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JORN AL A V OZ DE POR TUG AL | 2 1 DE DEZEMBR O DE 2023
JORNAL A VOZ DE PORTUGAL | 21 DE DEZEMBRO DE 2023
FELIZ NATAL
FELIZ NATAL 17
“Há presépios que ninguém vê, mas
que estão montados o ano inteiro...”
RICARDO ilhas, ano após ano, encantamo-nos que vivem com 591,00€ por mês, sen-
PIMENTEL com as manifestações de alegria que do que os Açores permanecem a região
nasce no coração das famílias reunidas mais pobre do país (19,9%). Noticiava o
proxima-se a à volta do Menino Jesus: os ranchos de Jornal Expresso que “Portugal é um país
passos largos a homens e mulheres, crianças e jovens a desigual no que à distribuição de rendi-
Aúnica festa que visitarem os presépios numa imitação mentos diz respeito e que há claramente
tem o condão de nos re- sublime dos pastores, abordando os do- uma grande disparidade entre o territó-
vestir dos sentimentos nos das casas com a famosa pergunta: rio continental e os dois arquipélagos.”
mais nobres: o Natal. “o Menino Mija?”. O acolhimento que se São notícias que não nos podem deixar
A tradição cristã diz-nos que o pre- recebe dos familiares, amigos e conhe- indiferentes. A quadra natalícia deve- Em Belém ou se acredita ou não se
sépio foi criado por São Francisco de cidos com o saboroso “vinho abafado” -nos oxigenar o pensamento e a visão. acredita! E os que acreditam não o po-
Assis, na cidade de Greccio, Itália, em ou outros licores tradicionais, a visita É triste quando a Sociedade, a Igreja e dem fazer sem amar e sem se comover.
1223. São 800 anos do primeiro presé- do Menino a cada lar que se realiza em as Instituições Políticas se resignam à Não é possível desejar as “Boas Festas” e
pio que se tornou numa das mais belas e várias freguesias do arquipélago, acom- normalização da pobreza. Talvez seja em seguida acender um cigarro, beber
eloquentes tradições natalícias. panhado pela melodia incomparável fácil ficar escudado ou anestesiado na um “calzins” e continuar a viver sem ver
O presépio mostra-nos que o Natal é o das violas e violões e pela voz dos can- frieza dos números e das estatísticas. O “as alegrias e as esperanças, as tristezas e
grande ato de fé da Trindade na Huma- tadores. Nos Açores a alegria do Natal Presépio de Jesus deve-nos fazer estre- as angústias dos homens da época atual,
nidade: Deus confia-nos o seu único Fi- é palpável e não se esconde. A Missa do mecer por nos mostrar que, por detrás sobretudo os pobres e afligidos de todas
lho. Segundo a Teologia, não se trata de Galo à Meia-noite, os presépios tradi- desses números e estatísticas estão pes- as classes.” (GS)
uma simples recordação, mas de uma cionais em lugar de destaque nos lares soas que trabalham, mas que não con- Nestes dias de Natal é insuportável
profecia. Em Belém, Deus “recomeça a e o Te Deum na Passagem de Ano têm seguem sustento digno para si e para os pensar nas guerras que vão por este
recriar” a partir dos últimos. lugar de destaque nas comunidades. seus, mesmo exercendo uma profissão. mundo, especialmente na Terra Santa e
Olhando o presépio, emocionamo- Mas, se o espírito de Natal é portador de Oportunamente dizia o Papa Paulo VI: na Ucrânia. Fica a impressão que Jesus
-nos ao ver o Menino-Deus nos braços alegria e de tantas manifestações de pie- “quando alguém trabalha sem ganhar, veio há dois mil anos, mas Herodes é
de Sua Mãe: acredita nela, tem fé nela, dade e tradição, também nos toca forte alguém está a ganhar sem trabalhar.” que continua a reinar no mundo; quem
abandona-se nela. nas feridas mais dolorosas. Se Deus “re- De facto, “há presépios que ninguém tem poder não aprende com Belém e
E eis que se faz luz: Jesus nasce Homem começa a recriar a partir dos últimos”, vê, mas que estão montados o ano in- tem medo da Paz.
e assume a nossa Humanidade para que quem são os últimos para onde a estrela teiro...” Se a Igreja não se coloca ao lado E Belém é tão fácil de aprender, é o
o Homem se torne mais divino. O Cria- de Belém aponta? Lia por esses dias com dos últimos, pelo menos denunciando ganir de uma Criança Doce que “reco-
dor e a criatura voltam a abraçar-se! tristeza que, segundo os dados do INE, as injustiças, acolhendo sem reservas meça a recriar”.
A vivência do Natal nos Açores é mís- a pobreza aumentou, em Portugal, 17% e limpando as feridas, estará, uma vez Santo e Feliz Natal para todos.
tica de tão humana e natural que é. Nas no ano 2022. São 1,8 milhões de pessoas mais, do lado errado da História.