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A VOZ DE PORTUGAL | 8 DE JUNHO DE 2023  | 3                                   CRÓNICAS
        A nuvem de confusão em



        torno dos certificados de aforro





                     JORGE CORREIA                       uma forma de tirar do bolso esquerdo para colocar  quer  economia, sendo muito  difícil  acompanhar
                     Cronista do jornal                  no bolso direito, em que não nos devemos esque-  com rapidez a remuneração de depósitos aquando
                                                         cer, a remuneração é paga pelos impostos atuais ou  de subida de taxas de juro de referência. É preciso
                                                         futuros dos contribuintes. Se  pensarmos bem, os  esclarecer que a remuneração dos depósitos a pra-
                           stourou a confusão em tor-    CA beneficiam quem pode investir neles mas a sua  zo nos bancos já desde há muitos anos deixaram de
                           no dos certificados de aforro  remuneração é paga por todos, mesmo por aqueles  ser competitivas, servindo apenas de pouso muito
                     E(CA) com o encerramento da  que não os possuem, sobre a forma de impostos.          temporário  para alternância  entre  outros investi-
                     série E na passada sexta-feira, e co-  Correu e corre a informação que os CA estariam a  mentos.
        meço de uma nova série F com condições de re-    beneficiar os seus investidores em demasia face aos   À insistência do próprio presidente da república,
        muneração inferiores. A população em geral, in-  custos de endividamento da república portuguesa  que mais parece pedinchice do que uma interven-
        cluindo os media e pessoas influentes vieram logo  através de outros mecanismos de financiamento,  ção clarificadora, é preciso atenção, pois os bancos
        a público sobre a forma de contestação alegando  mas uma rápida consulta junto do IGCP (que gere  remunerarem em excesso pode comprometer o seu
        favorecimento aos bancos.                        a dívida pública) permite ver que essa não será a ra-  equilíbrio e, julgo eu, é de todo importante evitar
         Mas vamos por partes.                           zão pois o custo da dívida andará pelo mesmo valor  qualquer outro resgate de um banco que tantos mi-
         Há quatro visões dos CA, que tecnicamente são tí-  que era remunerada a extinta série E dos CA. Será  lhares de milhões já custou ao contribuinte.
        tulos da dívida portuguesa.                      que a contestação da influência dos bancos faz sen-  O bom senso deve imperar evitando-se diabolizar
         Do ponto de vista do cidadão é um instrumen-    tido? Muito provável.                            os bancos mas informando de forma clara e des-
        to de poupança com total garantia e facilidade de   Corria nos meios financeiros que haveria bancos  complicada os porquês para evitar os comentários
        liquidez, ou seja, caso necessário, o cidadão pode  com excesso de liquidez, mas haveria outros com  populistas e sensacionalistas que tão facilmente in-
        obter o valor mais a remuneração de forma rápida.  falta da mesma e com a fuga aos depósitos que se  cendeiam as sociedades, explicando que o equilíbrio
        Do ponto de vista dos bancos, é um instrumento  verificou desde o início do ano, avaliada em mais  entre os diversos agentes financeiros incluindo-se o
        concorrente com os seus produtos, o que obriga os  de 10 mil milhões de euros, haverá necessariamente  cidadão investidor deve estar no centro da equação.
        bancos a esforço concorrencial.                  impacto no setor bancário.
         Do ponto de vista do estado português estes pro-  Ainda mais revelador é agora o facto da nova série
        dutos permitem captar as economias internas do  de CA ser transacionável pelos bancos. Este facto,
        país e – talvez o mais importante – incentivam a  ainda que levante um coro de protestos, é facilmen-
        poupança, pois se dirigem unicamente a cidadãos,  te solucionável: não comprem CA nos bancos! Pelo
        principalmente quando há um esforço macroeco-    menos se, como cidadão e como investidor, estão
        nómico no sentido de limitar o consumo por forma  contra a muito provável comissão que os bancos re-
        a baixar a inflação.                             ceberão. Agora, há razão para pensar que os bancos
         Do ponto de vista do país como um todo, envol-  terão sido favorecidos? Também me parece muito
        vendo todos os seus agentes económicos e popula-  provável. É preciso ver que os bancos são uma parte
        ção, os CA são uma forma de autofinanciamento,  importante da economia portuguesa, como de qual-

        Recordações de Criança




                    JORGE MATOS                          minha mãe.
                    admin@avozdeportugal.com              A caixa transportava uma rara possibilidade de
                    Diretor do jornal                    festa e aquilo que na minha cabeça infantil se apro-
                                                         ximava de luxo.
                                                          Nos segmentos de plástico pelos quais se distri-
                           a época, a rotina alimentar  buíam os tipos de Bolachas de baunilha clássicas,
                           diária não passava de pão  outras cobertas de chocolate e embrulhadas em pa-
                    Ncom manteiga e pouco mais.          pel de prata colorida.
        Em dias especiais havia bolachas Maria ou torra-  Esperava sempre secretamente que ninguém esco-
        da consoante as preferências familiares.         lhesse o segmento das Bolachas baunilha cobertas
         A manteiga passava pelos furinhos quando já  ha-  de chocolate, não tanto pelas Bolachas em si que
        via alguma abundância económica e quando a aten-  por vezes ficavam moles, mas porque os papeis de
        ção dos mais velhos, capturada pela televisão ainda  prata coloridos eram uma autêntica preciosidade
        a preto e branco, permitia o excesso.            que eu endireitar longa e minuciosamente e guar-
         Mas o Natal, o dia das visitas de cerimónia ou os  dava dentro de livros.
        aniversários, esses eram os momentos de abrir a cai-  Um tesouro quase prata pura.Outros tempos que
        xa de sortido de Bolachas.                       er amos felizes sem saber.
         Havia a edição em lata mais despendiosa que era
        depois de vazia, reciclada para caixa de costura da
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