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CRÓNICA                                   4 | A VOZ DE PORTUGAL | TERÇA-FEIRA, 8 DE DEZEMBRO DE 2020
        CRÓNICA AO SABOR DA VIDA
        Marta Raposo



                                                          Sem querer reinventar  a roda, pois já muito  panhada do mestre da guitarra portuguesa Custó-
                            MANUEL CARVALHO              foi falado e escrito sobre esta artista, aqui deixo  dio Castelo no Oscar Peterson Hall de Montreal.
                                                         mais uns retalhos respigados da página digital  Marta foi artista convidada e porta-voz do Festi-
                             omo começar esta cróni- “Fado History”:                                      val Portugal Internacional de Montreal em 2015
                             ca onde tentarei esboçar     “Marta Raposo é licenciada em tradução, e tem  e 2019.
                      Cum  retrato  o  mais  fide- formação profissional em administração e jorna-          Recentemente, criou e coordenou o projecto
                      digno possível da Marta Rapo-
        so?
         Talvez  mencionando  que nasceu em  Torres
        Novas e que, chegada a Montreal aos 9 anos de
        idade,  seguiu o percurso  normal  das  crianças
        portuguesas  dessa época,  frequentou  a  escola
        portuguesa, a catequese  e dançou num rancho
        folclórico,  a miragem  do regresso eminente  a
        Portugal sempre presente no lar de imigrantes.
        Mas talvez ainda melhor,  para maior precisão,
        será transcrever  parte da sinopse do” Regressa
        Urgente”, um documentário de João Sardinha e
        António João Saraiva, produzido em 2011 e que
        teve um êxito assinalável:
          “(...)Possuindo uma enorme paixão pelo canto
        e pela língua portuguesa, aos 16 anos iniciou sua
        carreira  musical,  tornando-se  vocalista  de  um
        grupo de música popular portuguesa. No início,
        porém,  Marta rapidamente  descobriu  que  seu
        verdadeiro amor musical não estava na música
        popular, mas na "canção nacional  portuguesa"
        - Assim, aos 18 anos, Marta subiu ao palco do
        Clube Português de Montreal  para apresentar
        fado pela primeira vez, para nunca mais parar.
        Desde aquela performance - a cada canção, a
        cada ovação, a cada palavra de encorajamento
        – a sua paixão pela 'canção nacional portuguesa'  lismo.                                          musical solidário Grito pela esperança, partilha-
        cresceu,  assim como  as suas ambições.  Gran-    É conhecida  da comunidade portuguesa de  do nas redes sociais em Maio 2020. À distância,
        jeado o reconhecimento da sociedade de acolhi- Montreal  pelo seu envolvimento  em múltiplos  mobilizou cerca de 13 vozes da comunidade por-
        mento, integrou o elenco de artistas do Festival  projectos de cariz cultural desde muito jovem, e  tuguesa de Montreal e cerca de 25 intervenientes
        de Músicas do Mundo de 2004 e de 2005, orga- pela sua veia artística, embebida de fado. Marta  da comunidade, incluindo figuras como o Cônsul
        nizado por Musique Multi Montréal.               Raposo foi porta-voz do Festival Portugal inter-  Geral de Portugal em Montreal, o Ministro das
         Em 2005, após 8 anos cantando fado no Cana- nacional de Montreal em 2016 e 2017, é repórter  Finanças do Québec, o Diretor da Saúde publica
        dá, Marta voltou às origens para realizar um so- para o jornal Correio da Manhã- Canada, coor-    do Québec e muitos mais.”
        nho - gravar e lançar um álbum em Portugal, o  denadora das Missas fadistas de Montreal, cola-     Este ano, Marta Raposo  lançou vários vídeo-
        que aconteceu em 2009.”                          bora com a Rádio Centre-ville de Montreal e é  -clips, em três línguas (português, francês e in-
         Sempre repartida entre dois mundos tão dife- anfitriã em diversos eventos comunitários.          glês), de homenagem a Amália Rodrigues pelo
        rentes, regressou ao Canadá em 2010, mas a es-    Marta Raposo foi a primeira voz a levar o fado  centenário do nascimento da grande diva.
        tadia em Portugal  foi uma época charneira na  ao Parlamento canadiano em Junho de 2016, por       É  oportuno,  e de  toda  a  justiça,   referir  que,
        vida da Marta pois ajudou-a a definir prioridades  ocasião da primeira comemoração oficial do dia  ao longo dos últimos anos, todas as vezes que
        e a estabelecer um rumo mais claro para a sua  de Portugal no Canadá.                             a  Biblioteca  José d’Almansor  solicitou  o seu
        vida.                                             Em 2018, uma noite memorável, actuou acom-      contributo para animar algumas das suas festas
                                                                                                          culturais, logo se prontificou para colaborar, com
                                                                                                          a generosidade e voluntarismo que todos lhe re-
                                                                                                          conhecem.
                                                                                                           É essa disponibilidade que a leva  a implicar-
                                                                                                          -se, de alma e coração, em causas humanitárias,
                                                                                                          como recentemente aconteceu com o evento vir-
                                                                                                          tual “Ensemble en choeur pour la vie”, em home-
                                                                                                          nagem às vítimas da pandemia que nos flagela.
                                                                                                           Para finalizar esta crónica, quero referir que a
                                                                                                          certo passo do documentário “Regressa Urgen-
                                                                                                          te”, a Marta confessou que, por vezes, quando
                                                                                                          era preciso tomar resoluções, hesitava escolher
                                                                                                          entre o branco e o preto, ficando-se por um cin-
                                                                                                          zento indefinido. Isso não é verdade, Marta, pois
                                                                                                          o teu mundo é extremamente colorido, abarcan-
                                                                                                          do a riqueza de todas as cores do arco-íris.
                                                                                                           Já agora, quem quiser aprofundar um pouco
                                                                                                          mais o seu conhecimento sobre a Marta e o seu
                                                                                                          mundo intimista, pode ver um extracto do  do-
                                                                                                          cumentário “Regressa Urgente” no sítio: https://
                                                                                                          vimeo.com/34578869.  Podem  estar  certos  que
                                                                                                          vale a pena, pois, mesmo já decorridos alguns
                                                                                                          anos sobre a sua criação, é um registo que con-
                                                                                                          tém abundante matéria para refectir e debater.
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