A cidade do Porto recebeu, no passado fim-de-semana, o I Congresso Mundial das Redes da Diáspora Portuguesa, reunião que contou com a participação de portugueses radicados em todo o Mundo. Este congresso, uma iniciativa da Secretaria de Estado das Comunidades, contou com mais de 500 participantes, entre os quais o Jornal A Voz de Portugal, Órgão de Comunicação Social que se edita há mais de 50 anos em língua portuguesa no Canadá.
Para além dos representantes portugueses de 36 países, o encontro contou, ainda, com as presenças do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro Ministro, António Costa e do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, a quem se juntou o arcebispo José Tolentino Mendonça, arquivista e bibliotecário da Santa Sé. Na sede da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas, no Porto, local onde aconteceu o evento, foi o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa quem abriu o Congresso apontando este como um “grande desafio” do país colocar a diáspora como “prioridade global” dos residentes em território nacional, porque a presença dos portugueses “no mundo” é uma das razões pelas quais eles “são muito bons”.
O chefe de Estado explicou que este é o desafio que o “mais preocupa” e para o qual não tem encontrado “solução”, porque para os portugueses residentes em Portugal a emigração é um “problema e vivência pessoal, mas não uma prioridade global. Não havendo uma família em Portugal que não viva diariamente esta diáspora, no dia a dia os portugueses que vivem em Portugal acham isso tão natural que o problema não é uma prioridade para eles a nível nacional”, explicou Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República defendeu, por isso, a importância de “fazer entender aos 10 milhões de portugueses que vivem aqui em território nacional, que é de um valor nacional incalculável somar mais 10 ou 12 ou oito milhões que, lá fora, são essenciais para o que todo o mundo pensa sobre Portugal”.
Para o chefe de Estado, “a saúde, segurança e a economia” são uma “prioridade” nas preocupações dos portugueses, mas tal não acontece relativamente às comunidades portuguesas no mundo. “Mas é uma preocupação nacional e não só por corresponder a desígnio nacional. Podia ser assumida por cada um porque tem a ver com a sua vida no passado, presente ou futuro, mas é uma prioridade pessoal, não global”, afirmou. De acordo com o chefe de Estado, a emigração é considerada em Portugal “tão natural como respirar, mas deve ser alvo de atenção, porque é muito importante para o nosso país”. “Temos, na história, a vocação de ser plataforma entre continentes e oceanos. Somos dos melhores do mundo nisso. Todos os dias, em todo mundo, portugueses são capazes de estabelecer pontes e fazer diálogo”, disse. Marcelo Rebelo de Sousa apontou ainda outro “grande desafio” quanto aos portugueses espalhados por 178 países. “É preciso cruzar as várias emigrações portuguesas, na medida do possível, para que se não queixe a geração mais antiga, a intermédia ou a mais nova”. O Presidente da República notou estarem em causa “comunidades” e “realidades” diferentes, que fazem surgir o “grande desafio de saber como fazer cruzar estas gerações e estas comunidades, que são uma só mas vivem em tempos, modos, linguagens e preocupações diferentes”.
Plataforma de cooperação
Por sua vez, para o secretário de Estado das Comunidade Portuguesas, Luís Carneiro, que acompanhou os trabalhos de inicio ao fim do Congresso, a criação de uma plataforma “articulada e de cooperação das redes da comunidade portuguesa espalhadas pelo mundo” foi, segundo o Governo, “o grande objetivo deste Congresso Mundial”, disse para adiantar de seguida que “o desejável é que estas redes comecem a trabalhar conjuntamente. Esse é o objetivo futuro: que as redes não trabalhem de ‘per se’. Sejam capazes de se conhecer e de trabalhar articuladamente e em cooperação”, referiu. Para este governante, o fato de o Congresso ter recebido “mais de 500 representantes e protagonistas das diversas redes dos portugueses” da diáspora, permitiu “ao Governo avaliar o percurso que foi desenvolvido durante esta legislatura junto das comunidades”. Segundo o governante, o evento ofereceu ao executivo a possibilidade de estabelecer “um compromisso de prospetiva relativamente ao que pode ser feito e melhorado no futuro, independentemente do titular da pasta das Comunidades Portuguesas”, disse o secretário de Estado, coorganizador do congresso com a Câmara Municipal do Porto e a Ordem dos Contabilistas Certificados. Ainda antes de terminar, Luís Carneiro afirmou que “foi muito significativo que, pela primeira vez, portugueses que estão eleitos nos Estados Unidos, em França, na Austrália, na África do Sul, se tenham aqui reunido com empresários que estão a promover o país todos os dias e a trazer investimento para Portugal, com jovens investigadores que podem dar um contributo imenso, nomeadamente a essas estruturas empresariais. O encontro de todas estas redes é muito significativo e não deixará de produzir efeitos estratégicos futuros”, afirmou José Luís Carneiro. Ainda segundo Carneiro, foi gratificante ver praticamente “todos os ex-secretários de Estado das Comunidades Portuguesas e os deputados eleitos pela emigração” que presidiram aos vários painéis temáticos, porque “as políticas para as comunidades portuguesas, assim como o conjunto das políticas no Ministério dos Negócios Estrangeiros, são políticas de Estado. Não são políticas que estejam sujeitas à partidarização”, finalizou.
Terminou em êxito
A Cidade de Porto acolheu, nos dias 13 e 14 de julho de 2019, nas instalações da Ordem dos Contabilistas Certificados, o I Congresso Mundial de Redes da Diáspora Portuguesa, sob o tema “Por Uma Visão Estratégica Partilhada”.
Nesta reunião de portugueses de cá e de lá, pretendeu-se essencialmente reunir os representantes e protagonistas das diversas Redes dos Portugueses da Diáspora e reconhecer a sua função, quer na comunidade em que se inserem, quer na sociedade dos países de acolhimento. Também o valorizar do seu trabalho e percursos, recolher os seus contributos e visões e, de forma partilhada, continuar a desenvolver e a aprofundar uma estratégia comum que apoie a concretização das aspirações dos Portugueses no Mundo, foi conseguido. Os trabalhos organizaram-se em torno de seis principais Redes da Diáspora Portuguesa: a Rede do Associativismo; da Ciência e do Conhecimento; da Economia e do Desenvolvimento; da Cidadania e dos Lusoeleitos; a do Apoio Local e a Rede dos Órgãos de Comunicação Social da Diáspora. Com 597 participantes oriundos de 40 países dos cinco continentes, este foi um evento congregador, ponto de encontro de histórias de vida, lugar de partilha de experiências, espaço de informação e avaliação das políticas públicas para as Comunidades Portuguesas, e tempo de debate sobre o que une os portugueses em Portugal e no Mundo – em redes geradoras de valor, em afeto e raízes, em projeção e presença internacionais, em todas as dimensões da globalização e em reflexão sobre o que, em todos nós, é simultaneamente único e universal.
“Apertados num território tão pequeno para tantas ambições e vontades, cedo sentimos o ímpeto de partir. E assim alargamos fronteiras”, quem o reconheceu foi o Primeiro Ministro, António Costa que também sublinhou a importância de aproximar comunidades. “Ali onde está cada português. Ali onde está Portugal. Porque é nesses territórios dispersos, onde cada português chega, que estamos todos enquanto Nação”, disse o líder do Governo português.
Nação vigorante
Mas para que essa Nação seja cada vez mais revigorante, é preciso continuar uma ação política que, nesta legislatura, assumiu a diáspora como uma prioridade. António Costa fixou eixos que convém continuar a fortalecer: reforçar os vínculos entre as comunidades, melhorar os serviços que o país dispõe destinados às pessoas que não estão dentro de fronteiras, expandir a rede de ensino do português, criar mecanismos de apoio ao regresso. Porque há muito gente a querer ir, mas também há muita gente a querer regressar. E todos precisam de sentir um país acolhedor em qualquer opção que faça.
O primeiro-ministro disse que “estaremos sempre de braços abertos. Para saber amparar quem vai, para acomodar quem chega”, concluiu. Antes do PM, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, fixou 4 pontos que merecem reflexão: como estamos a adaptar-nos à mudança que a emigração portuguesa regista; como estamos a organizar os serviços para responder aos anseios das nossas comunidades, como estamos a consolidar a ligação entre as comunidades portuguesas e o nosso país, como podemos intensificar o contacto entre as várias redes de forma a aumentar qualitativamente o impacto da nossa ação.
Cuidar da diáspora
Como vincou o ministro dos Negócios Estrangeiros “precisamos de cuidar desta diáspora portuguesa cada vez mais pujante. Mas que ainda não faz parte de uma agenda de todos os portugueses”, considerou prioritário. Se é inegável a nossa vocação para fazer pontes “é imprescindível pôr a render de outra forma esse talento natural. Porque já não se pode falar de uma diáspora, mas de diásporas. Há uma diáspora feita de muitas diásporas”, referiu o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da Republica, deixou mesmo um apelo referindo que “é esse Portugal novo que agora se anuncia, um pouco por toda a parte, que tem de ser vivido de forma diferente por cada um de nós e tem de continuar a exigir uma ação política permanente”, disse.
Destruir preconceitos
Essas singularidades e essas diferenças que nos constroem como identidade, foram também bem explicadas por D. José Tolentino de Mendonça que no final da sua intervenção deixou uma sugestão que retemos. “É importante destruir preconceitos, é necessário escutar melhor a nossa diáspora e abrir espaço para se criar uma reciprocidade generativa”, referiu. Escutar a nossa diáspora, foi isso mesmo que aqui fizeram os representantes das diferentes redes durante os dois dias de Congresso. No final, todos saíram com o dever de missão cumprida, prevendo-se novos eventos bianuais no futuro.