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A VOZ DE PORTUGAL | 11 DE MAIO DE 2023  | 3                                   CRÓNICAS
        As consequências




                     JORGE CORREIA                       metido com situações que os portugueses já come-  verno neste momento?
                     Cronista do jornal                  çaram a descobrir que são meras ilusões na sua as-  Penso que sim, pelo menos para deixar a comissão
                                                         sociação com um governo que está em ruínas, ficou  de inquérito parlamentar sobre a TAP chegar ao fim
                            a semana passada abordei a  facilmente encurralado como consequência de um  e haver a possibilidade de esclarecimento público
                            possibilidade de dissolução  comportamento que vem desde o início dos seus  para se confirmar responsabilidades.
                     Nda assembleia com a conse-         mandatos. Já sabemos como funciona o primeiro     No meio de todos estes malabarismos e espetáculo
                     quente demissão do governo, prati-  ministro António Costa: basta ver o seu compor-  triste quem fica a perder é o país e a sociedade. Mas
                     camente única arma efetiva da parte  tamento com o então líder do partido socialista,  aqui também esta sofre a consequência do seu com-
        de um presidente da república pela constituição.   António José Seguro, que na altura em pleno deba-  portamento mendicante e facilitador, de desleixo e
         Mas há outra arma: o poder de influência, que se  te televisivo não se inibiu de acusar António Costa  inércia, dando espaço aos oportunistas e irrespon-
        pode exercer de variadíssimas formas, sendo a pa-  de traição, sem que este pestanejasse ou se sentisse  sáveis capazes de espetáculo mas vazios de substân-
        lavra a mais comum. Para um presidente, que por  incomodado. As personalidades são o que são e de-  cia.  Entretanto  saiu uma sondagem,  já  depois de
        definição do seu papel encontra-se numa posição  monstram-no pelo seus comportamentos mas aci-    todo este circo da semana passada, no qual o PSD,
        delicada, pois só tem duas armas, uma mais passi-  ma de tudo pelas ideias que sustentam os seus atos.  como habitual força opositora, mantém-se empata-
        va e outra sobre a forma de uma autêntica bomba   E Costa demonstrou-o bem com todo este episó-   do com o PS, sobe os indecisos e continua a subida
        atómica, é importante o seu desempenho ao longo  dio da TAP e seus ministros, adjuntos, etc.      do Chega, que revela duas coisas: o alheamento das
        do mandato por forma a manter o devido distan-    Ainda fica por desvendar a situação da intervenção  pessoas moderadas e de bom senso, por se encon-
        ciamento e por conseguinte habituar a sociedade a  do SIS, a meu ver extremamente grave em termos  trarem fartas de todo este comportamento da classe
        uma certa sobriedade, para essencialmente valori-  democráticos, que está a passar um pouco ao lado  política, incluindo a sua incompetência; os radicais
        zar a sua palavra e a sua intervenção.           da opinião pública mas que penso poderá dar mais  têm cada vez mais força e motivação, o que perigo-
         Infelizmente Marcelo Rebelo de Sousa, demasiado  material explosivo dentro em breve. Marcelo esteve  samente nos atira para uma polarização e radicali-
        rápido nas suas intervenções e demasiado compro-  bem em não dissolver a assembleia ou demitir o go-  zação da política, com as habituais consequências
                                                                                                          nefastas a que a História nos habituou. Fica então
        "A VIDA É O SOMATÓRIA DE PROBLEMAS E SUAS CONSEQUENTES SOLUÇÕES"                                  a pergunta: estaremos conscientes e preparados
        A RELAÇÃO ENTRE LUANDA E AS CHUVAS                                                                para as consequências das nossas escolhas de ideias,
                                                                                                          comportamentais e de ação?

                      JOSÉ MANUEL                        diariamente a intervenção das autoridades na necessi-
                      Cronista do jornal                 dade de se olhar com seriedade à falta de um sistema
                     A
                                                         de esgotos que funcionem de facto.
                             frase entre parêntesis deve-
                             ria ser uma práxis e aplicada
                             às nossas vidas, no caso em
                     particular de Luanda, capital de An-
        gola, quem de direito deveria pelo menos encarar
        com mais preocupação. As chuvas que se verificaram
        durante o mês de Abril último, criaram destruição,
        perdas humanas e infraestruturas e esta história não
        é nova.
         As chuvas torrenciais tendem quase sempre a criar
        estragos por onde passam, mas isso, somente se não
        haver um sistema de esgoto e escoamento que segue os
        padrões da boa construção. Luanda, parece ser a cida-
        de inimiga das chuvas, sendo elas torrenciais ou não,
        não que as chuvas sejam má, mas sim, pelo despreparo
        da própria cidade em relação às chuvas. As inundações   Para acabarmos ou minimizarmos, tal situação, hou-
        e estragos que elas causam em Luanda, não são novas   ve até quem tenha dado a ideia da criação do chamado
        mas sim, antigas, elas criam charcos que tornam in-  Rio Luanda, projecto que visa o reaproveitamento de
        transitáveis as já poucas e pobres vias que temos em   alguns rios que passam por Luanda, sendo mal apro-
        Luanda, muitos de nós em alguns lugares sobretudo   veitados actualmente, que permitiria a criação de um
        nalgumas praças informais e periferias de Luanda, te-  sistema de esgotos e escoamentos de águas residuais
        mos de usar sacos sobre os pés para evitar o lamaçal   e das chuvas e que possibilitaria também a reabilita-
        que nos invade, o mais preocupante em tudo isto é que   ção e criação de novas infraestruturas. Deve se apostar
        com o actual estado de coisas parece que nos próximos   em obras que respeitem os princípios de urbanismo e
        anos quando chover ou não torrencialmente voltare-  modernidade, obras que não sejam frutos de superfa-
        mos a ter e mencionar os mesmos problemas, até pare-  turamento orçamental mas quando construídas venha
        ce um ciclo vicioso. Alguns de nós até dizem que tudo   a ser apenas descartável.
        isto acontece por não haver um plano diretor para a   Que a relação de Luanda e a chuva, não seja uma re-
        própria cidade ou então a falta de técnicos especiali-  lação de inimizade, de desconforto, de mortes, de ciclo
        zados para conceberem tal plano, porém, temos aqui   vicioso de destruição por faltas de aplicação prática de
        sim bons arquitetos e bons engenheiros que clamam   políticas sérias de obras públicas. Bem haja!
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