Foi à boa maneira portuguesa e como tal, Portugal teve de sofrer para vencer a Chéquia com reviravolta (2-1) na estreia no Euro 2024.
Esta talvez não seja a Seleção dos apaixonados, como Martínez referiu na véspera, mas a Seleção dos «espalha-brasas». O espanhol foi feliz nas substituições (embora tenha mexido tarde) uma vez que os dois jogadores que entraram aos 90 minutos, Pedro Neto e Francisco Conceição, combinaram para o golo do triunfo.
Quando a bola, perdida na área, sobrou para o pé esquerdo de Conceição e acabou no fundo da baliza checa, fez-se justiça. O futebol premiou a resiliência e a capacidade lusa de contornar as dificuldades, tal como Rúben Dias tinha dito ser importante na véspera.
Portugal enfrentou o destino, abraçou as expetativas (serão desmedidas?) e aceitou o estatuto de candidato desde o momento em que entrou em campo. Colocou de parte a autocomiseração, perdeu a vergonha e assumiu o jogo como fazem as grandes seleções.
É verdade que a Chéquia, montada num 3x5x2 preocupou-se mais em travar a equipa portuguesa do que em atacar e chegou, não raras vezes, a fazer uma linha seis homens atrás. E Portugal, com Nuno Mendes como central à esquerda e Cancelo bem por dentro, controlou o jogo a seu-bel prazer na primeira parte.
Após 20 minutos de controlo, mas sem grandes ocasiões – Ronaldo teve um cabeceamento falhado logo a abrir -, a Seleção iniciou o verdadeiro assalto à baliza de Stanek..
A equipa portuguesa beneficiou de o facto de o jogo se ter partido ligeiramente e de os checos terem perdido rigor na organização. Numa das saídas rápidas, Rafael Leão ficou a centímetros de chegar ao cruzamento açucarado de Bruno Fernandes.
O médio do Manchester United, que teve liberdade para deambular no ataque assim como Bernardo em virtude do posicionamento de Cancelo, agarrou no jogo e exibiu a sua melhor versão. Pouco depois do passe para Leão, o maiato viu o que ninguém mais viu ao nível do relvado e isolou Cristiano Ronaldo que falhou na cara de Stanek. O capitão português não teve, de resto, uma noite feliz e pemitiu novamente que o guarda-redes checo levasse a melhor antes do fim da primeira parte.
A toada do jogo manteve-se no arranque da segunda parte. Vitinha, Bernardo e Bruno Fernandes tocavam a bola, associavam-se e faziam a equipa jogar, mas o caminho para a baliza checa parecia impossível de encontrar. Bruno ainda tentou encontrar Ronaldo no meio de um punhado de camisolas brancas, mas Tomáš Souček impediu a finalização do avançado.
O futebol continua a ser cruel. Dá e tira, castiga e é de uma injustiça do tamanho do mundo. À passagem da hora de jogo, a Chéquia conseguiu dois cruzamentos sem perigo até que a bola chegou à entrada da área onde apareceu Provod a fazer um golo de belo efeito.
Roberto Martínez reagiu de pronto e introduziu em jogo Diogo Jota e Gonçalo Inácio para os lugares de Leão e Dalot. Esperava-se que os checos se fechassem ainda mais e criassem uma muralha à frente da área.
Depois da infelicidade, a bonança. Cinco minutos depois de ter levado um rude golpe, Portugal chegou ao empate numa infelicidade de Hranác que desviou para a própria baliza após defesa incompleta de Stanek.
A vinte minutos do fim, ainda havia esperança. Mas as ambições lusitanas pareciam esbarrar sempre nas luvas de Stanek que defendeu um remate de Vitinha aos 77 minutos. Estava difícil, é certo, e poucos continuaram a acreditar no triunfo português quando o VAR invalidou o 2-1 a Jota.
Cristiano atirou de cabeça ao poste e na recarga, o avançado do Liverpool marcou. Porém, o VAR descobriu o adiantamento do avançado do Al Nassr, que se tornou no primeiro jogador a disputar seis fases finais de Europeus, no início do lance.
O jogo há muito que pedia um agitador, alguém com capacidade para se livrar de dois ou três adversários, alguém como… Francisco Conceição. Martínez demorou, mas lançou-o juntamente com Pedro Neto quando já parecia tarde – o relógio marcava 90 minutos.
Todavia, lógica é tudo o que o futebol não tem. E acabou por ser o jogador do FC Porto a fazer o 2-1 final aos 90+2 após um ressalto feliz que lhe caiu no pé esquerdo.
O cognome da seleção parece estar, por fim, decidido: espalha-brasas.