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LA VOIX DU PORTUGAL | MARDI, LE 8 DÉZEMBRE 2020 | 3 CRÓNICA
Será Portugal um país verdadeiramente livre?
estado promete e dá ajudas infinitas a uma em- a comprometer o contribuinte a pagar mais im-
A o contribuinte não é livre vivendo a ilusão que o
JORGE CORREIA
presa que está desenquadrada da realidade do postos para custear todas essas benesses. Assim,
TAP, companhia aérea negócio, como a TAP, está basicamente a com-
que todos conhecemos, prometer todos os portugueses favorecendo essa é fruto da mensagem ilusória de muitos setores
é uma empresa que en-
frenta depois de muitos anos mesma empresa, ou seja, distorcendo o mercado. políticos que são prolíferos em fazer caridade
Assim, não há competição em oferecer o me- com o dinheiro de terceiros.
grandes dificuldades. Atual- lhor serviço aos clientes, e isto é válido para Nós, emigrantes portugueses aqui no Canadá e
mente, já se fala em necessidades financeiras qualquer empresa em qualquer ramo de negó- no resto do mundo, saímos de Portugal porque
da ordem dos 4 mil milhões de euros, depois cio. Imaginem uma aldeia, onde os seus repre- a nossa liberdade estava e continua a estar limi-
de já se ter injetado várias centenas de mi- sentantes decidem pegar nos impostos de todos tada. Aqui, curiosamente, não nos levantamos
lhões desde que a pandemia levou a um quase os seus concidadãos e entregá-lo ao café da al- contra as regras mais liberais na economia, an-
colapso das viagens aéreas. deia, por sinal único café nessa aldeia. Qual será tes pelo contrário, adaptamo-nos e até vivemos
Muitos dirão que será esta a causa da crise na a consequência? Nenhum outro café abrirá para melhor do que viveríamos em Portugal: muitos
TAP, mas a verdade é que o problema já vem concorrer na prestação de serviços com o café negócios em variadíssimos setores, claro, com
muito de trás. Prejuízos atrás de prejuízos, o es- que é beneficiado pela aldeia; o café beneficia- especial destaque na gastronomia, mas muitos
tado entretém esta empresa à custa de injeção de do fará apenas o necessário, e muitas vezes o in- outros são também histórias de sucesso. Aqui
dinheiro. Mas de onde vem este dinheiro? Exata- suficiente, para prestar serviço aos seus clientes somos criativos, empreendedores, audazes. Mas
mente, vem de todos os contribuintes portugue- pois sabe que terá sempre a aldeia inteira a cobrir quando tocamos em algo que nos ligue à terra
ses. E, uma vez este dinheiro dando entrada na os seus prejuízos; a gestão tornar-se-á corrente, mãe, automaticamente caímos na mesma nota do
TAP, para onde vai ele? Vai custear os equipa- pois aconteça o que acontecer, o café estará a passado: ficamos de mão estendida para o esta-
mentos, as instalações, os serviços a terceiros e salvo, porque, lá está, os contribuintes da aldeia do à espera do subsídio, da ajudinha financeira.
os salários dos trabalhadores da TAP. Todos os custearão todas as dívidas e falhas decorrentes Porquê, depois de experimentarmos um modelo
fornecedores da TAP, recebendo da TAP o que da gestão deficiente; os clientes, mesmo que in- diferente como, por exemplo, o do Canadá, con-
lhes é devido de equipamentos ou serviços, por dignados, terão que aceitar esse serviço, mesmo tinuamos a colocar-nos na posição de vender a
sua vez vão custear os seus próprios fornecedo- que seja deficiente, porque, lá está, já meteram lá nossa liberdade de ação para um estado omnipre-
res e trabalhadores. Como se vê, o encadeamento dinheiro, não terão alternativa, e com tudo isto, sente? Porque será que não levamos connosco as
da economia é profundo. Mas voltemos à origem a criação de riqueza cada vez mais é diminuída lições que aprendemos enquanto emigrantes?
do dinheiro do estado: o contribuinte. Ora, tudo empobrecendo o conjunto da aldeia... Acho que Esta é a pergunta que todos, em especial os emi-
que é público, dos ativos à despesa corrente ou este exemplo simples permite ver o ponto de vis- grantes, se deveriam colocar.
futura, é dinheiro que vem das empresas e tra- ta que pretendo transmitir.
balhadores privados pois o estado por si mesmo Nós, como emigrantes portugueses, saímos de
não produz para se alimentar a si mesmo. As- Portugal, sem talvez o perceber, mas pelas con-
sim, quando pensamos em aumentar salários do sequências deste modelo de sociedade que se
setor público, aumentar despesa com educação, inclina mais à redistribuição do que à criação
aumentar despesa com saúde, aumentar despesa de valor. Saímos à procura de novas e melhores
com infraestrutura, aumentar despesa com mais oportunidades, dizemos nós. Mas esquecemos
dívida, estamos na realidade a extrair capital do que as oportunidades em Portugal não existem
setor privado, estamos a asfixiar aqueles mes- porque o sistema está moldado para não haver as
mos que mantêm o estado em prol daqueles que tais oportunidades que esperávamos, para prote-
vivem colados a esse mesmo estado. Nos últi- ger grupos de interesse centrados em torno do
mos dias a OCDE publicou um estudo onde Por- estado, e aqui falo também de grupos privados
tugal surge com uma carga fiscal de 34,8% do cujos negócios se baseiam exclusivamente com
PIB (Produto Interno Bruto, indicador da rique- o estado.
za produzida), estando em 18ª posição na tabe- Enchemos a boca e o peito com os valores de
la de 37 países da OCDE. Face a esta realidade, Abril, mas esquecemos completamente o que
onde podemos incluir o fraquíssimo crescimento isso significa quando hipotecámos a nossa li-
económico que se esfumou com a crise pandé- berdade com um estado extrativo, que distorce
mica, é caso para Portugal se deter e repensar a economia aqui e ali para benefício político de
o seu modelo de sociedade: será que o modelo alguns em detrimento do coletivo. Não podemos
extrativo estadual tem produzido os frutos devi- esquecer que quando exigimos mais pensões,
dos? Não me parece. Continuamos na cauda da mais salários para o setor público, mais “borlas”
Europa, agora ultrapassados por países como a nos serviços estaduais da saúde e educação ou
Estónia ou Lituânia que estavam atrás de nós. As outros benefícios do estado, estamos exatamente
elites políticas em Portugal, salvo raríssimas ex-
ceções que pouco são divulgadas ou são pronta- CLÍNICA DE OPTOMETRIA LUSO
mente “assassinadas” mediaticamente, não têm
a coragem e a ambição necessárias para explicar
esta realidade ao povo. É mais simples, e arris-
co dizer, populista, dizer a um povo acomodado Alain Côté O.D.
e simplista que se vai dar aqui e ali. O modelo Optometrista
de sociedade extrativa e redistributiva faz assim
as suas vítimas: o próprio povo que não sai da Exames da vista - Óculos - Lentes de contacto
mediocridade e com isso cada vez se vez menos
privado da sua liberdade. Sim, a liberdade é uma 4242, Boul. St-Laurent, suite 204
das realidades que fica distorcida, pois quando o Tel.: 514 849-9966 Montréal, Qué., H2W 1Z3