Tinha eu preparado sobre o joelho um pequeno questionário destinado à Carminho.
Eram 8 ou 9 ingénuas questões que poderiam servir — a mim que não gosto de entrevistas nem de me imiscuir na vida de cada um — a melhor conhecer a alma fadista da artista que nos visita pela segunda vez. Creio que felizmente a Carminho — possuidora da Comenda do Infante D. Henrique — comenda dedicada às entidades que mais tenham valorizado Portugal no exterior, decidiu transformar o pequeno texto de perguntas, em relatos de episódios vividos na sua vida artística. O que está certo. E, como diz o ditado bem português, que a senhora comendadora me desculpe este português dum residente no estrangeiro, aonde se fala uma Língua diferente da inglesa europeia, mas que a grande Amália não menosprezava. Ora, o ditado diz, “Com uma cajadada matam ou mataram-se, dois coelhos”
Comecemos então os relatos mais importantes duma vida artística que começou logo à nascença, pela sua mãe também fadista. Porque muita gente estaria habituada a ouvir a Carminho — diminutivo de Maria do Carmo — nome próprio dado à nascença, e por isso várias pessoas insistiram com a sua mãe para que levasse a cachopa até o programa novos fadistas no Coliseu. E uma bela tarde ela lá foi cantar o “embuçado “. Com gente do Governo e Presidente da Républica. Êxito, grande êxito desde logo aplaudido pela imprensa. E a jovem fadista de palmo e meio, bem assente nos seus 12 anos, creio, encontrava-se bem vestida na sua blusa branca e saia azul-escura como uma aluna de qualquer secundário privado. Tremendamente nervosa e contente de ver a mãe entre a assistência da plateia. Cantou e encantou, diremos nós.
Mais tarde, já mulher, encontrou-se casualmente com uma jovem acabada de chegar a Lisboa atraída pelo movimento da capital e absurda pelas semelhanças do convívio facilitado por amigo advogado que entusiasmou Carminho a tocar guitarra — o que nunca tinha feito — e a cantar um fado, antigo, com letra nova que ela escreveu. Fala deste encontro como sendo algo muito intenso, com recordações semelhantes e com a transversalidade de andar à volta de um fado bastante antigo com letra nova.
Lembra depois, alguns dos espectáculos em que participou, não só no Coliseu, para além do já mencionado que teve a assistência da mãe, num concerto em Hamburgo, creio, em que os músicos clássicos a acompanharam durante largo tempo, olhando com atenção os instrumentos musicais dos guitarristas portugueses, brincando — o termo — com as suas guitarras de 12 cordas. Tocaram em solo para gáudio dos clássicos e dos lusos presentes.
Passamos a seguir para a interpretação face ao Papa, aquando da visita papal às Jornadas da Juventude aonde esteve muito bem, como profissional praticante, como crente, cantando a canção escolhida face a um milhão e meio de assistentes e ao Senhor Santo Cristo, dando ocasião à expulsão da sua emotividade. Ela cantou uma Prece em Honra ao Senhor. Simplesmente fantástico.
Maria do Carmo, Carminho, considerou depois o concerto no Outremont como um acontecimento dependendo dela, certo, mas também, dos espectadores porque, segundo a artista, ela vem cheia de boa vontade e dará o melhor de si mesma esperando que o numeroso público colabore e entenda que o Francês não será uma prioridade para uma fadista. Ela vai cantar o Fado. E Fado é Português. Só que, se dissesse umas palavrinhas em Francês, teria sempre o público (estrangeiro) com ela. É só.
Fazendo um resumo de todos estes concertos, realizados um pouco por todo o mundo, a artista pensa que todos eles — enumerou uns quantos — servem sempre para cativar e encorajar outras promoções, levando o bom e o belo através do mundo, esse mundo não só Português mas onde a Língua é falada com orgulho e clarividência.