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A VOZ DE PORTUGAL | 22 DE JUNHO DE 2023 | 7 CRÓNICA
TERRÍVEIS LIMITAÇÕES
Custa Reconhecer o Confronto Civilizacional Leste-Oeste
HÉLIO BERNARDO LOPES Esta pergunta contém já a resposta a si mesma, de gente ocidental. E isto, mesmo depois de termos
heliobernardolopes@gmail.com como sabem muitíssimo bem os fingidos que assim a já tido académicos portugueses mostrando que mui-
Jornalista em Portugal colocam. Pode ver-se, e bem à saciedade, que nunca tas das grandes descobertas da ciência até tiveram
quem quer que fosse se preocupou em levar os assas- mão prévia portuguesa. Todavia, nunca se fala desta
uem acompanha a grande sinos de Kadafi a juízo, ou os militares norte-ameri- realidade. E muitíssimo menos das contribuições, e
comunicação social ao dia- canos, ou gente da CIA, que fizeram o que se sabe em do seu tempo, de gente oriental. Até a Igreja Católi-
Q-a-dia, nota facilmente a Abougrahib, ou no Afeganistão, ou em Guantánamo, ca Apostólica Romana também nunca teve um Papa
extrema dificuldade de jornalistas, ou no Vietname, ou por toda a América Latina, ou na africano – negro, claro está –, sendo até bem mais
analistas e comentadores em reconhecer a existên- Indonésia, etc.. provável que possa por aí surgir um...chinês.
cia de um confronto civilizacional entre o espaço Ora estas duras realidades têm uma causa subjacen- Nesta fase do presente texto, coloco ao leitor esta
europeu, com as suas derivações pelo Planeta, e o te: o confronto civilizacional entre o Ocidente judai- pergunta: concebe o nosso mundo centrado, por
resto do espaço deste que foi palco da colonização co-cristão, e o Oriente, este muçulmano, ou católico exemplo, num polo de comando chinês, à semelhan-
do primeiro. Um mecanismo que se estruturou no ortodoxo, ou simplesmente suportado numa ténue ça do que se dá hoje com a situação norte-america-
racismo que continua vivo e bem omnipresente no espiritualidade não estruturada. Um Oriente que, de na? Pois, custa-me acreditar que consiga conceber tal
primeiro daqueles espaços. um modo muito geral, foi tomado, subjugado e ex- e muito menos que o aceitasse com facilidade. E não
Desta realidade, invariavelmente nunca referida, re- plorado pelos ocidentais que a si chegaram. E hoje, é verdade que até a presença de brasileiros, ou ango-
sulta a repetição, com o seu quê de irritante, mesmo como seria natural, ocidentais e orientais simples- lanos, ou de membros das nossas antigas províncias
patético, de que Rússia e China são maus, e logo pela mente não conseguem libertar-se das amarras que ultramarinas, já está a causar um engulho crescente?
sua natureza, enquanto o Ocidente é naturalmente criou o desenvolvimento da chamada colonização. E não vê o que se passa no futebol e a todos os níveis?
bom e imensamente mais justo. Trata-se, todavia e Mas pensemos um pouco. Portanto, percebe esta conclusão simples: criámos a
como todos sabem, de uma falácia, que tenta manter O leitor conhece a distribuição do poder no mundo escravatura e o racismo, e eles, apesar de tudo, man-
o resultado a que se chegou depois da aplicação do atual. O Ocidente, de facto, ainda é dominante. Ao têm-se. E é assim porque nada fazemos, no Ocidente,
mecanismo colonizador. seu leme, os Estados Unidos, com esquadras navais para mudar este estado de coisas, se é que tal mudan-
É interessante constatar que mesmo os que criticam pelas sete partidas do mundo, bem como bases mi- ça é possível...
o que se vem passando com as tragédias de migran- litares em profusão. O contrário, portanto, do que se Termino com uma história pessoal, já por mim ex-
tes no Mediterrâneo salientem sempre que lhes custa passa com a Federação Russa e com a China, ou com posta há uns anos. Um assistente meu de Química,
acreditar na existência de uma separação por razões a Índia, sendo que estas duas chegaram mesmo a ser muito conceituado e bem mais velho – já falecido –,
rácicas, religiosas ou geográficas. E, no entanto, lá ocupadas pelo Ocidente, que lhes aplicaram terríveis em face das mudanças impostas por Salazar no do-
conseguem colocar a questão, mais que evidente: calvários humanos. Invariavelmente, temas de que mínio da convivência racial, perguntou-me em certa
mas se a Europa já recebeu, e bem, uns milhões de por aqui não se fala... tarde: olha lá, meu filho, tu achas que a miscigenação
ucranianos – pele branca, loiros e com olhos azuis –, Do mesmo modo, quando o leitor estuda livros de é possível...?
que razões podem levar a não proceder deste modo Matemática, ou de Física, ou de Química, mormente E de pronto fez uma torção facial, mostrando a sua
com nepaleses, indianos, paquistaneses, africanos e ao nível superior, fica com a impressão de que todo descrença. Por mero acaso, este meu histórico amigo
outros, negros, meio negros, e muçulmanos? o amplo conhecimento do mundo foi obra, apenas, era loiro e tinha olhos verdes.