se ao mar e não mais voltou à superfície,
                                                                                                          sendo impossível valer-lhe. E em terra, o que se
                                                                                                          passara?  Leonor  chegou  à  gruta  como  todas  as
                                                                                                          outras noites, com antecedência e aproveitando
                                                                                                          a maré. Aguardava a passagem do batel quando
                                                                                                          ouviu vozes, que reconheceu serem a do seu pai
                                                                                                          e  de  seus  irmãos,  que  a  procuravam.  Julgou-se
                                                                                                          descoberta e, antes que fosse vista, tentou fugir,
                                                                                                          ocultar-se. Saltou de rochedo em rochedo, preci-
                                                                                                          pitadamente. De repente, escorregou-lhe um pé,
                                                                                                          e debaixo dela abriu-se o abismo que a recebeu
                                                                                                          nos seus braços, tal como Rodrigo o faria.  Diz-se
                                                                                                          que, no dia seguinte, apareceram os cadáveres dos
                                                                                                          amantes. O de Leonor, entalado entre os penhas-
                                                                                                          cos que bordam aquele sítio. O de Rodrigo, leva-
                                                                                                          do pela corrente, num banco de rochas a sueste
                                                                                                          dos Remédios. Esta história de amor transmitida
                                                                                                          pela tradição chegou até nós perpetuada nos lo-
                                                                                                          cais que ainda hoje conservam os nomes dos infe-
                                                                                                          lizes protagonistas. Á gruta chamam Paços de D.
                                                                                                          Leonor, e aos rochedos onde apareceu o cadáver
                                                                                                          de Rodrigo, o sítio de Frei Rodrigo.
                                                                                                           CLAUDIA ARRUDA & ARMENIA TEIXEIRA
                                                                                                                          ADVOGADAS
                                                                                                            ARRUDA TEIXEIRA INC.
                                                                                                               28, rue Notre-Dame Est, suite 302
                                                                                                                     Montreal, QC, H2Y 1B9
                                                                                                                         info@atlegal.ca
                                                                                                               T.: 514 375.2338  F.: 514 375.2339
                                                                                                           4999, Boul. Saint Charles, bur. 102
                                                                                                                 Pierrefonds, Qc, H9H 3M8
                                                                                                                     Fax: 514 624.8632
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