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CRÓNICA 12 | A VOZ DE PORTUGAL | TERÇA-FEIRA, 21 DE SETEMBRO DE 2021

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR Mais formação

E A DEUS O QUE É DE DEUS

ANTÓNIO CD JUSTO ANTÓNIO um papel determinante no alavancar de futuras
PEDRO COSTA
oportunidades do percurso profissional de cada
Cronista em Kassel, Alemanha Jornalista nos Açores trabalhador.
Temos que ter em conta que a mão-de-obra pou-
O estes últimos dias tem co qualificada põe em causa o investimento que as
nó górdio do islão é a
sido recorrente as diversas empresas fazem no capital humano, pelo que a for-
união de cultura e reli-
gião! E isto é que os polí-
virem à liça manifestar a sua preo-
resposta que permite colmatar baixos níveis de pro-
ticos ocidentais parece ainda não Ncorporações profissionais mação profissional pode constituir-se como uma
terem percebido e por isso cometem tantos erros cupação quanto à falta pessoal qualificado para dução em resultado de conhecimentos e competên-
em relação à cultura de cunho árabe e às próprias suprir necessidades urgentes, seja no comércio, cias insuficientes ou desajustados, o que significa na
iniciativas que tomam no sentido da sua emanci- na restauração, na hotelaria, na indústria ou até prática que os níveis de produtividade e rentabili-
pação. mesmo na agro-pecuária, em que os empresários dade das empresas são baixos e quem investe quer
O poeta muçulmano, Adonis, diz numa entrevista admitem poder vir a contratar mão-de-obra fora retorno imediato.
a El País: “O problema árabe é não ter separado a re- da Região. Com a formação profissional, os colaboradores
ligião e a política”. “Não pode haver uma revolução De facto tem sido muito difícil encontrar pessoas aprendem novos conhecimentos e habilitam-se
árabe sem uma separação total e radical entre a re- qualificadas para trabalhar nas mais diversas áreas para um contexto cada vez mais exigente, no qual a
ligião e a cultura, a sociedade e a política”. Esta é a e o problema é de base, tendo o Governo Regional inovação, a criatividade, a necessidade de mudança
realidade que não justifica que se ande a empregar desafiado uma parceria entre as entidades formado- e a competitividade são uma constante. A forma-
demasiadas forças em soluções ocidentalizadas que ras e as empresas para que, de mãos dadas, cons- ção profissional constituiu-se, assim, uma oportu-
teriam de rever a sua estratégia de apoio ao desenvol- truam projetos de formação à medida das suas ne- nidade dos colaboradores adquirirem competências
vimento humano também no que toca à estratégia cessidades. conducentes à execução de um trabalho de mais
de emancipação feminina nos estados muçulmanos! Como tal, o Governo pretende implementar o pro- qualidade.
Facto é que as afegãs mais emancipadas são agora grama de formação à medida para as empresas e Não podemos esquecer que um colaborador qua-
alvo do ódio dos extremistas. A luta pela libertação para os ativos, cujo objetivo é a formação tanto para lificado tem mais hipóteses de melhorar do que um
da mulher, num sistema tribal patriarcal, seria talvez empregados, como para desempregados, bem como colaborador não-qualificado, especialmente tendo
mais eficiente se viesse através da humanidade e em- para os próprios empregadores. Há que aplaudir tal em conta a saturação do mercado. Se o trabalhador
penho dos homens, que é preciso motivar! Enquanto iniciativa já que para além deste programa, foi dada procura diferenciar-se e obter melhores oportuni-
a sociedade islâmica não reflectir suficientemente nota pública que será implementada uma nova ge- dades de emprego ou até mesmo uma promoção
sobre as partes sombrias do Islão (iliteracia, dogma- ração de programas de formação de qualificação de profissional e salarial, a formação profissional pode
tismo, abdicação da individualidade no grupo, e ca- ativos sendo necessário uma proximidade muito ajudá-lo a marcar a diferença.
rência de liberdade), a cultura árabe continuará a ser forte entre as empresas e as Escolas Profissionais. Num recente inquérito realizado pela Câmara do
mal considerada (o que não ajuda ninguém!) e verá Com a retoma económica neste período pós Covid, Comércio de Angra do Heroísmo chegou-se à con-
o problema humanitário continuado, enquanto em salta à vista a necessidade de corresponder qualita- clusão que 81% das empresas que responderam
nome da religião, o sistema prosseguir oprimindo tivamente ao surto da procura turística que alavan- pretendem contratar pessoal qualificado e metade
indefinidamente a pessoa humana. O povo persa e ca a economia em diversas áreas, pelo que investir destas, pretendem fazê-lo no imediato.
outras sociedades muçulmanas de origem não árabe em formação profissional deve ser o caminho na va- Por outro lado, para cargos diversos, desde empre-
e em especial uma elite cultural masculina e femini- lorização dos recursos humanos, não se confinando gados de mesa/bar, técnicos de construção civil, en-
na a formar-se dentro do islão poderão contribuir a um mero cumprimento da legislação, nem como genheiros, atendimento ao público, comerciais ou
para o seu progresso e criar uma nova matriz cultu- uma mera perda de tempo, mas sim, cada vez mais, mecânicos, foram identificadas pelas empresas que
ral. Nisto teria mais sentido, que o Ocidente centras- encarada como um investimento com retorno. responderam ao inquérito, mais de três dezenas de
se as suas energias, a longo prazo. Enquanto o Oci- A especialização em determinadas áreas pode ser funções com carência de pessoal.
dente se comportar para com a civilização de cunho uma mais-valia diferenciadora na execução eficaz Neste sentido, os empresários – que representam
árabe, como se tem comportado até aqui, os povos das tarefas diárias e, por outro, consciencializarmo- 44 estabelecimentos das ilhas Terceira, São Jorge e
islâmicos ver-se-ão obrigados a continuar a sua luta -nos de que a formação profissional pode assumir Graciosa – admitem a possibilidade de recorrer a
ad extra descurando a reflexão e transformação in- funcionários externos à Região. Quase um terço dos
terna. Certamente a maioria dos muçulmanos já se empresários diz que é pouco exequível a contrata-
encontra de consciência e de comportamento mais ção local, sobretudo devido à ausência de candida-
elevado do que muitos dos princípios maometanos tos qualificados ou com experiência, mas também
advogam a nível institucional e propagado através pelo desinteresse manifestado pelos candidatos em
das mesquitas. relação às funções exigidas. Os empresários apon-
Uma análise proveitosa para a cultura árabe pres- tam a formação profissional e intensiva como pos-
suporia uma reflexão profunda por parte das elites sível solução para a melhoria da situação atual nas
muçulmanas e uma abordagem sem preconceitos ilhas do Grupo Central.
por parte dos não islâmicos. O islamismo é uma rea- Por isso, investir na formação profissional é, de
lidade e tanto a islamofobia, como a islamofilia só facto, uma medida ativa com efetivo potencial de
ajudam o extremismo. retorno, em que os trabalhadores com maiores qua-
lificações são aqueles que têm menor dificuldade de
inserção profissional. Desta feita, a aposta na for-
mação deste governo deve ser encarada como uma
grande oportunidade de qualificar os nossos ativos.

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