Crónica ao Sabor da Vida

Ainda há histórias capazes de roçar o lado maravilhoso da vida e que nos fazem continuar a acreditar que a perseverança e o gosto pela descoberta nos podem descerrar novos e fascinantes mundos. Irei tentar narrar, de forma sucinta, um episódio que vivi intensamente, no decorrer das minhas pesquisas em busca de material para a Antologia Literária Satúrnia.
Desde há muito tempo que me intrigava o desaparecimento do horizonte comunitário de J. António Alpalhão, co-autor, com Victor Pereira da Rosa, do celebrado livro Les Portugais du Québec, um documento indispensável para a compreensão da presença dos portugueses no Quebeque. Volatizara-se, é o termo. Por mais perguntas que fizesse a pessoas que tinham pertencido ao seu círculo de convívio, pouco adiantava, as respostas que me davam não me satisfaziam, eram muito contraditórias e evasivas.
Mas há cerca de dois anos, nas suas pesquisas no Google, a Maria João Sousa, minha preciosa companheira nestas tarefas, deparou com um tal João d’Alcor que residira em Montreal e que acabara de publicar quatro livros de poesia intitulados “Diário Diversificado”. Qual não foi o meu espanto quando reparei que uma das sinopses das obras referia que João d’Alcor era um pseudónimo literário de João António Alpalhão de Alcaravela.
Como isto da internet, quando bem utilizada, é uma ferramenta de extrema eficácia e faz maravilhas, rapidamente consegui ter acesso a um email e em poucas horas estabeleci contacto com o autor, presentemente a residir aqui ao lado, no Vermont. Qual não foi a minha alegria quando uma bela manhã recebi uma chamada telefónica. No outro lado da linha, uma voz jovial e bem timbrada, a denotar uma forte alegria de viver, identificou-se sem mais delongas: – Sou o João António Alpalhão.
Ficámos à conversa mais de uma hora. Uma conversa maravilhosa e enriquecedora, que tocou os mais diversos assuntos e que me revelou as saudades que o meu interlocutor ainda sentia de Montreal, uma cidade que o marcara profundamente. Queria saber tudo sobre a comunidade, sobre as pessoas que conhecera, a curiosidade do sociólogo e psicólogo a irromper imparável. Não sei se lhe consegui saciar essa fome insaciável mas que foi uma conversa fascinante lá isso posso garantir.
Para os menos familiarizados com a obra deste homem com um percurso de vida brilhante aqui deixo a sua biobibliografia que dispensa outras apresentações:
João d’Alcor é o pseudónimo literário de João António Alpalhão de Alcaravela. Nasceu em Pisão Cimeiro-Sardoal em 1931 e emigrou para o Canadá em 1973.
Na qualidade de presbítero franciscano e membro da Comunhão Anglicana, exerce o seu ministério, em regime ecuménico, no Canadá, Estados Unidos da América e Portugal. Especializado em Ciências de Educação, fez um doutoramento na Universidade de Montreal com a tese La psychosynthèse de Roberto Assagioli cadre systématique, visée éducative, approche pastorale Library and Archives Canada. Reside no Vermont (USA).
Áreas de especialização: Ciências de Educação (Mestrado em Andragogia) e Teologia (PhD – Tese sobre a aplicação da psicossíntese). Pós graduação na Episcopal Divinity School e Universidade de Harvard, USA (Em Teologia da Libertação, com Harvey Cox).
É autor e co-autor de diversos artigos e livros em prosa, nos domínios da sociologia e da psicologia publicados em vários países e línguas.
Algumas das suas publicações nestas áreas: A minority in a changing society:the Portuguese communities of Quebec (c/ V.P. da Rosa); Da emigração à aculturação: Portugal insular e continental no Quebeque (c/ V. P. da Rosa); Da emigração à aculturação: Portugal insular e continental no Quebeque (c/ V. P. da Rosa); Les Portugais du Québec : éléments d’analyse socio-culturelle (c/ V.P.da Rosa)
Como João d’Alcor publicou os livros: “Psicossíntese – Uma psicologia Integral” (2014) e, a partir de 2017, 4 tomos de poesia intitulados “Diário Diversificado”.
Foi o introdutor da Psicossíntese em Portugal onde, em colaboração com a esposa, Carol Blanchard, promoveu a oficialização de Centro Português de Psicossíntese.