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A VOZ DE PORTUGAL | 4 DE MAIO DE 2023 | 3 CRÓNICA
Pode ficar pior? Pode, pode!!!
JORGE CORREIA da assembleia, quer penalizar a ARTV e seus funcio- mentais, observando-se um grave défice de competên-
Cronista do jornal nários que apenas estavam a fazer o seu dever, e bem! cia e um excesso de compadrio ideológico que deveria
Não lembra o autoritarismo e perseguição de outros fazer soar os alarmes na sociedade portuguesa. Se re-
or mais que se tente não se pode tempos? pararmos bem, é difícil encontrar alguém no governo
ignorar o caos que se passa em Os episódios são tantos que nos devem levar a todos a ou alguém que tenha passado pelo governo com per-
PPortugal. E caos é uma palavra tirar ilações sérias. A questão que se põe é: este gover- curso no setor privado, ou com vida para além do apa-
simpática face às situações surreais no tem condições para continuar? A resposta é mais relho partidário ou do funcionalismo público, o que
que vêm a lume diariamente da parte complexa do que parece. Por princípio, pessoalmente, só por si é bastante revelador. Este aspeto, na minha
do atual governo. acho que todos os governos devem chegar ao fim dos humilde opinião, para um governo com maioria ab-
E cada vez pior. Das inúmeras polémicas que já leva- seus mandatos. E porquê? Porque a governação impli- soluta legítima, ou seja, com condições para governar,
ram à demissão uma dúzia de governantes em cerca ca por vezes tomadas de posição e a implementação e ao fim de oito anos nas rédeas do país, revela só por
de um ano, da incompetência que tem revelado nas de medidas difíceis que, provocando alterações de opi- si que muito provavelmente não terá capacidade de
variadíssimas ações em vários setores – habitação, nião pontuais da sociedade, perturbariam o normal e trazer talento para a sua equipa e por conseguinte não
economia entre outros – temos agora a TAP que está estável desenrolar da governação. Esta não pode nem tem condições para liderar o país. Coloca-se assim, de
a demolir gradualmente o governo revelando a in- deve estar ao sabor dos humores do momento sobre uma forma séria, a possibilidade de dissolução da as-
competência e uma indigência de caracter a todos os pena de cada governo começar a interessar-se apenas sembleia da república, pois o país não pode perdurar
níveis, como se fosse novidade, mas surpreendente por aquilo que é simpático à população, ou seja, seria neste clima de incompetência e desgoverno quando
pela repetibilidade qualitativa dos atos e posturas face uma queda para o populismo fácil. Governos que não há condições totais de governabilidade. É esta altura
a uma sociedade apática e indolente. Temos o aniver- optassem por esta via seriam rapidamente levados à certa? É difícil de dizer. Pode-se efetivamente calcular
sário do 25 de Abril, com a questionável presença de queda inviabilizando o mínimo de estabilidade para por forma a que um possível calendário eleitoral caia
Lula da Silva por vários motivos, onde à ridícula e ig- uma governação com condições de fazer progredir o numa época mais favorável ao voto por forma a evitar
norante postura do Chega, temos a também ridícula e país. Mas este princípio não é nem deve ser absoluto, o absentismo dos eleitores. Mas algo é certo, quando se
ignorante reação de Augusto Santos Silva – presidente pois assim desresponsabilizaria qualquer governo das pensa que não pode ficar pior, eis que somos confron-
da assembleia da república, e segunda figura do esta- consequências da sua governação e da sua capacidade tados com mais um episódio, mais uma polémica que
do português – culminando num vídeo captado pela de governabilidade, com consequências também ne- não se pode ignorar.
ARTV (canal do parlamento português) onde Au- fastas para o país. A pergunta que se coloca é: onde
gusto Santos Silva faz comentários reveladores da sua se posiciona o atual governo português? Há algo de
postura infeliz, reagindo agora contra quem captou as preocupante neste governo, aliás, desde 2015, quando
imagens (ARTV) sabendo muito bem que os profis- António Costa tomou posse: uma notória inclinação e
sionais que captaram as imagens as fizeram em pleno gosto pela radicalização, não só nas suas hostes socia-
cumprimento das suas funções. Voltando à TAP, desde listas, mas também em enaltecer as hostes mais radi-
a reversão da privatização, que custou se não me falha cais que entretanto se foram formando em oposição.
as contas, mais de três mil milhões de euros ao con- Pedro Nuno Santos, João Galamba, entre outros, ou
tribuinte, reversão esta que foi em nome do interesse mesmo o assessor envolvido nas recentes polémicas
estratégico da empresa, mas que agora deve ser pri- de computador, violência e polícia, Frederico Pinheiro
vatizada o mais rapidamente possível, de preferência (que colaborou com Ana Drago, na altura pertencente
até antes do verão; do episódio do despedimento da ao Bloco de Esquerda), pertencem à ala mais extremis-
CEO, para o qual havia parecer, mas afinal não há, mas ta do partido socialista (PS). Ao mesmo tempo Antó-
afinal é uma questão de semântica, onde vários minis- nio Costa e outros altos representantes do PS, que se
tros se contradizem entre si; da reunião do governo encostam à extrema esquerda, fazem tudo para enalte-
com a CEO na véspera da sua presença na comissão cer a radicalização oposta, personalizada no não mais
de inquérito para combinar perguntas e respostas, ale- recomendável Chega, tentando polarizar e radicalizar
gadamente por iniciativa do ministro das infraestrutu- a política portuguesa. Se isso acontecer, saberemos
ras João Galamba, mas afinal não, mas afinal aparece ao menos quem serão os responsáveis. Outro aspeto
provas que desmentem o ministro Galamba; do seu significativo e para mim de importância fundamen-
assessor, que foi despedido, alegadamente com episó- tal, desde 2015, é a incapacidade de António Costa,
dios de violência, roubo de um computador, polícia à e o atual PS, de angariar personalidades da sociedade
mistura, assessoras trancadas numa casa de banho e civil, mesmo simpáticos ao PS, para cargos governa-
vidros partidos; este mesmo assessor acusa o ministro
de mentir; gravíssimo, o SIS (serviços secretos de in-
formação, dependentes do primeiro ministro) foi ale-
gadamente chamado para recuperar o tal computador,
muito à moda da PIDE (!) como esta era utilizada para
controlar os cidadãos; afinal aparece outro desmentido
onde o assessor teria já declarado quando iria devol-
ver o computador... Está confuso? Não se preocupe, é
normal perante o desnorte e a leviandade demonstra-
da pelos membros do governo! A hipocrisia reina: o
próprio Augusto Santos Silva, que se assume como de
esquerda, anti-fascista, na sua qualidade de presidente