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A VOZ DE PORTUGAL | 29 DE JUNHO DE 2023  | 3                                   CRÓNICAS
        Desumanizar o debate




                     JORGE CORREIA                       porque vem acompanhada por uma profunda desu-    dores. Mas sigamos o raciocínio destes. Se tivermos
                     Cronista do jornal                  manização da vida humana por sujeitar o seu valor  dois doentes com cancro do pulmão, um que fumou
                     A                                   mana pela sua miséria económica, também o é julgar  que trabalhou nas minas e por consequência sofre o
                                                                                                          a vida toda e com boa situação socioeconómica, outro
                                                         à condição material. Se é errado julgar uma vida hu-
                            recente tragédia do submari-
                            no  com  visitantes  ao  famoso  a vida humana pela sua elevada posição económica.  impacto das condições de trabalho, ainda que tenha
                                                         Ainda mais quando as situações nitidamente nada têm  auferido um rendimento regular, vamos dar preferên-
                            Titanic em que uma falha ca-
                     tastrófica ceifou a vida a cinco pessoas,  a ver, exceto por culminarem em tragédia em alto mar.  cia a este último e entregar o primeiro à sua sorte? E
                     levantou novamente o tribalismo no  Às vozes e textos que se levantaram contra os meios  se o primeiro for um enjeitado da sociedade? Já terá
        debate público sobre este evento. Lamentavelmente,  e cobertura dos cinco milionários na sua aventura,  preferência de tratamento e salvamento em relação ao
        e de uma forma miserável e execrável, comparou-se  faltou-lhes a simples humanidade de não cometerem  mineiro? Começaremos a salvar vidas humanas pe-
        este evento com o dos migrantes no Mediterrâneo,  o mesmo erro de que tanto acusam os seus adversários  dindo a notificação de impostos e inventário de bens
        duas situações completamente diferentes que apenas  sociopolíticos. Choca-me como chegámos ao ponto  para classificar as vidas humanas? Não sejamos deso-
        coincidem no lugar físico onde culminam em tragé-  onde a falta de vergonha e o oportunismo permitem  nestos e desumanos. A tragédia dos migrantes deve-
        dia.                                             que em consciência se façam este tipo de comparações,  -nos sensibilizar, sem esquecermos que se trata de um
         Em vários países mas em Portugal em particular esta  chegando mesmo à insidiosa implícita ideia de que os  problema mais vasto de estados e sociedades falhadas
        comparação foi defendida com paixão, pela elevada  tais milionários do submarino deveriam ser deixados  por diversas razões. Por outro lado os turistas do sub-
        posição socioeconómica dos turistas do submarino  à sua sorte como acontece com os migrantes no Me-  marino são privados que à semelhança dos explorado-
        e dos meios envolvidos para os salvar, em contraste  diterrâneo. Felizmente muitos comentários se revol-  res de outrora arriscam os seus recursos e vidas para
        com a miséria material dos migrantes, assim como a  taram contra este tipo de opiniões desumanas, talvez  alargar o horizonte humano. Ambos merecem ser
        cobertura mediática que foi colocada em terreno. Esta  menos bem justificados, mas que ainda chegaram a  salvos, mas o salvamento de cada um é condicionado
        comparação é de uma desonestidade intelectual atroz  ser  refutados  pelos  desonestos  e  desumanos  opina-  pelas circunstâncias das suas realidades e causas que
                                                                                                          são totalmente diversas. Claramente questões diferen-
                                                                                                          tes, que carecem de uma análise séria e equilibrada sob
        Coisas do Corisco                                                                                 pena de até sermos desumanos com aqueles que pre-

                                                                                                          tendemos à primeira vista defender: os migrantes do
                       JOSÉ DE SOUSA                      O irmão já não quis vir porque vai trabalhar durante   Mediterrâneo.
                       Cronista do jornal                o verão. É engraçado que quando a conversada disse
                                                         a Clara que íamos por duas semanas de férias, ela que
                             om,  caros leitores  e  amigos   vem de começar quase dois meses de férias escolares,
                             desta minha humilde cola-   respondeu que estava muito contente de ir, porque
                       Bboração no jornal chegou ao      nunca teve duas semanas de férias, é assim as crianças.
                       tempo das férias, mesmo se já estou   Falando em crianças, façam muito atenção a quem
                       reformado desde 2021. No dia que   confiar os vossos herdeiros, porque há por aí muitos
        vocês vão ler este artigo, eu estarei juntamente com   pedófilos, mesmo nas escolas, religiões e campos de
        a conversada e a neta mais velha na linda cidade que   férias, é só seguir as atualidades, os jornais e notícias
        me vi nasceu, Ponta Delgada.                     para ver como está cheio destes nogentos com duas
         Depois desta linda viagem, vou dar um passeio de   pernas. Sempre com os olhos vivos, porque as vezes
        cinco dias a bonita capital do retângulo português, cla-  os adultos que pensamos ser competentes, abusam e
        ro que estou a falar de Lisboa, do Benfica e também do   fazem pouco das criançinhas, de todas as idades.
        Sporting, Belenenses e Estoril.                   Nós avós paternos ou maternos se vocês podem fi-
         A nossa neta Clara já vá viajando connosco pela ter-                    nanceiramente e se têm
        ceira vez, uma a Cuba com o irmão Luca e com esta                        tempos livres façam via-
        é a segunda vez que vá aos Açores, mas ao retângulo                      gens com os netos e netas,
        português é a primeira vez.                                              eles nunca vãos esquecer
                                                                                 estes momentos, e os pais
                                                                                 vão também aproveitar,
                                                                                 quem sabe sem crianças
                                                                                 em casa, vão vos amanhar
                                                                                 mais um neto ou neta
                                                                                 para vocês levar de férias.
                                                         Eu gosto imenso de ver a Idelta mais o marido Joe e
                                                         a linda netinha em vários lugares e festas da comu-
                                                         nidade. Vou pôr um ponto final nesta minha crónica
                                                         porque a conversada está atrás de mim para preparar
                                                         a mala, vocês sabem como é, candiles, as roupas da
                                                         América, vocês sabem aquelas roupas que agente já
                                                         não usa aqui e eles metem depois p'ró lixo, as cassetes
                                                         gravadas da família daqui, é uma apoquentação.
                                                          “Um livro, uma caneta, uma criança e um professor po-
                                                         dem mudar o mundo”, Malala Yousafzai.
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