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A VOZ DE PORTUGAL | 10 DE AGOSTO DE 2023                                          COMUNIDADE           3
        A Árvore




                     JORGE CORREIA                       aos céus e à luminosidade solar, com os suas folhas  dos Unidos, o Brasil, a Alemanha, o Japão, a China,
                     Cronista do jornal                  crescendo e desenvolvendo em direção ao alto em  Angola, toda a nação tem as suas raízes profundas.
                                                         busca de alimento mais rico e subtil, assim é a Hu-  O que diferencia um povo, sem com isto determinar
                            ma  viagem  pelos  media  so-  manidade no seu conjunto. Ou deveria ser! Jamais  que um é mais merecedor de respeito que outro, é a
                            ciais revela sem qualquer  vemos uma árvore que cresce em direção ao solo!  sua força evolutiva em direção ao superior, ao mais
                     Udúvida a degradação mental,  Todas crescem na busca de mais e mais energia so-      avançado, ao progresso que determina que hoje está
                     moral e de cidadania que reside nos  lar sem, no entanto, através das suas raízes perder  mais além do que ontem, não apenas nas métricas
                     indivíduos independentemente da  o  contacto  consciente  com  o  lodaçal  onde  outrora  económicas ou sociais, mas na forma racional e ele-
        região do mundo, nação, povo ou comunidade.      a semente que a originou residia. Este exemplo da  vada com que lida com os seus problemas internos e
         Tanto na forma como no conteúdo, é lamentável o  natureza deveria dar que pensar. Mas infelizmente o  externos. Infelizmente vemos que a Elevação – en-
        baixo nível a que a comunicação “livre” chegou nas  processo na Humanidade inverteu-se. A árvore que  quanto conceito que determina um individuo que
        redes sociais, mas que alastra também aos órgãos de  deveria alçar-se a grandes alturas reverteu o seu cres-  tenta superar-se a si mesmo, as suas limitações e defi-
        comunicação social com comentadores que sem se  cimento e procura as sombras do lodaçal. Enferma  ciências – é hoje em dia completamente ignorada ou
        perceber bem que créditos têm são elevados a palcos  que está, infeliz na opção que toma, pois a Huma-  pior, mal tratada. Não é ao acaso que os filósofos an-
        onde expõem as suas deficiências, desde a facciosi-  nidade tem esse atributo da escolha consciente, mas  tigos se referiam ao Homem Superior, numa alusão
        dade das suas opiniões à forma indecorosa e vulgar  que traz também a responsabilidade associada a esse  a uma mente e espírito desenvolvidos, contrariamen-
        como as emitem.                                  atributo, persiste em direção ao lodaçal incentivada  te à interpretação errónea que pretende limitar este
         Tendo vivido de perto no Portugal profundo, co-  por indivíduos energéticos mas equivocados na di-  conceito à condição social. Pela natureza, as raízes
        nheço de perto a forma brejeira habitual em contac-  reção que tomam e que conduzem outros. O ciclo é  são o ponto de partido rumo ao superior devendo-
        tos nesse ambiente com quem teve uma educação  vicioso: quanto mais no lodaçal, mais enfermiça está  -se-lhes o respetivo respeito. Jamais, no entanto, os
        menos aprimorada, mas que devemos respeitar pela  a árvore; quanto mais enfermiça e equivocada, mais  ramos com as folhas verdejantes são supostos de re-
        rudeza das suas tarefas diárias e da sua vivência em  persiste no erro por cada vez menos perceber qual-  tornar ao seu ponto de partida. Assim, estas devem
        geral. Não são menos que nós, devemos-lhes o nosso  quer outra saída para as sombras onde se encontra.  arrastar aquelas em direção ao progresso e não ao
        respeito e compreensão. Da minha parte, a par com  Os sintomas estão por todo o lado: as opiniões des-  contrário sobre pena de matarmos a Árvore que tan-
        alguns contactos menos felizes, guardo essencial-  cabidas de sentido racional; a tribalização, ou seja, a  to tempo demorou a desenvolver.
        mente a memória e experiência da franqueza rude  arregimentação junto de grupos simpatizantes com a
        mas sincera e sentida dessas gentes que são a remi-  total exclusão de quem não partilha o mesmo ideá-
        niscência das raízes portuguesas. Foram as suas lutas,  rio, ou mais grave, a pretensão da eliminação do ou-
        a sua perseverança, a rudeza com que enfrentaram a  tro como sendo um inimigo; a ofensa gratuita; a lin-
        vida também ela rude e sobre a qual venceram que  guagem vulgar e despropositada; a rebeldia gratuita;
        nos trouxe aqui. Devemos o nosso respeito. Como  o culto do narcisismo; a reverência à forma sem dar
        toda a árvore que começa na semente enterrada no  valor ao conteúdo; a mentira... a lista é extensa. Vol-
        lodaçal da matéria orgânica repelente mas fertilizan-  tando às rudes raízes portuguesas, estas são similares
        te dos solos, que se eleva posteriormente em direção  a qualquer outra nação, seja ela o Canadá, os Esta-
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