A cantora Linda de Suza, intérprete de êxitos como “Um Português (Mala de Cartão)”, morreu hoje, aos 74 anos, devido a “insuficiência respiratória” na sequência de uma infeção por covid-19, anunciou o agente à agência France-Presse. A artista estava hospitalizada no hospital de Gisors, em l’Eure.
Linda de Suza, cujo nome de nascimento era Teolinda Joaquina de Sousa Lança, teve vários êxitos na sua carreira, entre os quais a canção “Mala de Cartão”.
Nascida há 74 anos em Beringel, no concelho de Beja, emigrou em 1970 para França, onde fez carreira na área da música.
Linda de Suza estreou-se como cantora no restaurante Chez Loisette, em Saint-Ouen, a cerca de 6,5 quilómetros a norte de Paris, onde foi descoberta pelo compositor André Pascal (1932-2001) que a apresentou, posteriormente, ao compositor Alex Alstone (1903-1982).
A etapa seguinte foi a apresentação da cantora na televisão, no programa “Rendez-Vous du Dimanche”, de Michel Drucker, onde interpretou a canção “Un Portugais” (Vine Buggy/Alex Alstone), cujas vendas do ‘single’ atingiram o Disco de Platina em França em 1979.
A cantora assinara, entretanto, contrato com a discográfica Carrere, depois de recusada pela Barclay, e estava lançado o mote da sua carreira com “Um Português (Mala de Cartão)”, na qual cantou os lamentos da saudade de quem deixou o país, seguindo-se o ‘single’ “Uma moça chorava”.
Linda de Suza tornou-se a cantora da comunidade emigrante portuguesa, cantando as suas dificuldades e saudades do país distante, em temas como “J’ai deux pays pour un seul coeur” ou “La Symphonie du Portugal”. No seu repertório incluiu temas do cancioneiro popular, nomeadamente “Lírio Roxo” e “Malhão, Malhão”, e gravou “Coimbra/Avril au Portugal”.
A cantora atuou em Portugal, em 1979, e continuou a bater recordes de vendas na década de 1980, publicando o álbum “Amália/Lisboa” e ‘singles’ como “Canta Português”, “L’Etrangère” ou “Comme Vous”.
A sua história foi adaptada à televisão, numa minissérie intitulada “Mala de Cartão” (1988), protagonizada por Irene Papas (1919-2021).
Na década de 1990, Linda de Suza deu ainda voz a sucessos como “Simplement vivre”, “Tu seras mon père”, “Pars sans un adieu” e “Tiroli, Tirola”.
Do seu repertório fazem parte “Holà! La Vie”, de sua autoria com música de Jean Schmitt, “La Tristesse ne fait de bien à personne”, de sua autoria com música de Vine Buggy, “Rien n’arrête le bonheur”, “Mulher, ó Mulher”, “No olhar do homen que nos ama”, “Les oeillets rouges”, “C’est toi que j’attendais”, “Orfeu Negro”, “Maria Dolores”, “Canta Shimilimila” ou “Nasci para cantar”
A cantora passou por vários contratempos pessoais, que tiveram eco na imprensa: em 2010, tornou públicas as suas dificuldades financeiras e acusou o companheiro de lhe roubar a identidade; na época, afirmou que vivia com cerca de 400 euros mensais, todavia, Linda de Suza voltou aos palcos e, entre 2014 e 2017, realizou várias digressões.
Em 2020, apresentou um novo projeto, “Postais de Portugal”, com qual preparava uma nova digressão que a pandemia de covid-19 obrigou a cancelar.
O Presidente da República evocou a cantora Linda de Suza como “exemplo de determinação” e “um ícone francês da imigração portuguesa e, portanto, um ícone de Portugal”.
Numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, o chefe de Estado refere que “Teolinda de Sousa Lança, que ficou conhecida artisticamente como Linda de Suza, foi uma figura a vários títulos emblemática”.
“Fica na nossa memória como exemplo de determinação e de fidelidade. Foi um ícone francês da imigração portuguesa e, portanto, um ícone de Portugal. A seu filho e netos apresento as minhas sentidas condolências”, acrescenta Marcelo Rebelo de Sousa.
Nesta mensagem de pesar, realça-se que Linda de Suza acompanhou “uma das maiores vagas migratórias portuguesas”, ao emigrar para França em 1970, onde “procurou melhor sorte”.
Chegou a França “já mãe” e lá se tornaria “a portuguesa” por excelência, “dado o seu sucesso como cantora a partir do final da década de 70, que lhe proporcionou discos de ouro e platina e concertos no Olympia”, em Paris.
Linda de Suza manteve “sempre explícitas, nos muitos álbuns e singles que gravou, as referências ao seu país de origem e à sua odisseia pessoal”, simbolizadas na expressão “mala de cartão”, acrescenta-se na nota.