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A VOZ DE PORTUGAL | 25 DE MAIO DE 2023  | 3                                   CRÓNICAS
        Até quando Portugal aguenta mais lodo?



                     JORGE CORREIA                       divíduos participantes, pois há bons e maus em  ativo para a manutenção do atual lodo estagna-
                     Cronista do jornal                  todos os campos ideológicos.                     do, sem soluções e sem autoridade para alertar
                                                          A CPI da TAP vem colocar isto à luz do dia:  e mobilizar o país face ao estado insustentável
                            omo português sinto-me       as mentiras sucessivas chegam ao próprio pri-    das circunstâncias. A própria oposição tem a
                            enojado, e esta palavra é    meiro ministro António Costa, que no início de  sua quota parte de responsabilidade: são raros
                     C simpática face ao que sin-        Maio referia não ter sido informado do “circo”  os portugueses que têm conhecimento de alter-
                     to como português em relação ao     que se passou no ministério das infraestrutu-    nativas.
                     que se vai descobrindo na comis-    ras, mas agora está contrariado pelo seu pró-     Os media também têm responsabilidade: dis-
        são parlamentar de inquérito (CPI) sobre a       prio infame ministro Galamba que referiu que  traem os cidadãos com ninharias, entre as quais
        TAP.                                             ainda durante essa noite o informou do que se  as tricas entre esquerdas e direitas (radicais)
         As mentiras, a incompetência, a arrogância, a   passou, para além do também infame recurso  quando verdadeiras propostas passam pela as-
        desconsideração face aos portugueses, os suces-  ao SIS (Serviços de Informações de Segurança,  sembleia da república sem qualquer cobertura,
        sivos erros e o cinismo presentes nesta história   espécie de serviços secretos portugueses) para  contribuindo para a ignorância e anestesia ge-
        toda são de uma falta de nível que só num país   recuperar um computador do adjunto exonera-      rais.
        de mansos como Portugal, este bando de garo-     do qual método “pidesco” como no tempo da         Os portugueses, quais ovelhas num rebanho
        tos, como António Barreto no seu artigo no jor-  outra senhora!                                   desgarrado e assustado, dominados pelo alas-
        nal Público do passado 20 de Maio bem definiu     E ainda cantam 25 de Abril!                     trar do medo e sentindo que sacrifícios serão
        (artigo que recomendo vivamente), pode ainda      Que infâmia! Que nojo!                          necessários principalmente junto de grupos de
        estar à frente da governação. Por favor, não se   Para rematar Cavaco Silva fez uma interven-     interesse colados ao Estado, retraem-se defen-
        venha com a história de esquerda ou direita,     ção num encontro de autarcas sociais democra-    sivamente tomados pelos receios infundados e
        tanto em voga agora em Portugal, em que se       tas onde demoliu, quase como bomba atómica,  pelas sucessivas mensagens perturbadoras que
        não és da extrema esquerda serás com certeza     o atual governo e seus intervenientes.           vão sendo semeadas oportunamente, ou pela
        da extrema direita. Isto é completamente falso.   Naturalmente as hostes socialistas agora na li-  omissão clara e objetiva de propostas alterna-
         É uma retórica que só sustenta o lodo que está   derança vieram logo em socorro, mas Cavaco,  tivas, como se nada mais houvesse a não ser
        a olhos vistos na política e que se estende para a   quer lhe sejamos simpáticos ou não, disse o que  a mediocridade pantanosa em que o país está
        sociedade através de uma forte anestesia. Ape-   todo o país sente e sabe, mas que infelizmente  mergulhado.
        sar das inúmeras críticas que se podem tecer à   não tem forças para alterar. Em contactos com
        política inglesa, não posso deixar de admirá-la   socialistas, quando estes estão fora do diapa-
        na sua capacidade de o próprio partido conser-   são partidário, reconhecem o pântano em que
        vador ser capaz de ejetar o líder do seu próprio   a governação e o país se encontram. Infeliz-
        governo para colocar lá outro no reconheci-      mente não têm a maturidade política suficien-
        mento  da  incapacidade  do  líder  cessante  e  na   te nem a vitalidade necessária para fazer algo
        procura de uma solução eficaz e eficiente.       como os ingleses fizeram na substituição dos
         É esta falta de maturidade política de que en-  seus próprios líderes. Pobre país, pobre povo!
        ferma a política portuguesa e em especial os     Quão lamento este destino tormentoso causado
        partidos, que se acham capturados por uma        pelo próprio, quando todas as condições para
        rede de interesses em torno dos seus líderes o   se levantarem a novos escalões estava ao seu al-
        que promove uma estagnação, diria mesmo um       cance.
        endurecimento passivo, em torno dos falhanços     O próprio presidente Marcelo Rebelo de Sou-
        sucessivos arrastando todo o país com eles.      sa tem alguma responsabilidade. Tanto procura
         O atual PS é o retrato absoluto deste facto.    a  estabilidade  que  acaba por ser  contribuinte
        Não me esqueço da acusação de António José
        Seguro  de traição  em  pleno  debate televisivo
        à jogada deplorável que António Costa lhe fez
        para usurpar a liderança do partido. Logo nessa
        hora estava identificado o calibre da personali-
        dade e daí em diante não admira todas as con-
        sequências até o momento presente.
         E como disse, isto vai para além da “parti-
        darite” de que podemos estar afetados: há ne-
        cessidade de reconhecermos a competência ou
        falta desta, o nível ou a falta deste nos líderes
        e em todos os membros mais ativos nos parti-
        dos, mesmo que ideologicamente lhes sejamos
        simpáticos, aparentemente claro, pois muitos
        destes nada mais são do que oportunistas tra-
        vestidos.
         A  questão  ideológica  é  uma  outra  conversa
        que podemos e devemos retirar do campo das
        competências técnicas e da integridade dos in-
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