O novo (a)normal

O que é a normalidade no dia-a-dia?
Desde o dia 13 de março estamos com medo,… um medo terrível porque não podemos fazer nada. Podemos estar em plena forma, com um corpo de Deus,… e esta doença pode vos apanhar e matar em 3 dias.
Esta noção de 3 dias é incrível, falei com várias famílias e a história é a mesma…

– O meu pai apanhou esta doença e estava a melhorar de dia por dia, e derepente, em três dias, tudo muda e a saúde cai em três dias, os pulmões deixam de funcionar e o resto é uma história de horror.
Sabendo que a nossa comunidade está a envelhecer e que neste momento estamos todos em perigo. A semana passada, um homem saudável que um amor à vida é inegualavel. Já teve uma doença grave e sobreviveu,… tem 53 anos, faz ginástica todos os dias, corre dois a três quilómetros por dia. Tem um trabalho sensacional e adora a vida.

Foi a França por causa da companhia no início de março. Foi lá e fez o que foi dito para ele fazer, voltou para o Canadá, sentiu-se muito bem.

Falei com ele por telefone sabendo se ele estava bem, e disse-me que está número um.

14 dias depois tudo mudou, ele estava internado no hospital, não podia falar e o seu corpo o deixou, morreu sozinho, sem os seus filhos, nem a sua mulher.

O hospital não deixou ele dizer adeus a ninguém. Esta história é uma história de horror. Sabendo que muita gente está como ele,…
Os números estão aumentando e não podemos fazer nada. Fiquei de boca aberta quando vi a notícia do Sr. José Oliveira faleceu a semana passada.

Um homem que amava cantar, brincar e jogar.

Eu me lembro como se foi ontem que fui a casa dele, e cantamos juntos uma das suas canções que ele adorava.

Brincando, brincando,… eu gostava muito dele porque ele era um livro aberto, se ele gosta de ti, ele o dizia na tua cara, se queria beber um copo, bebia. Ele era um homem que eu o admirava muito.

Vou sentir muito a sua falta nas festa portuguesas. Adeus meu amigo.

Esta doença, Covid-19, está nas residências dos idosos e ele também apanhou esta doença e 80% da residência estão afetados.

As pessoas que trabalham nem podem voltar para casa, e devem ir a um hotel viver lá para não dar esta doença terrível a toda a sua família.
quinta-feira vi na televisão que uma enfermeira morreu e ele não era muita velha. Ela adorava o seu trabalho, eu trabalhou até à última.
Eu a compreendo porque é difícil achar um trabalho que gosta. Quando tu acordas, a todos dias, e que estás com cheia de vontade de ir trabalhar, é realmente um sentimento positivo que tens e que gostas do teu trabalho.

Muitas destas enfermeiras vão a estas residências e vão ajudar os idosos a ter um bom serviço digno deles. Mas vejo a todos os dias que não é fácil.

A todos os dias vejo o Primeiro-Ministro do Quebeque e do Canadá falar do que se passa com esta doença. Há mais de um mês (45 dias) que estamos presos em casa. Eu vou trabalhar escondido no jornal, preparar o jornal da quarta-feira e do sábado e acho que em toda esta altura, não vi nada de positivo.

Todos os dias vejo 70, 80, 90 pessoas que morreram, a economia está cada vez mais no vermelho. Conheço dois restaurantes que não sabem como é que eles vão reabrir porque há um custo enorme para fazer recomeçar a máquina da restauração.

Fiquei muito feliz de ver que esta semana três restaurantes portugueses reabriram, Ma Poule Mouillée, Douro e Aldea para encomendas fora e já é muito positivo para nós, 3 grandes restaurantes bastante conhecidos pela comunidade e por os quebequenses. Hoje em dia os três governos falam de voltar a uma vida normal, com a reabertura dos negócios, das escolas e da construção em geral. Acho muito importante de reabrir a cidade mas qual será o preço desta reabertura? E, a vida normal ficará um vida completamente ANORMAL com máscaras por todos os lados.

Artigo escrito por Sylvio Martins