História a refletir

É raro escrever, muito menos em português…
Recebi uma chamada com um pedido de uma mãe: “Catarina, podes e queres fazer a celebração de funeral da minha filha de 17 anos?”
Respondi chorando: “O que foi que aconteceu?” O meu coração deu um nó! A linda jovem decidiu acabar com o seu sofrimento, de não ser amada pelos seus… familiares, amigos, colegas de trabalho… meses depois de ter saído do armário…
Ouff… tu dizes!
Tenho três filhos lindos, dois de 22 (quase 23) e 21 (filhos que precisam ainda de tempo para me perdoar, por um dia eu ter partido simplesmente por ter aprendido a me AMAR de verdade e recusar a vida que vivia) e uma filha de 16 anos… que me ensina todos os dias e insiste que eu continue erguida! Há já algum tempo que sabia que a minha filha se reconhece como pansexual. Portanto ela tinha medo de partilhar este detalhe com as pessoas que ela mais estima, os irmãos, o pai, a avó, tios, tias… por medo, medo de quê?
Dos problemas que ela poderia viver, medo do julgamento de todos…
Vi passar à uns meses atrás uma reflexão que me tocou, decidi pegar partes, traduzir e acrescentar notas minhas de ao longo dos anos.
Porque estamos todos ou quase todos… no armário…
O primeiro “sair do armário” deveria ser: “Tenho novidades para ti… EU AMO-ME!”
Depois, que maravilha! O problema não é que uma pessoa ame alguém de seu género, do sexo oposto, do sexo anterior ou do sexo futuro. O problema não é ser heterossexual, homossexual, transexual, bissexual, pansexual, metrossexual, olásexual ou adeussexual.
O problema é de não AMAR.
Não se amar a si mesmo em primeiro lugar. O problema é de ser tristesexual e estar “No armário da vida, na escuridão”. Todos os dramas são causados ​​por causa disso. Dramas que vão de pequenas disputas, das ameaças de morte, passando pelas tentativas de morte aos assassinatos, e muitas levam ao suicidio. Triste o que fazemos aos outros só porque não nos amamos a nós mesmos.
Mas primeiro, precisamos saber o que é, Amar-se. Amar-se de verdade! Amar-se a si mesmo não é pensar que somos a melhor pessoa da rua. Que somos mais bonitas do que os outras, mais bondosas do que os outras, mais limpas que as outras, melhor cozinheiras que as outras, mais inteligentes do que os outras…
Amar-se a si mesmo não é se servir em primeiro e, não é pensar apenas em si. Isso não é amar-se a si mesmo.
É mentir-se a si mesmo.
Porque se cada pessoa pensa que é melhor do que as outras, então esta apenas a se mentir. E mentir-se a si mesmo é o oposto de amar-se a si mesmo. É negar a sua verdade, a sua essência.
Amar-se a si mesmo não é: precisar de se comparar aos outros para apreciar ser quem se é! Amar-se a si mesmo é perceber que somos uma mistura dos nossos pais, da nossa família, da nossa sociedade, da nossa cultura, da nossa crença, do nosso ambiente, dos nossos amigos, da nossa leitura, das nossas viagens, do nosso isolamento, das nossas alegrias, das nossas tristezas, das nossas comidas, dos nossos exercícios, dos nossos oásis, dos nossos desertos, dos nossos desejos, das nossas presenças e …. das nossas ausências. Tuuuudo isto! E muito mais!
Somos verdadeiramente feitos de tudo isso.
Não existem duas pessoas com essa mistura. Nem mesmo o nosso gêmeo, se tivermos.
Somos únicos, incomparáveis. O nosso ADN nos prova isso. Não somos “o melhor dos outros” ou a melhor versão dos nossos pais, nós somos o melhor de nós mesmos. Se nos amamos de verdade. Porque, se agente não se ama, podemos rapidamente nos tornar no pior inimigo de nós mesmos. E isto não é bonito.
Amar-se a si mesmo é dizer-se ao espelho : “Escuta riquinha, vamos passar a vida juntos, não temos muita escolha, então faremos de tudo para aproveitar cada momento. Porque não dura muito.”
Amar-se a si mesmo é encarar e abraçar a sua própria realidade. E nunca desistir. Mesmo que pareça não haver luz no fim do túnel… Digamos que chegamos lá, que conseguimos nos amar a nós mesmos… Uma vez que nós nos amamos, o que fazemos em seguida?
Uma vez que tudo fica mais claro na nossa cabeça e no nosso coração. Como se faz para que os outros também se amem a si mesmos? Porque enquanto eles não se amarem, corremos o risco de pagar o preço.
Ora, ora, CUIDEMOS dos outros, para que esse amor possa dar à luz. Em todos os sentidos da palavra.
Como fazer isso? Amando os outros. Sim, mas aquelas pessoas que nao sao amaveis? Porque só Deus sabe que existem pessoas duras de amar… Respeitando!
E acima de tudo, o devemos respeitar com muuuuuuita paciência. Ninguém avança ao mesmo ritmo, e muitas pessoas pensam não precisar dos outros…
Vamos parar de julgar os outros… nós portugueses somos muito bons a julgar os outros, somos verdadeiros peritos… Como o outro se parece ou não se parece, o que o outro faz ou não faz, o que veste ou não veste, que carro tem ou não tem, que casa comprou ou não quer comprar… caramba!
É o julgamento que fecha as pessoas. Que nos faz apodrecer por dentro. E quando o podre sai, dói. Para todo mundo. A minha filha me ensina todos os dias a fazer cuidado com as minha palavras, com as minhas ações… e os meus filhos (por recusarem a minha presença ainda…) me ensinam a ter esperança e nunca desistir. O amor vencerá e é sempre o melhor remédio.
Prefiro estar num jardim solta do que numa caixa dourada que impede as raízes de se fortalecerem. Já perdoei quem tinha que perdoar por me ter mantido numa caixa muito tempo, o resto não me pertence …
Devemos parar de colocar pessoas em caixas ou em moldes. Ninguém consegue ficar bem numa caixa. É muito pequena. Talvez pareça confortável e interessante por uns tempos, mas garanto que não é para a vida inteira. Ainda por cima qualquer caixa distorce os dados da nossa verdadeira identidade. Quando jogamos as cartas, à bisca por exemplo, precisamos saber quem está em qual equipa, mas não na vida.
Na vida, estamos todos na mesma equipa.
Não há necessidade de se categorizar. De adicionar prefixos. Somos todos sexuais. Está claro. Principalmente no verão. Além disso, fiquemos com quem quisermos, só assim estaremos felizes de verdade.Claro, temos que criar organizações para defender os grupos oprimidos. Sou cristã e foi o que Jesus fez durante os seus três anos de vida pública… defender os excluídos, curar os doentes para que eles fossem de novo bem vindos a sociedade, e por aí fora…
Devemos trabalhar juntos para que um dia a orientação sexual não seja mais provocativa do que a orientação musical. Só vou saber se o outra pessoa gosta de Heavy Metal ou de Beethoven se eu pegar no meu tempo para a conhecer. Se eu não aceitar ou gostar, que ela ouça o que quiser! Isso não muda a minha música e os meus gostos musicais… ou muda?
Eu vou saber que a outra pessoa gosta de beijar homens ou mulheres se eu parar para a conhecer. Se eu não aceitar o que ela gosta, beije quem ela quiser! Isso não muda a minha sexualidade ou quem eu gosto de beijar… ou muda?
Para dominar as pessoas, nada melhor do que fazê-las acreditar que as suas desgraças são causadas pelas outras pessoas : de outra etnia, de outro sexo, de outra classe social. Isso sim as une e as faz esquecer que o infortúnio delas se deve a quem as domina. E quem as domina em primeiro? O seu proprio inimigo interior!
Ciclo sem saída…. Pessoas que não se amam se unem a pessoas que não as amam. Pessoas que se amam se unem a pessoas que as amam.
É preciso amar-se, a 1, a 2, a 100, a 1000, a 8 milhões, a 8 bilhões. O mundo será um mundo melhor, só porque TU EXISTES !!!!!
Tu, sabes quem és !!!!! Beijos !!!! Coragem !!!!