Portugal e o Oscar

Portugal detém o título de país que mais indicou filmes ao Oscar. Desde 1980 foram 36, sem nunca ter sido nomeado. O quê, para muitos, pode parecer um desprestígio, para outros é um sinal claro da força do mercado audiovisual lusitano.

Neste ano, “Listen” é o filme escolhido, por um júri especializado, para representar o país e conta os dramas vividos pelas famílias portuguesas para emigrar para o Reino Unido. O tema se torna ainda mais interessante para nós que vivemos a realidade do imigrante no Canadá, existe uma expectativa natural de nos identificarmos com a trama. A obra de Ana Rocha de Sousa, que conquistou cinco galardões de ouro no Festival de Veneza, concorreu com outros três excelentes filmes.

As outras obras selecionadas foram: “Mosquito” de João Nuno Pinto, que retrata o pesadelo de um soldado português perdido na África no início do século XX; “Patrick”, de Gonçalo Waddington, sobre os traumas sexuais de uma infância roubada e, por fim, “Vitalina Varela”, de Pedro Costa, que narra a história da mulher cabo-verdiana que chega a Portugal três dias depois do funeral do marido. Há mais de 25 anos que Vitalina esperava o seu bilhete de avião. A direção de fotografia e iluminação desta obra são um show à parte e dão um clima ao mesmo tempo assustador e cativante.

É claro que a cultura é um fator transformador para as sociedades. Além de representar o momento histórico do ano de suas produções, as obras podem provocar um novo pensamento, educar e permitir o surgimento de outras tendências. Alguns países democráticos, atualmente estão direcionando as temáticas culturais para obras mais conservadoras e, até mesmo, dificultando as leis de incentivos culturais, numa tentativa clara de direcionar a sociedade e impedir a produção de obras que permitam abordar temas progressistas. Portugal, ao contrário, está buscando potencializar a sua produção cultural, apoiando através de ferramentas governamentais os produtores de conteúdo na língua portuguesa e buscando cada vez mais vitrines para as suas obras.

A cosmopolita Montreal com sua incrível capacidade de mesclar diferentes culturas e ainda servir de elo entre o tradicional e o moderno, se torna um excelente cenário para a produção de eventos, Colabs e a criação de novas obras. A juventude portuguesa, inspirada pelas atuais produções culturais, está cada vez mais ávida por novas linguagens e experimentações artísticas que se conectem com suas origens, justificando a criação de festivais e incubadoras de tecnologia, mas este será um assunto para uma próxima pauta.