A identidade açoriana é marcada pelas referências e pela história dos Açores, fruto da insularidade e das tradições locais. Tal como refere Cordeiro (1995), há um conjunto de fatores que influenciam a identidade do povo dos Açores que assentam na própria linguagem, nas condições geográficas e socioeconómicas, bem como nas marcas culturais deixadas ao longo da história. Desta forma, constrói-se a consciencialização da identidade do açoriano, potenciada pelas inúmeras vivências e interações culturais e sociais.
A constituição dos grupos culturais e religiosos, como exemplo os grupos de romeiros de São Miguel, surge da necessidade de se transmitir às gerações vindouras os seus ensinamentos, preservando a sua identidade (Fidalgo, 1995), sendo uma tradição que é marcada pela passagem da mensagem de pais para filhos (herança cultural).
As romarias quaresmais podem ser consideradas como fazendo parte da identidade e da cultura regional, uma vez que representam o povo açoriano, na sua forma de estar, ser, interagir e manifestar a sua fé, recebendo influência da açorianidade, nomeadamente à ligação às suas raízes e valores (Nemésio, 1932).
Deste modo, carateriza-se como sendo uma tradição singular e secular, contextualizada numa realidade rodeada de mar (ilha) e no isolamento típico dos insulares.
O seu impacto é notório pela devoção que velhos e novos sentem, envolvendo homens e mulheres, de todas as classes sociais. A prática das romarias quaresmais em São Miguel pressupõe sacrifício e devoção, associando-se com o escuro dos xailes e das vozes graves do cântico da Avé Maria, que entoam por todas as aldeias, vilas e cidades (Bettencourt da Câmara, 1985; Carreiro da Costa, 1964).
Na tradição dos romeiros verifica-se que se tem mantido algumas semelhanças aos primórdios, contudo, as diferenças também são significativas, desde o vestuário, o roteiro e os cânticos, salientando-se que o que se mantém de mais comum ao longo dos séculos é a fé. Segundo Pires (2013), tais mudanças fazem parte do processo histórico dos fenómenos identitários.
A componente afetiva da romaria constitui o conceito de identidade, o que consegue ir além da própria cultura onde as romarias são parte integrante (Almeida, 1995), desta forma, poder-se-á dizer que a dimensão identitária da romaria conseguirá ser sentida apenas por alguns, e não por todos, ao contrário da componente cultural, que integra a cultura regional açoriana.
Hall (2007) acrescenta que a construção da identidade surge através da cultura, o que possibilita dotar o indivíduo de diferentes significações.
Neste sentido, o romeiro procura o reconhecimento dos significados transmitidos pelos símbolos, crenças ou pela própria figura do romeiro (imagem de Jesus Cristo), sabendo interpretá-los à luz das referências culturais trazidas pela história e memória coletiva.
As romarias quaresmais apresentam elementos da identidade açoriana, integrando-se na cultura regional, pela sua dimensão, expressividade e impacto nos Açores.
Para que haja a sua compreensão é fundamental uma reflexão, entendimento e contextualização das características e especificidades da ilha e das suas gentes.