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LA VOIX DU PORTUGAL | MARDI LE 21 SEPTEMBRE, 2021 | 3 CRÓNICA
RIO ACUSA LÍDER DO PS DE "DESMENTIR" O PRIMEIRO-MINISTRO SOBRE REFINARIA
Num comício em Matosinhos, Rio disse que iria usar uma cábula para não se enganar e citou declarações de António Costa, feitas em maio de
2021 sobre o mesmo assunto, segundo as quais o primeiro-ministro terá dito que o encerramento da refinaria de Matosinhos era "um enorme
ganho para a redução de emissões". "Ontem veio na qualidade de secretário-geral do PS desmentir formalmente o primeiro-ministro António Cos-
ta, foi isso que ele ontem veio aqui fazer", acusou. No domingo, também num comício em Matosinhos, Costa considerou que "era difícil imaginar
tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade" como a Galp demonstrou no encerramento da refinaria de Matosinhos, prometendo uma "lição
exemplar" à empresa.
A política e povos desinspirados
JORGE CORREIA momento como um momento de viragem impor- maternidade em Coimbra!), como se de eleições le-
Cronista do jornal tante devido à destruição de estruturas e ideias que gislativas de tratassem, ou numa tentativa despudo-
tínhamos antes das crises climáticas e sanitária que rada de comprar eleitorado. Muitos me dirão: todos
emos a curiosa circuns- vivemos. Aos partidos pequenos nem vou referir, fazem isso! Pois é, mas fazem-no porque o eleito-
tância de tanto no Canadá tal a cegueira utópica em que vivem (verdes, bloco rado assim o permite! Fazem-no porque os compe-
Tcomo em Portugal viver- quebecois) ou a aberração política que representam tentes e com mérito são arredados para dar lugar
mos eleições, federais por cá e au- (PPC). aos oportunistas. Querem melhor exemplo? Vejam
tárquicas em terras lusitanas. É um É certo que por todo o mundo há uma esquizo- o líder da task force de vacinação em Portugal, Vice-
momento único, ainda que com frenia crescente do cidadão em relação às suas -almirante Gouveia e Melo. Com os mesmos recur-
as diferenças óbvias, de estabelecer um paralelo opções. Cada cidadão vota mais por uma particu- sos, sem fazer queixas ou agitação nos media, levou
entre ambas e até enquadrá-las no ambiente so- laridade emocional do que propriamente baseado Portugal dos últimos lugares em vacinação para o
ciopolítico que se vive internacionalmente. É um num ideal. E aqui falo em ideal, não em ideologia, lugar cimeiro! Comparem agora com o seu anteces-
tarefa talvez demasiado ambiciosa mas que deve esta sendo nada mais do que um apego emocional a sor, onde não havia dia onde não houvesse drama,
ser feita para pelo menos incitar ao leitor amigo ideais que muitas vezes se mostraram falidos. A exi- com os resultados que se viram.
uma maior vontade de participação cívica. Sem gência do cidadão puxa pelos seus líderes políticos, Se os líderes políticos têm uma enorme responsa-
esta entregamos as opções dos nossos países, ou mas os políticos têm também o papel de puxar pela bilidade, o cidadão também tem a sua responsabi-
localidades, aos oportunistas, aos ilusionistas ou sua população, de os inspirar, de os motivar através lidade de exigência para com os seus líderes. Uns
aos equivocados levando ao aparecimento de líde- de ideais que ultrapassem a limitação dos conceitos puxam por outros, e quando uns estão deficientes,
res que agitam muito as águas mas de substância partidários. o outro lado tem a obrigação de elevar aqueles que
nada têm. Portanto, votar é um direito mas acima Portugal padece também desta enfermidade: as podem pensar e fazer melhor. Sejamos conscientes
de tudo um dever pela responsabilidade inerente eleições não passam da exposição de um rol de pro- e façamos por criar um clima correto de inspiração
ao ato de escolha que exercemos. messas para satisfazer clientelas, clientelas estas que rumo ao futuro.
À hora que escrevo ainda não temos resultados do se mostram cada vez mais fúteis e equivocadas em
Canadá, mas podemos traçar alguns aspetos que interesses imediatistas em detrimento do futuro.
devem merecer reflexão por parte do cidadão. Co- Não é sem assombro que vemos o primeiro minis-
mecemos pelo facto do despoletar das eleições. Sim, tro António Costa passear-se por Portugal debitan-
é muito provável que Justin Trudeau tenha despole- do discursos carregados de promessas (ex.: nova
tado as eleições num oportunismo político.
Mas, se o governo fosse de outro partido, não teria
acontecido o mesmo ou algo semelhante?
Esta é uma discussão que acaba por ser estéril, pois
o insistir nesta ideia mostra apenas que a oposição
não está preparada, não tem ideias e não tem vonta-
de de pegar no leme do país.
Assim, de forma geral, uma população nunca deve
recear ser chamada às urnas de voto e não deve
levar este ato como um incómodo, mas sim como
uma oportunidade de exercer o seu direito ardua-
mente conseguido ao longo de épocas de lutas.
A necessidade destas eleições, segundo o primei-
ro ministro cessante, é de chamar os canadianos a
serem claros nas suas opções face a um momento
determinante para o futuro do Canadá. Estou de
acordo.
Mas confesso-me desiludido, pois passámos uma
campanha desinspirada e afastada da ideia do que
queremos para o futuro.
Passámos por uma campanha desmotivante, em
que o foco era porque não votar no adversário sem
mostrar o quê e porquê da nossa alternativa.
Tanto os conservadores como os novos democra-
tas, adversários mais diretos dos liberais para ascen-
derem ao poder, a meu ver, falharam em mostrar a
idealização de um Canadá futuro.
Trudeau também lamentavelmente falhou este
objetivo, ainda que tenha identificado e bem este